NÓS, E A INVENÇÃO DA MENTIRA
Para começar vou logo disparando à queima-roupa, sem piedade: ninguém inventou a mentira, ela já nasceu conosco, pois a mesma é inerente ao caráter imperfeito e titubeante do ser humano. E mais: a mentira funciona como um verniz social, sem o qual a convivência entre criaturas repletas de imperfeições de ordem moral, seria impossível.
A constatação prática é que mesmo julgando e condenando a mentira como sendo um hábito nocivo, vivemos fazendo uso dela em situações como, quando não queremos atender o telefone e mandamos dizer que não estamos, ou forçamos um sorriso para demonstrarmos que não ficamos decepcionados, quando na verdade estamos sim decepcionados.
Em síntese, mentimos porque não desejamos ou tememos enfrentar as prováveis repreensões e suas consequências. Nosso orgulho não admite ser admoestado.
Cuidado, o hábito de contar lorotas pode tornar-se um vício e tendo-se chegado a este ponto, muitas vezes o próprio mentiroso passa a acreditar em suas invenções. São aquelas pessoas que mentem a toda hora e por coisas banais.
Agora aprenda as sutis diferenças: omitir a verdade significa silenciar-se ante um acontecimento; mentir é simplesmente faltar com a verdade, e enganar ou iludir, é permanecer sustentando essa mentira por tempo indeterminado. Enganar é também a capacidade de convencer um indivíduo (ou muitos) de que uma mentira seja uma verdade. Porém, antes de julgar, entenda o processo de permuta: para cada engabelador existe alguém disposto a ser engabelado. Vejamos o caso de um cidadão que cai no golpe do bilhete premiado: no fundo ele é vítima de sua própria ambição ao criar a ilusão de que poderá ganhar um dinheiro fácil.
Um equívoco é naturalmente desfeito mediante uma análise mais aprofundada dos fatos; uma mentira é descoberta por meio das contradições que hão de existir.
No final da jornada (que não é o fim) a Verdade prevalecerá.