EXPLODINDO ANTES DO TEMPO

Ainda não é Ano Novo, mas pela atitude da sociedade nas semanas e agora dias que o antecedem, o que se prenuncia é mais um ano pobre no que tange ao comportamento, ou se preferir o leitor, um ano novo cheio de velhas atitudes. Afinal, será Ano Novo porque a folhinha vai mudar. Aliás, por que escrevemos Ano Novo em caixa alta (letra maisúscula)? Será um artifício para induzir a consciência, fazendo-a crer que a mudança da folhinha presupõe mudança de atitude? Não sei.

Assisti no último domingo, à matéria de abertura do Fantástico e me inspirei a escrever isso. A produção do programa fez um levantamento interessante, que me deixou intrigado, confuso e com a pulga atrás da orelha.

Não sei lidar com certos paradoxos da sociedade moderna. No levantamento, feito de 2003 para cá, constataram que as explosões de raiva, ódio e outros sentimentos não muito bonitinhos (porque valorizamos a casca deixando a polpa a ver navios), eclodem, na maior parte, em Dezembro. Com o ano inteiro à disposição, por que diabos esses feiosos surgem num tempo em que se fala de união, fraternidade, prosperidade. Por que? Que paradoxo é esse? Daria quem sabe, enredo para mais de metro se fossem fazer filme com esse tema.

O fato que deu origem à pesquisa do Fantástico tem a ver comigo diretamente. Logo eu, que busco conscientizar pela palavra educada e polida, tenho de tentar descrever o fato ocorrido no metrô paulistano a semana passada.

O desrespeito já grassa na Terra desde há muito. Jovem sentar no banco reservado já é tão comum que vira normal, embora não seja. Mas acaba passando por. Mas gostaria de entender algumas questões centrais, que ficaram esquecidas, afinal ao ver alguém arrastar um semelhante pelos cabelos, a reação mais natural é de repulsa, ira.

Mas segundos depois da matéria, perguntava-me o que teria levado a jovem a sentar-se no lugar reservado? Outra questão que me veio à mente: qual o real motivo da explosão de ódio da outra moça, afinal ninguém sai por aí arrastando alguém pelos cabelos à toa? Agora uma questão mais profunda: de toda a audiência do Fantástico, quantas pessoas viram as reações que aconteceram ao redor? Quantos partiriam para cima da moça sentada? Quantos a defenderiam?

Mais um detalhe importante, mostrado com maestria pela reportagem. A defensora dos velhinhos, que teve um ataque de Mulher - Maravilha, embarcara no metrô pelo vagão de embarque preferencial. Sem julgar qualquer juízo de valor da moça, o que dá para constatar é que o cobertor dela era curto. Que argumentos de defesa pode ter alguém que embarca num vagão sem ter esse direito? Antes de fazer com que o outro respeite a lei, respeitemo-la nós. E nesse caso, qualquer argumento torna-se injustificável.

Ainda há muito o que se pensar. Não teria eu, caracteres disponíveis para desenvolver justificativas, argumentos ou conclusões, mesmo porque, poderiam estar certos ou errados.

Mas o fato é que os fogos e rojões andam explodindo da pior forma possível e antes do tempo.

Marcello Santos
Enviado por Marcello Santos em 29/12/2010
Reeditado em 29/12/2010
Código do texto: T2698021
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.