O direito de não sentir medo
Na última semana, na aula de Oficina de Leitura da faculdade, a professora nos trouxe uma matéria em que se discorria sobre a diferença de perfil dos jovens contemporâneos, pacíficos e direitistas, em relação aos antigos revolucionários das décadas passadas. No corpo da matéria, alguns argumentos mostravam que o jovem dos dias atuais se preocupa com questões muito pontuais: trabalho, estudo e família.
“O jovem ficou velho?”, é a pergunta que fica. Não, não ficou. Segundo o artigo, é apenas esperteza pragmática, com toques de sabedoria. O texto diz que o cenário do país atualmente é amedrontador, com a violência espalhando-se e a falta de perspectiva dominando, enquanto o desemprego atinge os jovens e, com muito mais vigor, os mais pobres. Até este ponto, não questionei. Todas essas afirmações são verídicas, basta assistir a um telejornal para confirmá-las. No que tange à qualidade de vida, nosso país pouco evoluiu, ao passo em que o crescimento econômico da nação só se faz aumentar.
O jovem contemporâneo quer (e aqui me coloco como exemplo), ao invés de revoluções e estardalhaços, apenas o direito de controlar sua própria vida, que cada vez mais fica sob o controle de uma sociedade violenta e banalizada. Apenas o direito de prosperar, de confiar em si mesmo, e não em salvadores da pátria; soluções utópicas não o atraem mais. Ele quer nada além do direito de não sentir medo, de não viver coagido por um mundo exigente, extenuante e violento.
Em outra parte do texto abordado, ficava a afirmação: “Nasceram, em suma, num país sem esperança, [...] com escolas ainda piores do que já foram.” Será? Quem argumenta esta afirmação é um adulto, não um jovem. País sem esperança? Escolas ainda piores? Não. Então é essa a visão que os adultos têm do país atualmente? Que voltemos então para a escola que usava a palmatória, ou então para a ditadura militar, e o problema estará resolvido! Não estará. Caros adultos, os jovens não pensam que o país está sem esperança. O Brasil ainda precisa fazer muita lição de casa no que diz respeito à educação, mas esta não está pior do que antes. É triste, para o jovem, ver que as gerações passadas não acreditam na mudança.
É através do olhar dos mais velhos que me pergunto: como podem estes adultos sem esperança terem as rédeas da nação? Talvez seja por isso que não se evolui. A política está tomada por adultos assim, o Congresso e o Parlamento são compostos por este perfil. Poucos são os jovens que chegam ao poder, para refrescar a falta de perspectiva. Eles são capazes de renovar, enriquecer. Tomemos como exemplo a deputada Manuela D’Ávila (RS), que nas últimas eleições fez-se a mulher mais votada do país. Seus eleitores? Os jovens. Eles estão cansados de gente sem esperança. É preciso que o jovem chegue às entranhas do governo, que mostre suas perspectivas e que deixe claro que ainda tem fé na mudança. É preciso que se busque a descoberta de novos caminhos, de autonomia, mas sem utopias revolucionárias e promessas milagrosas. Segundo nós jovens, isto é o que significa sonhar.
[publicado no jornal Zero Hora digital em 04/04/2011]