Salame parrudo "feinho"
Salame parrudo “feinho”
Provavelmente 98% das pessoas possuem extintor no carro porque este item é obrigatório no momento da vistoria anual do veículo. E tem gente que pega o do vizinho emprestado e o devolve depois da vistoria. Até pneus pegam emprestados ou alugados. Depois, se o veículo sofrer um acidente (até com mortes), o motorista culpa o destino, o mecânico que não apertou o arame que segurava a porta traseira ou o boi cansado que pastava às margens da pista.
Mais do que provavelmente, a maioria das pessoas não possui extintor em casa. Conta com o sistema de mangueiras do condomínio, que na maior parte das vezes, por ficarem enroladas por anos seguidos, no momento de uso exibem furos diversos, não encaixam na torneira adequada e por aí vai. Fora a demora em encontrar a chave para abrir o registro emperrado por falta de testes regulares.
Mas se dentro de um apartamento nasce um pequeno incêndio (quase todos nascem pequenos), até recorrer a estes artefatos suspeitos, o espetáculo pirotécnico já adquiriu proporções enormes. Quaisquer 5 ou 10 segundos de demora são vitais. Se um pequeno extintor estiver à mão, o mesmo pode ser debelado sem maiores sustos. São R$ 15,00 investidos por ANO para preservar um patrimônio que vale entre R$ 100.000,00 e R$ 400.000,00 e o sacrifício durante uma vida.
Para quem tem o bom hábito de trocar o extintor caseiro na mesma época em que troca o do carro, surge um pequeno problema: onde deixá-lo? Esta dúvida chega a causar depressões e trocas de palavras ásperas entre familiares.
De uma forma geral a mulher não quer que tal artefato (parecendo um salame parrudo “feinho”) fique exposto de modo a ser enxergado por prováveis visitas e comprometendo a decoração do ambiente. Por isto, o acomodam sobre (ou sob) o armário no quarto de serviço, atrás do vaso sanitário ou dentro da casinhola do gato na área de serviço. Decididamente não são bons locais. No momento do caos, ele precisa ser apanhado em menos de 10 segundos, antes que o incêndio cresça.
Então alguém poderia sugerir deixá-lo ao lado da geladeira, da máquina de lavar roupa, debaixo da tábua de passar roupa, pendurado no lustre ou dentro do forno do fogão que sempre gera altas temperaturas. Ou debaixo do cinzeiro inimigo.
Imagino eu que nestas áreas ornamentadas por ladrilhos de cerâmica, a probabilidade de alastramento de chamas é bem menor. Creio que nos quartos e salas, onde temos sofás, colchões, cortinas, tecidos e madeiras o risco é bem maior. Desta forma, deixar o extintor aí por perto me parece mais adequado. É bom estudar o tempo de trajeto entre os pontos extremos da casa para definir a área “central” da residência. E aí, encontrar o ponto ideal para o artefato ficar estacionado. Bem como um belo vaso de plantas para escondê-lo dos olhares aguçados das visitas prontas a menosprezar a decoração ambiental por causa de um espelho de interruptor que esteja com o parafuso enferrujado ou pelo feltro que está descolando do pé de alguma poltrona.
O meu está aqui ao lado do micro. Camuflado por um belo cesto (lixeira) florido.
Estou olhando para ele agora. Sinto-me parte da brigada de incêndio de meu apartamento.
Haroldo P. Barboza – Vila Isabel – RJ
Autor do livro: Brinque e cresça feliz.