As faces da verdade

     Na última semana de março de 2011, foram publicadas no jornal Folha de São Paulo algumas reportagens denunciando ilegalidades nas vendas de concessões de emissoras de rádio e televisão (edições de 27, 28 e 29/03/11), revelando a existência de inúmeras concessões em nome de “laranjas”, pessoas com renda incompatível com os valores pagos ao governo por essas concessões. São funcionários públicos (de baixo escalão, é claro), cabeleireiras, aposentados, donas de casa, entre outros, pessoas que emprestam seus nomes para políticos e igrejas, que por sua vez, não podem figurar como proprietários das emissoras de rádios e televisão. Sem falar nas revendas ilícitas dessas concessões. Casos que passaram agora, a ser investigado pelo Ministério Público Federal.

      Isso me faz lembrar um documentário, feito pela BBC de Londres, chamado “Muito além do cidadão Kane”(1993), que fala sobre a mídia televisiva no Brasil, mais especificamente, a Rede Globo de Televisão, traçando uma parábola entre o personagem do filme “Cidadão Kane”(1941) e o ex-presidente e fundador da emissora brasileira, Roberto Marinho. No filme, um magnata da comunicação manipula notícias para influenciar a opinião pública.

      A imprensa não transmite os dados da forma como são extraídos de suas fontes, ela transforma os dados em informação, mas infelizmente o faz de maneira tendenciosa e sem imparcialidade. Informações essas que, muitas vezes, declinam aos interesses políticos e/ou religiosos, e esquecem-se que o Brasil é o país da diversidade, da miscigenação, das várias religiões, um país onde deveria prevalecer a tolerância e não a imposição de ideias e a manipulação da opinião pública.

      Precisamos ter claro que não queremos a paridade de opiniões e sim do respeito à opinião alheia. É preciso que se permita às pessoas formularem seus próprios conceitos em relação a este ou aquele assunto e não induzi-las a pensar desta ou daquela maneira.

     Cabe à cada um discernir sobre o que é fato e o que é notícia, saber pra qual lado pende os veículos de informação para que se possa contrabalançar o que é transmitido.
     Ser bem informado não é obter muita informação, mas obter informações com qualidade, fidedignas e imparciais para que possamos com senso crítico formular nossas próprias ideias e opiniões.