O MEDO DOS MORTOS...
Numa grande cidade, certa noite, uma jovem com um aspecto esquisito, bastante maquiada, esperava a condução num ponto de ônibus. O local era ermo, deserto, mal iluminado e coberto pela neblina que envolvia tudo. Ao lado, um imenso capinzal que dava para esconder e bem, várias pessoas.
De repente, sai do matagal um meliante com uma faca nas mãos, olhos injetados, e vem em direção à moça, e ela, tranqüila, impassível, não move um músculo. O bandido se aproxima um tanto desconfiado da tranqüilidade da jovem que, ele tinha certeza que o avistara e grita com a arma em riste:
- Passa a grana, relógio, celular, tudo de valor!
A moça continuou parada e o gatuno faz menção de aproximar a faca de seu rosto quando, sem se mover ela dá uma risada e diz com voz soturna:
- Engraçado, quando eu era viva nunca fui assaltada, agora depois de morta é a segunda vez que tentam...
Quando o facínora ouviu isto, transido de susto arrepiou os cabelos e gritou:
- Cruz credo! Valei-me São Sebastião!
Guardou a faca, saiu em desabalada correria e deve estar correndo até hoje...
Coisa interessante o pavor que as pessoas têm a tudo que se relaciona com o Além. Até o mais perigoso bandido, tido como paradigma de coragem ou sem medo de morrer em tiroteios, arrepia-se e, é possível que de pavor, até urine nas calças quando veja uma alma do outro mundo...
Você ficaria feliz se, quando morresse e voltasse para uma visita à Terra, fosse considerado como assombração?
Desde criança me habituei a ver os espíritos daqueles que viveram na matéria física e estão no Mundo Espiritual, e, quando os via não gostava e tinha até medo. A verdade é que, alguns são agradáveis à vista, mas, não há só coisa feia na outra dimensão da vida... É como aqui na crosta terrestre onde existe muita beleza e também muita feiúra. É só andarmos em determinados bairros periféricos, beira de arroios e veremos algo não agradável à vista. É só passarmos por uma “cracolândia” e a visão daqueles viciados se acabando em vida é uma imagem bem desagradável aos olhos...
Aqui na Terra, se formos a um belo parque, bem cuidado, florido, em dia de céu bem azul, sentir-nos-emos num paraíso. Todavia, estamos na crosta terrena ainda...
Quando jovem morei numa república de estudantes que era num grande casarão onde outrora fora um tipo de hospitalzinho e lá passei pedaços difíceis com os espíritos...
Da turma que lá morava, o único que via o que acontecia era eu. O pessoal, naquela idade só queria saber de festa, divertimentos e algum estudo...
Assim, quando ia escurecendo eu já ficava preocupado, pois, a maioria do pessoal saía e eu ou outro ficávamos. Então, acontecia o inacreditável: cadeira sendo arrastada, porta que batia sozinha e muito mais...
Tínhamos uma empregada que, certo dia, tomou uma bofetada de alguém invisível. Doutra feita, ela estava cozinhando e, um prato saiu voando da prateleira esfacelando aos pés dela.
A pobre mulher demitiu-se e foi embora o mais rápido que pode.
A gente estava sentado à sala e de repente eu via alguém passar de um cômodo para outro. Perguntava a este ou aquele colega se vira algo e nada... Só eu enxergava... Que dilema!
Até que me mudei para outra república, porém...
Há também a questão da sintonia. Para vermos os bons e tê-los como companhia, é preciso pensar com elevação de sentimentos, vibrar pelo bem, pensar e agir no bem. A lei da física que diz: os semelhantes se atraem, é algo de significação bem maior que imaginamos...
Cada um terá a companhia invisível que merece...
É simples: um médico humanitário, portador de excelentes sentimentos, desses que fazem da medicina um sacerdócio, aos quais não têm hora, nem dia para o atendimento dos doentes, imaginemos com quem andará? Desnecessário dizer...
Agora, pensemos num profissional da medicina que estudou porque foi obrigado pelos pais, que queriam fazer dele um “doutor”, mas ele queria ser comerciante... Então, faz da medicina um comércio e só vê cifrão à sua frente. O dinheiro, o luxo, a ostentação, o poder, é tudo que o move, imaginemos com que tipo de companhia invisível andará?
Vim saber depois, já adulto, que, quanto maior o medo de “almas do outro mundo”, maior será o sofrimento, pois, o medo é o fornecedor de energias que favorecem os desocupados do astral que se divertem com o pavor demonstrado por muita gente.
Antes eu rezava olhando para o lado, tremendo de medo, e nada adiantava. Depois de aprender e dominar o pavor tudo melhorou, deixei de sofrer e, através da mente posso atrair os bons amigos da espiritualidade que sempre demonstram seu afeto e carinho, apesar dos outros, os espíritos ainda perturbados, vez que outra surgirem aqui e ali...
E não adianta ter medo...