Erros na avaliação de um profissional

Prólogo:

"Com a vingança, o homem iguala-se ao inimigo. Sem ela, supera-o." (Francis Bacon).

"A vingança geralmente atinge dois objetivos: ou traz consolo a quem sofreu a injúria, ou lhe traz segurança para o futuro." (Sêneca).

“As ações reconhecidas como erros e acertos deram-me a experiência, como galardão, adquirida nas relações interpessoais” (Wilson Muniz Pereira).

Nas empresas públicas ou privadas, nas autarquias ou em outros sistemas de governos; nos poderes constituídos; nas Forças Armadas; nas Forças Auxiliares; nas universidades e outras entidades de ensino; enfim, onde houver uma hierarquia institucionalizada ou não haverá sempre um erro de avaliação de valores, da competência e do profissionalismo.

No texto “O faxineiro autodidata”, publicado no Recanto das Letras em 31 de julho de 2008 eu escrevei meio sorumbático:

“... minha avaliação e/ou desempenho funcional sempre foi com base nos meus pequenos deslizes. Nunca fui avaliado pelo que era capaz de executar...”.

Ora, não é nada fácil avaliar um ser humano sob os aspectos: Desenvolvimento de tarefas, Iniciativa, Controle, Coragem, Desempenho, Realização, Persistência, Energia, Organização, Método de Trabalho, Disciplina, Criatividade, Flexibilidade, Impulsividade, Empreendedorismo, Gosto por desafios, Foco em metas, Lealdade, Equilíbrio, Comunicação, Sociabilidade, Relacionamento Interpessoal, Maturidade, Temperamento, Capacidade de atenção, Capacidade de liderança, Inteligência, Busca resultados, seus e da equipe, Raciocínio verbal, lógico e abstrato, Administração de tempo, Ritmo e qualidade do trabalho, e tantas outras qualidades essenciais ao desempenho de determinadas funções civis ou militares.

Essa dificuldade está na capacidade do avaliador que nem sempre se prepara para a nobilíssima função de julgador (juiz).

A Avaliação de Perfil Psicológico e Profissional possibilita a análise das características pessoais, aptidões, potencialidades e talentos de uma peça fundamental em uma organização: O HOMEM! Os principais erros que se cometem nas avaliações dos profissionais são:

ERRO PELA BENEVOLÊNCIA – Essa avaliação é injusta e errada porque privilegia o torpe e incompetente em detrimento do melhor profissional. Essa disposição para a complacência, a tolerância, a condescendência, é danosa porque incentiva a acomodação.

Leia o exemplo que ora menciono: Faz muitos anos tive um comandante que era membro da Egrégia Maçonaria. Sempre ao fim de cada ano os comandantes em todas as Organizações Militares (OM), à guisa de incentivo e/ou reconhecimento, agraciam seus subordinados com um elogio que é publicado em Boletim Interno (BI) e depois transcrito nas alterações (histórico dos militares), que são semestrais.

Esse indivíduo não confiável, sem preparo para o cargo de chefia, por ser desprezível, vil, medíocre e estúpido (com o passar do tempo isso se evidenciou com provas irrefutáveis) concedeu onze elogios a onze sargentos, todos seguidores dos princípios maçônicos.

Por ironia e erro crasso ele havia sido iniciado na entidade que cultiva o aclassismo por ser uma entidade fraternal, pois prima pelos princípios da liberdade, democracia, igualdade e fraternidade.

Ainda hoje eu me pergunto como foi possível àquele energúmeno se infiltrar em uma entidade - Maçonaria - cujas únicas exigências são que o candidato possua um espírito filantrópico e o firme propósito de tratar sempre de ir em busca da perfeição.

Claro que todos os agraciados eram merecedores das palavras elogiosas de fim de ano. Todos eram excelentes profissionais!

Todo profissional gosta de ter e sentir seus méritos enaltecidos e reconhecidos. Isso faz com que a autoestima vá ao cimo da glória com a massagem no ego que se aquece para outras conquistas.

Todavia, por que os demais profissionais (quatorze sargentos) todos extremamente dedicados ao melhor serviço da Pátria NÃO FORAM lembrados naquele fim de ano? Apenas pelo fato de NÃO SEREM maçons?

Sabemos que os Maçons devem "enquadrar as suas ações pelo quadrado da virtude" e aprender a "circunscrever os seus desejos e manter as suas paixões, dentro dos limites, para toda a humanidade".

Ora, nem todos os humanos podem ter esse honroso privilégio. Teria havido, nesse caso, uma coincidência de fatos? Quando o negligente comandante elogiou apenas os Maçons sob o seu comando cometeu o erro da avaliação pela benevolência!

Comentei essa desidiosa ação do comandante relapso com um amigo. À época ele fora um dos beneficiados porque era um dos onze profissionais elogiados. Ele reconheceu o erro de avaliação pela benevolência e disse: "A água só corre para o mar" e "Os cães ladram e a caravana passa".

Entendi os provérbios ou refrões como sendo: Que importa bendizer ou maldizer da vida? Afortunada ou dolorosa, fecunda ou vã, ela tem de ser vivida. Cada chefe de um grupo cuida dos seus afins. Essa infâmia sempre foi e jamais deixará de ser cometida.

ERRO DE TENDÊNCIA CENTRAL – Esse modo de “passar a régua” e avaliar todos pela média cinco, quando a nota varia de um a dez, é a lambança ou trabalho malfeito em uma avaliação quando medíocres e competentes são nivelados pela média. Isso ocorre, sistematicamente, nos períodos de avaliações em que o chefe avaliador foi recém-empossado.

Ora, se eu não conheço o desempenho funcional de meu subordinado, se não convivi com ele pelo tempo mínimo necessário para aquilatar sua capacidade laboral, como posso mensurar sua competência profissional, social e atitudes no seio familiar? Não se pode avaliar quem não se conhece!

ERRO DA SEVERIDADE – Certa ocasião ouvi uma conversa entre dois tenentes temporários que serviam na mesma Organização Militar onde eu servia e era 2º sargento. Dizia um deles:

- Quando eu for dar o conceito haverei de me lembrar de quando ele passou por mim e não prestou a continência. – o outro tenente, menos severo, disse entredentes:

- Mas você já chamou a atenção dele por essa transgressão. A avaliação profissional não deve se basear em um deslize irrelevante e já resolvido. Esse sargento que você quer prejudicar é muito bom em Armamento, Munições e Tiro entre outras boas virtudes que ele possui. Tenha isso em consideração quando for conceituá-lo. Não seja tão severo!

Aquele tenente pacificador passou, a partir daquele instante, a ser o meu líder. O outro passei a enxergá-lo como um protervo sem as mínimas condições de ser um chefe ou de trabalhar em equipe. Claro que esse sentimento de vingança, com o intuito de prejudicar uma pessoa por um pequeno deslize caracteriza o erro da severidade.

Este meu texto tem por referência o que foi publicado pela Equipe de Redação do Momento Espírita com base no cap. O prejuízo, de autor desconhecido, do livro Histórias para o coração do homem, de Alice Gray e Al Gray, ed. United Press.

É comum esquecermos, com muita rapidez, dos benefícios recebidos. Basta que o amigo ou alguém que sempre nos estendeu a mão, certo dia nos diga não. É o que basta para considerarmos que aquela pessoa é má, indiferente, e todos os outros adjetivos ruins que nossa memória possa lembrar.

Da mesma forma, pessoas que temos em bom conceito, rapidamente se modificam, sob nosso ponto de vista. Por algo que tenham feito, um pequeno deslize cometido, deixam de merecer nossa consideração. Por vezes, são de forma repentina, alijadas do nosso convívio. São pessoas com as quais não desejamos mais ter contato.

Esse tipo de comportamento nos recorda de um fato acontecido, há muito tempo.

Existiu entre os anos 1870 e 1911 uma empresa chamada Standard Oil Company. Seu diretor era John D. Rockfeller. Certo dia, um executivo da companhia tomou uma decisão errada, que custou à empresa mais de dois milhões de dólares.

No dia que a notícia vazou, a maior parte dos executivos procurou todos os meios para evitar Rockfeller. Todos temiam que a sua ira se abatesse sobre as suas cabeças. Todos, menos um dos sócios da companhia. Edward Bedford tinha uma reunião agendada com Rockfeller e a manteve.

Dirigindo-se para a sala, ficou imaginando que longo discurso ouviria contra o homem que cometera o erro. Quando entrou na sala, o diretor do império Standard Oil estava com a cabeça curvada sobre a mesa e fazia anotações.

Bedford ficou esperando, parado, em silêncio. Depois de alguns minutos, sua presença foi percebida. Rockfeller olhou para ele e disse calmamente: Você ouviu a respeito do prejuízo? E ante a resposta afirmativa, continuou: Estive pensando sobre o assunto e fiz algumas anotações antes de chamar o homem para conversar.

O diretor mostrou o que escrevera. No topo da página estava escrito: Pontos a favor do senhor fulano de tal. Seguia-se uma longa lista das virtudes do homem. Inclusive uma breve descrição de três ocasiões distintas em que ele havia tomado a decisão correta, gerando lucros.

Os lucros somados superavam em muitas vezes o valor do prejuízo recente. Conta Bedford que nunca se esqueceu daquela lição, que lhe serviu para a vida. Todas as vezes que foi tentado a dispensar alguém, ele fazia o que fizera Rockfeller.

Sentava e escrevia uma lista com o maior número de qualidades possíveis dessa pessoa. Confessa que, todas as vezes, ao terminar o levantamento, conseguia ver a questão sob outro ângulo, dominando seu impulso inicial, sua ira e subida emoção.

Segundo ele, tal hábito lhe evitou cometer o mais dispendioso erro para um executivo: perder o autocontrole. Se cada um de nós agisse de igual forma com os amigos, conhecidos, parentes que nos rodeiam, manteríamos em melhores condições nossos relacionamentos interpessoais.

No mínimo, deixaríamos de ser injustos, em nossa precipitação. Também não precisaríamos pedir tantas desculpas, posteriormente. Nem nos sentiríamos envergonhados pelas tantas vezes que nos mostramos ingratos. Nem sofreríamos tanto, por mágoa, inútil e tola.

Pensemos no exemplo e, quando tivermos vontade de romper com alguém, de lhe dizer impropérios, de lhe lançar em rosto "muitas verdades", estanquemos a vontade.

Consultemos os arquivos da memória e lembremos quantas vezes aquela pessoa foi nosso sustentáculo, nosso apoio. Quantas vezes nos ajudou, quantas alegrias colocou em nossas vidas, quanto nos serviu. Com certeza nos surpreenderemos descobrindo que a soma dos benefícios recebidos supera em muito a do momento atual.

Então, manteremos a amizade, lembraremos de agradecer pelo tanto que representa em nossa vida. Finalmente, nós mesmos haveremos de reconhecer como nossa vida se tornaria insípida sem aquela criatura que Deus colocou em nosso caminho.