DESCENTRALIZAR - PORQUE NÃO ?

OS governos parecem não entender que descentralizar não é apenas uma opção política e econômica, mas também trata-se de uma exigência ambiental. Estive em visita à Holanda e pude testemunhar a experiência exitosa de uma nação que soube descentralizar, pois o País é um dos mais densamente povoados do mundo, não obstante isso, nenhuma de suas cidades “explodiu” como metrópole . Amsterdam , a moderna e bela capital possui apenas algo em torno de um milhão de habitantes. Os mais de vinte milhões de holandeses estão harmonicamente divididos pelo território nacional.

As regiões metropolitanas no Brasil , ao contrário , estão cada vez mais inchadas, saturadas em todos os sentidos . Tanto quanto o poder político , também o poder econômico mostra-se insensível à necessidade de diminuição dessas gigantescas cidades que a cada dia renovam episódios calamitosos, quer na qualidade de vida de seus moradores, quer na degradação ambiental.

Em nome do lucro e da "logística" acumulam-se investimentos em grandes cidades e proliferam as mega-metrópoles ou as micro metrópoles (também chamadas de pólos regionais) em todos os cantos do País . As cidades vão crescendo e só uma pequena parte delas sustenta esse crescimento com qualidade , enquanto que outra parte – constituindo enorme maioria - cresce desordenadamente e sem nenhum critério, formando os chamados "bolsões" de miséria.

Em pouco tempo os governantes ficam sendo pressionados a empreender investimentos monumentais e crescem as demandas por metrô, viadutos , elevadas, passarelas e outro sem número de obras públicas necessárias à mitigar os efeitos colaterais que grandes cidades sempre trazem. Tudo isso sem contar com a ocupação de áreas de risco e até de regiões de mananciais.

Enquanto isso, Brasil afora , centenas de pequenas cidades ostentam capacidade ociosa e mostram-se aptas a receber empresas , acomodar famílias com dignidade , dotadas de uma excelente infra-estrutura urbana, sem nenhuma dificuldade viária e , sobretudo, com toda uma estrutura de educação, saúde e habitação praticamente pronta e capacitada para absorver público com níveis de excelência insuperáveis em relação aos centros densamente povoados.

Mas os poderosos continuam ignorando a necessidade de descentralizar . Os donos do poder político e do poder econômico não olham para as cidades do interior e parece que fazem vistas grossas aos enormes gastos públicos em infra-estrutura – valores exorbitantes em obras gigantescas – e que simplesmente não resolvem e apenas se prestam a mitigar os efeitos do congestionamento urbano.

E é bom que se diga que não obstante toda a revolução tecnológica e o desenvolvimento econômico, ainda é no interior que se vive mais e melhor. Não existe lógica capaz de contrariar essa realidade – gasta-se menos e vive-se melhor em cidades menos congestionadas.

Neste momento em que as grandes cidades brasileiras são castigadas por enchentes, deslizamentos de terra, esgotos entupidos pelo lixo entre outras mazelas, convém que se discuta um pouco a descentralização. A quem ela (não) interessa ?