JOGAR LIXO NA RUA: O BRASILEIRÍSSIMO E LAMENTÁVEL HÁBITO
Aqui na cidade onde moro, basta dar uma volta pelas ruas para ver como é difícil encontrarmos um quarteirão de calçadas completamente limpas, livres de lixo.
Quem ficar em alguma das movimentadas praças do centro e observar o vai-e-vem da multidão, certamente ficará indignado ao presenciar uma chuva de copinhos, papéis e jornais jogados pelos transeuntes, mesmo aqueles que passam a poucos metros da lixeira.
Os terrenos baldios também são problema. Aliás, aí é que a coisa fica séria de verdade. Durante as vistorias do trabalho, me dá vontade de chorar ao passar por estes descampados: sacolinhas de lixo, garrafas de vidro, garrafas pet, copos plásticos à mercê do tempo e, quem sabe, da sorte de algum catador passar e recolhê-los. E enquanto isso não acontece, todos estes materiais acumulados servem de chamariz e abrigo para ratos, escorpiões. E quando chove estes objetos podem se tornar criadouros do mosquito da Dengue.
Nas casas próximas a estes terrenos, os moradores reclamam. Acusam os vizinhos, os donos de terrenos e até mesmo pessoas que não moram nas proximidades mas procuram estes terrenos para se livrarem do lixo que produzem.
E como certa vez disse a ex-Coordenadora do meu setor de trabalho numa reunião, quase todos agem assim. Jogar lixo na rua faz parte da cultura do brasileiro. Ele nasce e cresce vendo os pais e demais adultos fazendo isso na rua e faz o mesmo, como se fosse o certo, o normal. Daí a dificuldade de tentar mudar os hábitos dos munícipes.
Mas acredito que podemos sim reverter esta situação. Se nos parece difícil abordar um desconhecido que faz algo do tipo, começemos pelos CONHECIDOS. Vamos "pegar no pé" de pessoas próximas de nós, com quem temos liberdade: o pai, o irmão, o filho, o amigo, o colega e até mesmo o vizinho.
Já há algum tempo, no horário de trabalho, quando estou na rua e acompanhado pelos colegas, encarno diariamente uma espécie de "fiscal". Levo sempre uma sacolinha na mochila e quando noto que algum colega jogou lixo no chão, recolho, ponho na sacola e chamo a atenção dele. Faço isso de forma bem humorada com pessoas que tenho liberdade. Alguns reagem também com bom humor, já outros pedem desculpas. E alguns raros ficam constrangidos.
As reações tem sido as mais diversas, porém os colegas, antes desatentos, agora pensam duas vezes e procuram o cesto de lixo.
A propósito, na maioria das vezes, são descartados na sacolinha papéis de bala, embalagens de biscoito, jornais de loja, ou seja: o conteúdo vai direto para o caminhão que recolhe recicláveis.
Se cada um de nós agir desta forma e procurar conscientizar pessoas próximas, acho que o esforço rende: eu oriento o colega, que depois orienta o irmão, que por sua vez orienta o filho, que na escola dá uma bronca nos amigos.
Já presenciei crianças repreendendo adultos negligentes, às vezes a própria mãe. Por falar em crianças, se os heróis dos desenhos que eles assistem recolhessem lixo ao invés de sair no braço com os inimigos, estas mesmas crianças, que por natureza imitam os hábitos de quem gostam, recolheriam lixo do chão e achariam legal, até. Mas infelizmente a imitação que presenciamos é a criançada dando porrada nos amiguinhos da escola bem ao modo "Power Rangers".
(Gabriel, 10/02/2010)