COCAINA E O XIBIU DAS MENINAS.
A imprensa tem mostrado os resultados da invasão do complexo da Favela do Alemão, no Rio de Janeiro. Claro que a gente não ia esperar que a polícia encontrasse bíblias, livros de auto-ajuda, encíclicas papais, etc. Droga, muita droga. Armas, muitas armas de todos os tipos e calibres. Particularmente me impressionou o volume de drogas: cocaína, maconha, crack, haxixe, LSD, lanças perfumes, foram mostrados e impressionaram aos mais experientes policiais envolvidos na operação. Até aí, tudo bem, pois esse débito do governo para com a população está sendo pago atrasadamente. Contudo, um detalhe me parece ser o diferencial no sentido de que não podemos garantir que essa invasão possa ser considerada um sucesso absoluto: a passagem “secreta” pelos esgotos pluviais da favela! Erro crasso numa invasão daquele porte e o atestado maior de que a polícia não tinha intimidade com o povo nem com a população, com a terra nem com o território. “Meno male”! Resta-nos torcer para que um dia, quando a poeira baixar, a gente não veja notícias de que o crime ora desorganizado, reorganize-se.
Independente do erro mencionado temos que aplaudir a atitude tardia do governo, pois nunca será tão tarde para defender a vida, a dignidade e a cidadania. Contudo, distante da cidade maravilhosa, mas igualmente curtindo a minha maravilhosa Recife, fico encafifado com um lado dessa história que não vemos a imprensa mencionar: como vão ficar os “coitadinhos” dos consumidores daquelas drogas? Afinal, a lei da oferta e da procura nos dá a dimensão exata, pois se tanta droga RECOLHIDA nos foi mostrada é porque muita gente a consumia. Se o usuário, em tese, é visto na ótica da dependência química (e assim é que deve ser), como é que esses “coitadinhos” vão fazer quando a crise vier? Recorrerão a outros morros e outras favelas? Irão telefonar para seus fornecedores para pegar drogas em outros endereços? – Não será mais tão fácil assim. Da mesma forma que fácil não será de um dia pra outro ficar sem a “droga (pão) nossa de cada dia”. O que farão eles? Quebrarão a casa toda? Roubarão os familiares para ir atrás de drogas em outros estados, cidade, etc.? Aderirão ao álcool, aos psicotrópicos das farmácias, aos cigarros de palha com o fumo de Arapiraca (é forte)? – Não sei nem o que dizer! Pena deles? Talvez sim, mas dos pais não. Nenhuma peninha. Até acho que seja possível que boa parte desses usuários, principalmente dos filhinhos da mamãe (classe média e alta), recorrerão aos próprios pais para levá-los às “bocas”. Com perguntar não ofende, quem é que ignora que a grande maioria dos jovens usuários de drogas foi criada sem limites por parte dos pais? Talvez esses pais estejam incluídos no rol daqueles para quem “quero dar aos meus filhos tudo que não tive na infância”, e terminam dando aos próprios filhos o que os mesmos nunca pediram pra ter: liberdade demais, permissividade demais, dinheiro demais, amor de menos, carinho de menos, castigo de menos. Certamente que a família não pode ser culpada do conjunto de atitudes erradas e violentas dos filhos, pois isto seria ignorar o livre arbítrio de cada um e a genética particular. Contudo, estudos mostram que a educação pelo exemplo, pelo estabelecimento de limites nas relações entre pais e filhos, pela compreensão de que família não pode ser conduzida como democracias certamente conduzem para a formação de cidadãos ajustados.
Se eu não estiver tão distante da realidade exposta, com certeza muitos pais irão entrar num verdadeiro inferno astral; muitos jovens irão ficar sem alegria, sem vida, sem “minas”, sem balada, sem coco nem cocada, sem coca, mas com coca-cola, ou com cola, pina colada, cajuína, tubaína...
Talvez Reginaldo Rossi tenha mesmo razão. Ele sempre diz em seus shows aqui pelo nordeste: “vocês jovens, não cheirem cocaína, melhor cheirar o xibiu das meninas”... Pois é Reginaldo, agora com essa dificuldade de adquirir drogas no Rio de Janeiro, será que os usuários de lá não podem começar a cheirar o xibiu das meninas? Mas às meninas, o que dizer? Que devam cheirar os “rosquitos” dos meninos?
“Onde foi que eu errei”? Esse bordão é característico dos pais quando vão a delegacia tentar tirar os filhos da prisão por drogas ou por homofobia ou assemelhados. Aqui no Nordeste (sempre ele) a gente diz assim: “é de pequenino que se torce o pepino”... Boa sorte senhores pais.