Quanto tempo dura um sentimento?
Às vezes, por não ter nada para fazer eu quedo aqui de frente a este papel virtual, conjeturado sobre as coisas da vida. Às vezes uma boa música me acompanha. Raramente, um copo de cólera.
Mas este pensamento me assola o juízo desde que entendi que existe um sentimento, cujas denominações são várias, que não é tão intenso quanto àquele que dedicamos à mãe ou pai, tampouco aos rebentos frutos de nossos genes.
Sentimento este dedicado a completos estranhos. Porque mal nos conhecemos, que diremos daqueles que aterrissam em nossas vidas (ou vice versa). A coisa foge tanto ao propósito da boa compostura que o júbilo em cortejar, vezes torna-se mais prazeroso que a própria conquista.
Ora, mas isto tem uma explicação: somos seres humanos, não nos conformamos com nada, temos de ter metas a cumprir, desejos que nunca acabam. O ser humano sempre quer mais. Em todos os aspectos da vida.
Tomemos meu próprio exemplo (saindo um pouco do assunto sentimento com relação a outrem), nunca possui um vídeo game, exceto aos vinte e oito, quando já trabalhando, comprei um, ainda que com três cheques “pré”. Mas comprei. Sonho realizado! Que felicidade! Daquele dia em diante devotaria todos os meus dias de folga ao vício do jogo! E pensa você, caro leitor, que me dei por satisfeita? Claro que não! O ser humano sempre quer mais... Minhas metas hoje são: a carta de motorista, um emprego estável, uma moto, a tão sonhada casa própria... xíííí...
Não importa o quanto tenha sido maravilhoso o sabor da vitória, este dissolve rapidinho na língua, como bala açucarada. Sempre haverá outro objetivo, sempre haverá o que conquistar.
Voltemos agora para o sentimento que eu gosto de comparar com um negócio que aqui na minha terra chamamos de “visagem” (alma do outro mundo), ninguém viu nem vê, mas jura que existe!
Conquistador por natureza, a competitividade enraizada no íntimo, o homo sapiens sapiens, sabe o quanto instiga a arte da conquista. Utiliza de todas as armas possíveis e imagináveis, para envolver o objetivo em sua teia. Claro que aqui estou levando em conta apenas as ardilosidades (isso é um neologismo ou o “word” tá precisando de um cafezinho?), no bom sentido, porque é importante que a conquista seja de sentimentos verdadeiros. Os que se utilizam desta técnica apenas para uma noite de prazer serão levados a outra crônica.
Eis que então a pessoa do apreço e dedicação sucumbe à tanta atenção, dedicação, tudo aquilo que nos primórdios de um relacionamento existe por demais.
Tudo ocorre às mil maravilhas, o casal passa a ser um só, coincidências acontecem, só enxerga-se o que há de bom e o sentimento muda de nome. Aquela coisa desesperada, afogueada, como se o tempo não fosse suficiente, como se a qualquer momento pudéssemos perder o que para nós é caríssimo, um dia cai. Passamos para outro estágio.
Exatamente, o prazer da conquista se vai, e fica o resto.
Mas o que é este resto? Será que o sentimento perdura? Ou quanto tempo dura um sentimento?
Como as pessoas frágeis suportam este esfriamento repentino? Como se encara uma situação que até pouco tempo atrás era de uma urgência avassaladora, e hoje já não é se não brasa que amorna o quarto em noite fria de chuva?
Lembra do bombom açucarado que recentemente mencionei?