CASO TRISTE

Hoje não posso postar um poema como certamente todos esperariam. Afinal este era meu costume. Hoje preciso abordar uma tragédia.

Certamente todos ficaram sabendo do grave acidente acontecido em Santa Catarina, que vitimou 26 pessoas sendo a absoluta maioria moradores de uma comunidade interiona do Rio Grande do Sul, mais precisamente, Linha Salto, no munícípio de Santo Cristo. A citada localidade fica a apenas 15 Km de onde resido, que é na cidade de Santa Rosa.

Tive fortes vínculos com essa comunidade, onde, durante dois anos lecionei em escola municipal, imediatamente antes de vir para Santa Rosa, no final de 1978. Entre as pessoas vitimadas estão: um colega professor, aposentou-se na sexta-feira passada, véspera da sua última viagem, a de sem volta; vários alunos que alfabetizei; outros grandes amigos, que naquele tempo eram jovens com quem me envolvia esportiva e culturalmente e filhos desses mesmos amigos. Hoje fui ao velório e não dá para descrever o que se sente quando se passa por caixões em cujas pontas estavam coladas folhas com os nomes de cada pessoas, sendo três dos mesmos lacrados em função do estado mutilado dos corpos.

As comunidades interioranas do RS, como no caso dessa, são constituídas de famílias de pequenos agricultores, criadores de suínos e/ou de gado leiteiro. Como Santo Cristo foi colonizado por descendentes de imigrantes alemães e praticamente todos de religião católica, a vida comunitária, a organização e apoio familiar são uma marca muito forte. Os fins de semana servem para encontros religiosos, culturais e esportivos, notadamente futebol, bocha e bolão. No caso específico, a comunidade possui além de uma capela e escola, um salão de festas com canchas e um campo de jogo adjacente.

É quase impossível imaginar que os líderes da comunidade estão todos vitimados e não há pessoas no local que não foram afetados com a perda ou que tenham pessoas feridas hospitalizadas.

O grupo de mais de 40 pessoas estava se deslocando de ônibus ao Paraná, região de Marechal Cândido Rondon, onde participariam de jogos de bolão no sábado e domingo. Próximo a São Miguel do Oeste em SC o ônibus foi atingido por uma carreta bi-trem carregada com tábuas de madeira. Todas as informações estão no site do www.clicrbs.com.br .

Considero apenas o seguinte: a vida é cada vez menos respeitada nas estradas. A rodovia em questão deveria ter ao menos três pistas naquela região serrada cheia de sinuosidades. Agora o governo manda fazer estudos das condições da rodovia.

Não há como entender porque isso não foi feito antes, se em 2007, no mesmo trajeto outra tragédia causou 27 vítimas. Desta vez foram 26 e entre os feridos pelos menos duas pessoas correm risco de não se recuperarem e virem a falecer, sendo que um jovem é filho do prof. Ildo Schmidt, aquele colega que não foi possível ver no velório por estar de caixão lacrado.

Há tantas incongruências na nossa vida, no nosso sistema societário que não se pode admitir. Isso foi uma das muitas tragédias que repercutiu. Mas quantas mortes ocorrem com vítimas a cada dia em que falecem uma, duas e às vezes até mais pessoas, somando milhares durante o ano? Até quando as leis continuam sendo desrespeitadas? Quando funcionará a fiscalização de circulação?

Enquanto isso rola o carnaval. Os foliões têm preferência nos noticiários. O mais que interessa é BBB!

A vida pede socorro! A vida apela, mas eu estou rouco e não posso mais gritar: Salvem nossas vidas quando precisamos nos locomover nas estradas!