Comunicação X Violência
A violência virou rotina. Esta é a constatação que vemos hoje ser aceita e entendida como fato cotidiano, normal. Há algum tempo, quando um noticiário apresentava apenas barbáries, era rotulado como sendo populista, brega, de mal gosto. Atualmente, todos os canais, o tempo todo, apenas se interessam em ser sensasionalistas, em mostrar que a violência é que é a manchete principal, e que o bandido agora é o destaque.
Não que a violência não esteja realmente por todo lado, mas é como ela vem sendo enaltecida e o que se pode conseguir quando é utilizada. Ocupa horários onde se poderia mostrar valores, cultura ou cidadania, pois são horários que jovens e crianças estão abertos para captar tudo que lhes são mostrados.
Os horários nobres são usados também para mostrar cenas explícitas de violência não apenas física, mas também institucional e moral .
Mas o que esses acontecimentos podem nos alertar é que algo de muito grave vem acontecendo e não é nas ruas ou nos guetos onde muitas vezes presenciamos essas cenas, mas nos lares onde tudo se inicia e que, na maioria das vezes, acontecem situações extremas de violência de toda ordem e que são silenciadas.
Podemos até pensar nos fatores que desencadeiam essa prática como sendo desigualdades diversas como: falta de oportunidades de emprego legítimo e não "bicos" como muitas pessoas precisam se sujeitar; falta de educação adequada, com escolas que realmente formem cidadãos; falta de princípios éticos que deveriam vir principalmente de nossos governantes. Isso para citar alguns motivos prováveis, porém o que realmente está faltando é a - comunicação- e aqui eu gostaria que todos nós pudéssemos ter um momento para refletirmos, antes de argumentarmos, porque certamente muitos irão dizer: Mas estamos na "Era da comunicação", tudo gira em torno de contatos cada vez mais rápidos e de maneira cada vez mais tecnológicas.
Isso é constatado até mesmo por quem está lendo esse texto agora. Antes um livro para se tornar público, o escritor ficava durante meses diante de uma máquina de escrever, muitas horas por dia fazendo e refazendo texto, pois era tudo corrigido manualmente, tantos erros ortográficos como a própria configuração, para depois ser entregue a uma gráfica que levava mais outro tanto de tempo para publicar, fazer a logística que era muito demorada, para só depois de meses ser lançado o livro tão esperado, com aquela capa bonita e o cheiro característico das folhas do saber.
Mas, hoje, se escreve direto no computador onde já é feita a correção, formatação e o envio ao destinatário em minutos e está à disposição de quem se interessar.
Só que não é dessa comunicação que quero destacar, mas da simples e saudável conversa em casa, dos pais com seus filhos, com tempo para aconselhar, perceber suas dificuldades, seus desejos, ter tempo para olhar nos olhos, ter argumentos para orientar, saber quando é hora de falar, saber ouvir sem criticar, entender que são pessoas únicas e que necessariamente não precisam ser o que os pais querem, saber respeitar suas vocações, entender seus sentimentos, estar ao lado em suas fraquezas, ser capaz de ver nas entrelinhas dos acontecimentos do dia que algo está diferente.
Hoje em dia os pais estão envolvidos em muitas coisas, algumas vezes, até mesmo para conseguir cumprir os compromissos da casa, pois se comprometem com dívidas que ultrapassam seu salário; ou quando em situação de doença de um filho, pode obrigar horas em filas para atendimento e quando isso fortuitamente ocorre, os gastos com medicamentos consomem todo ou quase todo ganho da família e aí mais um dia se foi sem poder atentar para os demais filhos que ficaram com vizinhos ou até sozinhos.
Sem contar os casos onde pais só percebem o envolvimentos dos filhos com drogas quando o traficante começa aparecer para receber ou quando relacionamentos doentios com supostos amigos ou namorados perversos, começam a tomar proporções incontroláveis.
Temos a tendência de ver com clareza os problemas dos outros, mas na grande maioria das vezes, esses problemas que detectamos são inconscientemente também nossos problemas, que defensivamente queremos incobrir e só vemos no outro. Só que eles continuam a existir e é preciso encará-los e saber que são monstros mas que podemos domá-los, com uma conversa amistosa, com sinceridade e acima de tudo humildade para reconhecer que, não é só na casa do vizinho que mora a violência, e que ela se manisfesta de muitas maneiras, não apenas com desinteligências, brigas e desavenças, mas a de pior grau é a silenciosa, que surge entre quatro paredes, bem debaixo de seu teto e que você não vê.
Como é feita a comunicação com nosso interlocutor. Geralmente, estamos atentos e com humor apurado quando conhecemos pessoas novas ou estamos em situações formais. No entanto, vivenciamos de maneira fria, ríspida e até sem envolvimento afetivo quando estamos com nossos familiares, ao invés de, dedicar-lhes mais tempo e atenção como seria o esperado.
Muitos filhos chegam em casa e vão direto para o quarto, se alimentam frente a TV ou computador e ficam em "suas cavernas" sem que ninguém os questione, que ninguém venha a saber como foi seu dia ou expressar o contentamento por estar em casa, detalhes simples mas que fazem muita diferença.
Em situações onde surgem momentos de agressões verbais é preciso que o outro lado envolvido seja capaz de manter-se com equilíbrio emocional e não revidar aos insultos e contornar a situação de maneira onde não estimule aquele comportamento explosivo, levando-o a uma comunicação esclarecedora. O que nem sempre acontece, pois no auge da discussão ,outros insultos são pronunciados, o nível da voz torna-se alto e áspero e nesse momento pode até culminar com agressões físicas chegando até a casos de homicídios.
Essa situação pode ser contornada, pois ela nunca surge do momento mas é alguma coisa que já vem se agravando aos poucos e nenhum dos lados quis ceder ou contornar, e então num dado momento por uma coisa qualquer, explode.
Os filhos acham que os pais têm que fazer tudo que querem e aceitar tudo sem contestar. Já os pais querem os filhos comportados, calados e que não os questionem e não os aborreçam.
A convivência quando praticada de maneira saudável e respeitando o espaço e o pensar do outro, conduz à pratica da boa comunicação e elimina atos desrespeitosos e de consequentes agressões verbais e físicas.
Clauss Otto Scharmer, consultor internacional do MIT- Instituto de Tecnologia de Massachusetts- ressalta em suas palestras a necessidade das pessoas estarem sempre de mente, coração e vontade abertas por ser essa a base para o bom relacionamento, pois estamos sempre enfrentando 3 vozes internas que nos impedem de manter a harmonia, que são:
A voz do julgamento - não escutamos o outro
A voz do cinismo - não nos colocamos no lugar do outro
A voz do medo - não procuramos mudar, não cedemos.
Portanto é preciso ficarmos atento para esse alerta que nos incomoda e tira nossa tranquilidade interior. A violência está atingindo patamares onde a insegurança e o medo podem trazer sérios desequilibrios, principalmente de ordem emocional a todos nós. Temos cinco sentidos preciosos que podem, mesmo sem muito conhecimento intelectual, nos orientar de maneira explendida.
Ouça...com atenção. Não julgue.
Olhe...nos olhos. Passe confiança
Cheire...sinta o outro. Aproxime-se
Fale...com amor. Expresse seu sentimento
Toque...com carinho. Mostre-se presente