Sobre Teólogos e Filósofos

Para os Gregos, Teologia quer dizer, Palavra de Deus e não como se diz: Estudo de Deus. Todos os Teólogos, excluo dessa classificação os falsários, tiveram essa missão, ou seja, viver e ensinar a Palavra de Deus. Quem prega e vive esse preceito, a meu ver, pode ser chamado de Teólogo.

Sem exceções, para o homem que cultiva no seu espírito o amor ao próximo e a sabedoria, necessariamente, pode enganar-se sobre as ciências exatas, mas jamais se enganará sobre o conhecimento do ser humano, de suas moções e sentimentos que os levam ao divino.

Na vida tive esse grande presente, conheci alguns Teólogos, e deles aprendi que um Teólogo não é um entusiasta, não se erige como profeta, não se diz possuído por espíritos, assim, um Teólogo não se incorre em imposturas, nem se serve de mentiras para ensinar verdades.

Ao Teólogo não pertence a prudência, essa, antes, é uma qualidade dos velhacos. Ao Teólogo, sim, pertence a coragem. Um Teólogo também não mente, não faz gracejos, nem se desonra por um bocado de pão, por dízimos ou um minuto de aplausos.

Por uma fatalidade, talvez, vergonhosamente, não encontrei tais homens nos países ricos, nem nas grandes universidades ou entre os altos eclesiásticos, por onde passei. É preciso ir ao extremo do Mundo, para encontrá-los. E eles, sem impostura, exercem junto ao seu povo o seu ministério de Teólogos, que nada mais é: Ensinar os homens a viverem felizes no amor, na caridade e na esperança.

Segundo esses sábios, há homens incapazes para as ciências, mas nunca homens incapazes para o amor. Por isso, para eles, a Teologia não é o Estudo de Deus, mas a Palavra de Deus. Segundo eles a Palavra de Deus não está somente nas Sagradas Escrituras que são palavras humanas (judaica/cristã), mas também na vida, que comporta a Palavra de Deus, mas, não toda Ela, visto que na natureza também Deus se inscreve.

A Palavra de Deus, para meus Teólogos, é, assim, incomensuravelmente mais ampla que as Sagradas Escrituras, pois, segundo eles, verdadeiramente, Deus aprecia falar aos homens, na sua misteriosa Palavra, que é a linguagem do coração para o coração.

Esses Teólogos tornaram-se legisladores das suas cidades, sob leis e ensinamentos de uma moral pura. Não adotam livros de conduta, nem escrevem cânones, mas acariciam os bons, disciplinam os maus, perdoam os injuriosos e recompensam os puros de coração. Eles, afirmo, são homens justos e ensinam seus homens a sê-lo também.

Ocupam-se em diminuir em sua gente os vícios para diminuir a preocupação de puni-los. Estabelecem normas que são comuns a eles e a qualquer um dos de sua gente. Sobre o que presenciei em suas paróquias, confesso, nunca vi sábios que tenham anunciado verdades mais úteis ao gênero humano e nem lideres que tenham conhecido e amado tanto os homens.

Os Gregos, mestres dos filósofos, escreviam para mostrar seu espírito e não para se servirem dele como instrução. Foi isso que percebi em Platão e Aristóteles. Mais tarde, foi o mesmo que percebi em Descartes, Kant, Hegel e Hussel. Não vejo, em nenhum deles, um sistema filosófico conseqüente, didático, claro, feito para o bem da humanidade e não somente para o conforto de uma aristocracia.

A maioria dos ditos filósofos, que se enveredaram por sistemas, ao final da vida, confessaram terem perdido seu tempo. Eu preciso admitir que os Teólogos sempre foram mais úteis para os homens do que os Filósofos de gabinete.

Depois de muito estudar e de procurar em sistemas filosóficos a verdade até a exaustão do meu espírito, perdendo um pouco as esperanças, após ser lançado por pseudos sábios num caos de dúvidas e de quimeras, conheci a Teologia, esse inefável recurso dos escritores Judeus, e descobri que não seria somente nos livros, nem entre os acadêmicos, mas também nos ensinamentos de contemporâneos e na convivência fraterna, que eu iria encontrar a verdade do meu mistério e sua utilidade.

Ainda estudo filosofia. Sendo assim, penso que a prática filosófica das nossas universidades, o é para mim, e até para gente inteligente, não mais que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor, tanto na teoria como na prática. Seu único objetivo, por conseguinte, é não ter objetivo. A isso chamam filosofar. Já a Teologia, impõe um método entre seus adeptos, pois estes devem se privar de todas as delicadezas e molezas de um teórico. Devem ir ao encontro do povo e partilhar com ele das mesmas dores e prazeres. Devem trabalhar como operário e lavrar a alma humana, que na vida anda nua, ora exposta ao sol, ora à chuva, doente e órfã.

Aos Teólogos cabe marchar à frente de suas tropas quando a ordem precisa ser estabelecida e o equilíbrio retomado. Aos Filósofos, fugir do embate, ou criar mil confusões sem nem um propósito ou razão. Aos Teólogos impõe-se comandar em si todas as paixões, e, quando não são celibatários, são homens de uma só mulher e uma só palavra. Aos Filósofos: Quando que não, enveredam-se em mil e um vícios? Os Teólogos, de Deus, não são simples devotos, mas seguidores de alma inabalável, justa e tolerante. Para os Filósofos, Deus morreu. E assim encerra-se qualquer discussão.

Durval Baranowske

Bara
Enviado por Bara em 24/11/2010
Reeditado em 27/11/2010
Código do texto: T2634424