A SOCIEDADE REFLETIDA NO ATAQUE NO REALENGO

Um homem entra armado em uma escola, dispara contra inúmeras crianças e depois se suicida. Um ato brutal. A população fica chocada, as autoridades buscam explicações e a mídia propaga todo tipo de informação (falaciosa ou não) relacionada ao caso. Fala-se que a culpa é da religião do jovem (supostamente, o Islamismo), de distúrbios mentais, do fato do rapaz ser filho adotivo, etc. Como sempre, a sociedade procura um culpado. É necessário crucificar algo ou alguém.

Essa sede por “justiça” nada mais é do que um sintoma da sociedade doente em que vivemos. Uma sociedade em que o individualismo prevalece. Não toleramos a diferença, aquilo que foge do padrão. Somos pré-dispostos a rejeitar qualquer diferença, seja ela de cunho religioso, físico ou ideológico. Quem foge ao modelo dominante (homem branco de classe média, magro, de estatura mediana, heterossexual e cristão) é massacrado, alvejado por todos os lados. Que fique bem claro: não digo que a natureza humana é assim. O que quero mostrar, é que somos condicionados a isso pelo sistema.

Ora, vivemos no ocidente de Jesus-Cristo-Nosso-Senhor, que nos é imposto desde o nascimento através do batismo e nos persegue por toda a vida através de imagens religiosas, feriados, programas televisionados e mais uma gama enorme de fontes. Logo, quem escolhe outro deus (ou nenhum), é visto como herege adorador do demônio e coisas do tipo.

No que diz respeito ao padrão de beleza, a história é semelhante. Somos bombardeados por imagens de homens musculosos, mulheres magérrimas, cabelos lisos, rostos simétricos e artigos de vestuário “da moda”. Se o indivíduo não se enquadra nisso, é hostilizado. O mesmo vale para a orientação sexual. A televisão, os livros, a Igreja e até a escola pregam o heterossexualismo monogâmico. É homossexual? É a favor da poligamia? Então automaticamente é taxado como aberração. Também é assim no que diz respeito à origem étnica e à classe social. Qualquer estranhamento para com o outro é motivo para a inferiorização do mesmo. Em termos atuais: tudo é motivo para bullying.

Como todos sabem, o bullying muitas vezes prejudica todo o desenvolvimento emocional e social do indivíduo, podendo causar diversos transtornos psicológicos (a depressão, por exemplo). Logo, não é de se estranhar que o acumulo de toda essa cobrança e abuso social durante os anos, resulte em algo trágico como o ataque no Realengo.

Não tenho a intenção de defender o agressor ou justificar seu ato. O objetivo é mostrar que ele também é, juntamente com as crianças que foram assassinadas, vítima desse canibalismo social a que somos submetidos pelo individualismo pregado pelo sistema. Sistema esse que é alienador, moldado para manter-nos presos aos vícios do individualismo.

Enquanto não nos libertarmos desse sistema, enquanto continuarmos valorizando essa individualidade irracional em detrimento a coletividade, continuaremos sendo responsáveis por tais atrocidades.