Sim, é verdade: qualquer miserável tem um carro.
Em outro texto que escrevi, "Ex-luxo na mão do povo quase sempre dá em porcaria", compararam-me a Luís Carlos Prates. Por não saber quem era a pessoa citada, fui pesquisar. Encontrei o vídeo intitulado "hoje qualquer miserável tem um carro". E preciso agradecer de coração às pessoas que mencionaram o jornalista em seus comentários. Se não fosse por isto, eu não teria tido a imperdível oportunidade do acesso à opinião dele.
Enquanto assistia ao vídeo, fui lembrando de vários episódios absurdos de imprudência no trânsito das ruas de minha cidade. E concordo com as palavras de Prates. Acredito também que qualquer miserável pode ter um carro. Mas discordo em um ponto com ele: qualquer miserável, pode, sim, mas não é de hoje. Isso já há muito tempo! Qualquer pessoa menos favorecida dos miolos, sem qualquer preparo psicológico, sem juízo, sem discernimento, sem sequer ser dotado de capacidade para interpretar uma placa de trânsito pode, sim, ter um carro.
Certo dia, eu pedalava numa rua do centro, entre a delegacia e a praça da igreja de São Benedito. Uma madame, dirigindo um carrão preto importado, descia a avenida e não parou no cruzamento. Para não virar chouriço, tive eu que fazer a gentileza de parar a bicicleta para que ela pudesse passar com sua luxuosa carruagem. Fiz sinal de reverência, tirei da cabeça um chapéu imaginário e exclamei : "s'il vous plaît, madame!". Os brincos dourados brilhavam, assim como o colar de pérolas que ela usava. Completando o conjunto, um belo vestido azul claro. Olhei bem para a cara dela, mas ela não olhou para mim. "Merci beaucoup!" - tentava ainda mostrar cortesia. Nada. Como vi que ela não ia mesmo parar o carro, gritei com toda a força contida nos pulmões: "au revoir, madame de merde!". Nem uma buzinadinha. Nada. A madamezinha miserável não deu atenção nem para mim, nem para minha polidez, nem para meus apelos finais.
A frase do jornalista se aplica perfeitamente ao comportamento deplorável desta senhora. Mesma sensação eu tenho ao notar como grande parte da juventude daqui torra dinheiro para turbinar seus carros, colori-los e ampliar a potência do som. Já é triste quando o jovem tem dinheiro para isso ou é bancado pelo papai para o "hobby". Pior ainda é quando a situação financeira é desfavorável e o patinho se endivida, devendo até o elástico das ceroulas para poder mostrar que também é "bonito". O gasto é inútil e, na maioria das vezes, prejudicial para os moradores ou transeuntes da localidade onde o miserável estaciona o carro para se mostrar e entregar para eles um presente de grego.
É inimaginável o número de vídeos, documentários, arquivos e sites existentes cujos conteúdos dizem respeito à educação no trânsito. E o Código de Trânsito Brasileiro está disponível gratuitamente para qualquer cidadão. A cada dia o acesso à informação fica ainda mais fácil. Por isso eu peço: tenha consciência! Use a cabeça! Não seja você também um miserável.