Plus size: ser ou não ser, eis a questão?

Eu navego pela net em busca de um vestido que caia bem em mim. Devido às minhas medidas não é fácil encontrar um modelo que me agrade. Estou acima do peso e necessito de uma roupa de festa. Nessas andanças vejo coisas meio que absurdas. ‘As magrelas não estão com nada, viva as plus size!’... ‘As gordinhas é que são gostosas, recuse imitações’... ‘Tenha onde pegar, prefira uma gordinha’... É uma guerra entre pesos pena e pesos pesados?

Há uma mudança de comportamento e ela é nítida. Mas o que realmente acontece agora? Eu procuro uma categoria para que eu me adéqüe às novas medidas da moda? Penso que toda mudança de comportamento deve ser feita de dentro para fora. Se você não muda sua maneira de pensar sobre si mesma, nunca vai conseguir ser realmente feliz.

As pessoas estão cada vez mais aderindo à bandeira plus size sem saber o que realmente isso significa. Isso, pra mim, significa ter mais roupas do meu tamanho no mercado, poder entrar nas lojas e ouvir da vendedora que tem sim o meu número disponível daquele modelo que está vestindo a manequim na vitrine. Ser plus size significa conscientizar as indústrias que há necessidade de se rever seus conceitos.

Roupas tamanho especial. Eu não sou uma pessoa ‘especial’. O termo especial vem sendo usado há alguns anos para referir-se às pessoas com necessidades especiais, com alguma deficiência, algo que as impediria de viver normalmente. A ‘gordura’ não me impede de viver normalmente, eu uso apenas alguns números maiores que a maioria das pessoas usa. E tenho dificuldade de encontrar roupas nas lojas que não sejam pretas ou cinzas.

Essa seria apenas a reivindicação de pessoas que precisam se vestir, vestir-se bem, sentir-se bem. Todavia que há uma guerra entre ‘classes’. É isso que entristece. Porque o que parece é que o que realmente importa é: preciso caber numa categoria que seja aceitável pela sociedade.

Eu quero roupas bonitas, coloridas, bem feitas, que juntamente com o meu astral façam meus olhos brilharem! Eu quero encontrar infinitos modelos e cores para encher meu guarda roupa para que toda vez que eu queira usar algo diferente, eu possa usar. Eu não quero ser aceita pela sociedade porque faço parte de uma categoria que é ‘aceitável’. Eu vou ser aceita por aquilo que eu represento na sociedade, pelo trabalho que eu desenvolvo, por tudo o que sou. Não pelo tamanho que visto.

O eu quero é que me olhem sem discriminação. Entretanto, primeiro, tenho que saber como eu me vejo. Eu me vejo como uma vencedora que, mesmo sendo órfã de pai, conseguiu superar todos os obstáculos que a vida impôs. Vejo-me como mãe carinhosa e batalhadora. Esposa parceira e empreendedora. Filha preocupada e presente. Profissional competente e comprometida. Enfim... Eu sou feliz, mesmo com meus muitos quilos a mais. Eu sou feliz pelo que consegui até aqui. E sou feliz também por ter consciência do meu potencial, pelos planos que faço e pela família, filhos, amigos, emprego e principalmente pelos meus sonhos.

É preciso ser feliz. Independente de fazer parte de uma categoria aceita pela sociedade. Primeiramente preciso ser aceita por mim mesma. Essa é a questão.

Milena Campello
Enviado por Milena Campello em 06/03/2011
Reeditado em 06/03/2011
Código do texto: T2831509
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.