Holocausto: esquecer jamais
Com a autorização expressa do autor, publico o texto abaixo sobre o holocausto nazista, pois é pertinente ao meu livro Os Meninos da Guerra, 2003 e 2004.
Sim meu irmão Wilson, está autorizado. Pode publicar, sem problemas... Um abraço fraternal, Jair Wingert. jwingert@ig.com.br
A Assembleia Geral da ONU instituiu o dia 27 de janeiro de 2005 como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Esta data marca o dia em que as tropas soviéticas libertaram, em 1945, o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. A decisão da ONU “condena sem reservas todas as manifestações de intolerância religiosa, de incentivo ao ódio, de perseguição ou de violência contra pessoas e comunidades por causas étnicas ou religiosas e rejeita qualquer tentativa de negação do Holocausto como acontecimento histórico, quer seja total ou parcial”. Historiadores se referem a Auschwitz-Biekenau como Fábrica da Morte. Embora seja impossível definir o número exato de pessoas assassinadas ali, calcula-se em cerca de 1 milhão as que foram mandadas para as câmaras de gás, a maioria judeus. Em 1944, auge da macabra linha de produção, cerca de 6 mil pessoas eram liquidadas diariamente. Ao libertar o campo, o Exército Vermelho encontrou 8 mil sobreviventes em estado deplorável, verdadeiros mortos-vivos, seres que se assemelhavam a zumbis. O Império de Mil Anos imaginado pela mente doentia de Adolph Hitler previa a eliminação de alguns grupos, como judeus, ciganos, eslavos e certos doentes (cerca de 100 mil alemães, classificados como “doentes mentais incuráveis”, foram mortos num hospital psiquiátrico), além do banimento/liquidação física da esquerda revolucionária. Unidades especiais do exército alemão, os Einzatzgruppen, foram formadas com essa finalidade. Não obstante quando a Wehrmacht começou a sofrer as primeiras derrotas na URSS, com tremendas perdas humanas e materiais, os nazistas não só não abandonaram como intensificaram a política de genocídio contra os grupos que consideravam “inferiores”. Militares foram deslocados de frentes críticas de batalha para continuar a matança. O Holocausto foi um evento tão traumático, tão avassalador, que acabou colocando em segundo plano acontecimentos fundamentais para se ter uma visão mais abrangente do nazismo. Diferentemente da estratégia militar colocada em ação contra países não eslavos, a invasão da Polônia, por exemplo, inaugurando a carnificina na Europa, incluiu a liquidação sistemática de lideranças civis e intelectuais. Havia planos, jamais executados, de castração em massa das populações do Leste Europeu. Os eslavos eram considerados “impuros” e, por isso, não teriam lugar num mundo arianizado. As chamadas “democracias” da Europa Ocidental foram coniventes na ascensão do nazismo e, mesmo sabendo o que acontecia com as populações judaicas pelo menos desde 1942, nada fizeram para deter o massacre. A política de “apaziguamento” dos anos 1930, a passividade frente ao rearmamento alemão e o cinismo da “neutralidade” durante a Guerra Civil na Espanha deram vitalidade ao expansionismo nazista e abriram a porteira para a barbárie. Os pseudos democratas apostaram em Hitler como barreira de contenção contra o inimigo comum: o comunismo. Para vencer a guerra ideológica, alimentaram um velho conhecido: o imperialismo alemão. O namoro com o nazismo deu bons frutos depois do fim das hostilidades. A desnazificação da Alemanha foi feita de forma muito seletiva e, em linguagem de hoje, midiática. Alguns figurões foram julgados e condenados a longas penas de prisão ou à morte. No entanto, a grande maioria de funcionários do regime nazista e criminosos provados ficou livre. Passados 66 anos da libertação de Auschwitz-Birkenau, assistimos com apreensão o retorno de algumas bandeiras caras ao nazismo (embora ele, enquanto movimento de massas marcado pelas tensões sócio-políticas das três primeiras décadas do século passado, esteja morto). É imperioso aos setores democráticos resistir. Não basta apenas a memória. É importante articular frentes de luta contra todas as tentativas de legitimar o racismo, o antissemitismo e outras formas de preconceito. Construir um mundo mais justo e fraterno será a melhor forma de homenagear os que foram massacrados nos campos de concentração e extermínio, os que são diariamente humilhados pela fome, os que são agredidos por sonharem com o fim de todos os tipos de exploração, os que são desterrados por governos brutais, os que sofrem discriminação de classe, os que padecem com o flagelo das guerras. Ah se os governos ao invés de investir milhões e milhões em armas investissem em cadernos, livros para as crianças... Se os homens que comandam o mundo investissem na paz! Holocausto: uma triste página da história humana que não pode ser esquecida.
Jair J. Wingert; jornalista. – Campo Bom