UM FALSO BEIJO GAY.
Humilhar só não basta. Massacrar só não basta. Aplicar a lei apenas não basta. Parece que esse é um lema de alguns maus policiais do Recife que obrigaram os presos de uma delegacia a se beijarem publicamente (homem com homem) em verdadeiro trucidamento emocional. Não contavam aqueles policiais que alguém (sabe-se quem) estaria gravando, com um celular, as cenas que foram divulgadas na imprensa nacional recentemente. Em determinado momento das cenas, a voz de um policial manda um preso encostar a boca na do outro. O preso encostou a boca, provavelmente após levar umas porradas. Em seguida a gente ouve claramente a voz do mesmo policial mandando um dos detentos colocar língua pra fora. Não bastava o “selinho”, tinha que botar a língua pra fora para o outro alcançar. Havia um desejo claro por parte dos policiais de constranger os detentos naquilo que mais afeta as pessoas que é a sua privacidade. Tratando-se de homossexuais já seria inadmissível, imagine não sendo como tudo indica no caso em questão. O que esses maus policiais não esperavam era que houvesse essa gravação e que, mais que os presos, eles ficassem vulneráveis naquilo que quiseram macular nos detentos. Obrigar os presos a praticar um beijo gay às avessas é deprimente. Certamente essa pratica é uma diversão a mais para esses guardiões da sociedade que tem seus salários pagos por nós, cidadãos brasileiros tão carentes de justiça. A palavra certa é justiça. Nada de defender meliantes nem querer pra eles mordomias, mas apenas justiça. Esta, quando aplicada por autoridades constituídas em obediência a nossa constituição federal, tem que ser com base no respeito à dignidade humana. Esse fato, antes de estarrecer a opinião publica do mundo, põe em xeque as precárias condições de afeto que se encontram pequena parte dos policiais. Quem duvida que tenha dentro deles um fosso afetivo conflituoso muito grande? Quem duvida que ao obrigarem os presos a se beijarem uns com os outros não representa um desejo reprimido deles?
As autoridades locais já tomaram providências. Barrar o ingresso de maus policiais neste aspecto é dificílimo. Nenhum processo de recrutamento e seleção dispõe de instrumento capaz de detectar essa conduta na “fonte” conforme desejamos. Mas a corporação não pode esperar apenas que fatos dessa natureza venham a tona pela imprensa. Bendita imprensa, benditos celulares com câmeras, benditos “big brothers” que, de graça fazem o papel do Estado em nossa defesa.
A corporação pernambucana é famosa pelo brio e pela galhardia. Certamente, esse episódio servirá de lição para que os policiais policiáveis sejam acompanhados de perto; para que na cadeia haja beijos de afeto, desde que frutos de amores. Também clandestinos, mas de amores. Para que não se negue daqueles para quem a vida já lhes negou quase tudo, o mínimo necessário para não matar dentro deles a esperança de que um dia a vida lhes sorrirá.