A FELICIDADE QUE O DINHEIRO TRAZ
A pessoa que fica feliz com bastante dinheiro deve se satisfazer também com pouco ou nada. Quem não se sente feliz com pouco ou nada tampouco não é feliz com muito.
Alguém que se sente feliz com pouco ou nada tem força e otimismo bastante para conseguir pouco, bastante e muito. Por outro lado, pessoas insatisfeitas tornam-se depressivas e os depressivos tendem a tornarem-se inativos; cativos de seu pessimismo e imobilizados por ele.
Em se tratando do dinheiro como solução para insatisfação, ele pode nos ajudar a produzir felicidade; nos propiciar fazer coisas com as quais nos sentiremos felizes, por exemplo, mas se não conseguimos nos satisfizer por nós mesmos, produzir nossa própria satisfação a partir do nada e do pouco, mesmo o muito dinheiro sempre nos parecerá insuficiente. Então jamais conseguiremos o bastante pra nos sentirmos felizes. É como se quiséssemos que algo mudasse nossa vontade, fazendo em nosso lugar uma ação que somente nós podemos fazer. O sentir-se feliz só depende de nós, pois a felicidade não é um motor que nos empurra e repentinamente nos sentimos felizes. Precisamos perceber a felicidade em nossa volta, então produziremos a felicidade em nós.
Poderia desejar a mulher mais linda da revista de modelos e pensar que só seria feliz com ela, podendo contemplar e tocar sua beleza, sentir seu perfume, desfrutar de suas curvas e maciez, sua voz aveludada e tudo o mais, mas se não conseguisse ser feliz por mim só jamais atrairia essa mulher e, talvez, nem mesmo a pior das mulheres. Por outro lado, mesmo tendo uma mulher assim, minhas incertezas e frustrações permaneceriam comigo e nem mesmo seu melhor sorriso e seu mais intenso ato sexual me trariam certeza, satisfação e felicidade. O que demonstra que para usufruir das bebesses externas preciso primeiro me resolver internamente e as pessoas que imaginam o muito para serem felizes não são resolvidas intimamente.
Ninguém e nada pode nos obrigar a sermos felizes, bem como nada pode nos tirar a satisfação e felicidade. A felicidade depende unicamente de nossa disposição para sermos felizes. O mesmo ocorre com a satisfação sexual. E, como tudo o mais, inclusive as pessoas, o dinheiro simplesmente não produz felicidade, pois o que traz felicidade é simplesmente nossa vontade de sermos felizes; nossa disposição para a satisfação. É como a vontade de ir a algum lugar. Se não queremos ir, mesmo que nos levem, não sentimos como se tivéssemos ido e daí de fato não fomos. Ou seja, o ir não produz efeito de ter ido, a sensação de se ter trocado de lugar. Estamos lá, mas somente em corpo, ao passo que a mente está em outro lugar; onde ela realmente queria estar também em corpo. Assim confirma-se o antigo sucesso de Caetano que diz: “A minha casa fica lá atrás do mundo, onde eu vou em um segundo quando começo a pensar. O pensamento até parece uma coisa a toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar.”
Da mesma forma é o estado emocional. Podemos estar em meio a muitos motivos de felicidade, mas com nossa mente concentrada em um problema, uma possibilidade, uma data, etc., ou em nossa pena de nós mesmos e nessa nossa visão estarmos nos vendo com problemas, tristes, etc., e pensando de fato que estamos em condição de tristeza e sendo tristes então. Aí confirma-se a máxima da psicanálise que diz que “nosso subconsciente não conhece a diferença entre a fantasia e a realidade”.
Alguém com quarenta anos ou mais poderá lembrar-se disto: Quando éramos crianças, meninos ou meninas, se tínhamos um brinquedo, seja de plástico, de corda ou metal, brincávamos, se não tínhamos, brincávamos igualmente. Sendo menino, eu gostava muito de brincar de carrinho com meu irmão e amiguinhos. E, por sermos pobres, nosso carrinhos sempre foram de plástico. Porém, muitas vezes eles nem rodas tinham e outras vezes não dispúnhamos mesmo de carrinhos. Independente disso, porém, jamais deixamos de brincar. Se tínhamos um ou mais carrinhos de plástico, brincávamos de carrinho; se não tínhamos, brincávamos também de carrinho com pedaços de madeira. E muitos amiguinhos vinham para a brincadeira até pediam para brincar com esses carrinhos.
Nesse sentido é que digo que só seremos felizes se quisermos ser felizes. Prova é que a maioria dos ricos é infeliz, cheios de medos, ansiedade e angústia, mas nós somos felizes, pois nem mesmo a miséria pode nos assustar, pois estamos acostumados a viver em seus lombos a domá-la.
Wilson do Amaral
Autor de Os Meninos da Guerra, 2003 e 2004, e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, 2004.