POR AMOR SE MATA?

CENA 01 - Camaragibe-PE, bairro nobre de Aldeia (19/Dez/ 2010) - O noivo matou a noiva em plena festa de casamento. Achou pouco, matou o padrinho do casamento que também era o chefe da noiva no trabalho. Atirou num outro convidado, mas não matou. Achou pouco matou-se!

CENA 02 - Recife-PE, bairro classe média da Encruzilhada (19.02.11) - O pai mantém reféns, na sua propria casa, as filhas e a esposa. Acha pouco, mata a filha mais velha. Acha pouco e atira em outra filha que, ferida com cinco tiros e socorrida, não corre risco de morte. Achou pouco matou-se!


Convenhamos que essa "combinação" na forma trágica de matar entes queridos não é comum, mesmo sendo o nosso país tão violento. Embora não se tendo certeza dos reais motivos pois os principais atores estão mortos, tudo indica que são crimes PASSIONAIS. A paixão como forma, o afeto como substrato, o rancor como instrumento, a ausencia de Deus como princípio, uma patologia como trunfo.

Estabelecemos, de novo, a questão: mata-se por amor? - Não creio. Por amor se vive; por amor se vai às mais difíceis batalhas, mas em vida. Não existe amor na morte. Talvez matar por amor, na visão de quem mata, seja uma forma de se aniquilar por completo devido ao encolhimento "em gotas" que se procedeu durante a relação. Viver junto de quem se ama é compartilhar significados intersubjetivos. Se no transcorrer da relação um dos parceiros não é alcançado pelo outro, pode ocorrer crises. A sensação de domínio completo por um dos cônjuges é um bom sinal de que alguma coisa tem que ser repensado. Provavelmente se isto prossegue, o tempo consolida um status quo que fica "gerenciando" a relação na lógica do "eu finjo que está tudo bem e ela (ou ele) fingue que tudo bem está"... Provavelmente nesse estágio o amor já tenha saído pela porta da frente, enquando os interessados ficam buscando alternativas pela porta de trás.

É preciso o entendimento de que as relações também têm começo, meio e fim. Certamente que no amor esta conclusão é dura, mas a vida também e dura e ela "mole pouco vale". Matar quem se ama é questionável pela lógica imanente de que o amor é vida. O ingrediente do ciúme tem sido muito interferente nessas compreensões, mas ao nosso ver, ele é sintoma de fragilidade afetiva. Amor sem confiança é psse; gente possui carro, casa, etc., menos gente. Gente se conquista com carinho e amor se estabelece com confiança. Se há amor tem que ser nessas bases. Confiança é como "um cristal bonito que se quebra quando cai". Pelo dúvida, melhor separar. Afinal, "ninguém é de ninguém, na vida tudo passa, até quem nos abraça", como na canção popular.