Luxo e lixo
Luxo e lixo. Palavras de sonoridades quase iguais, mas de significados diferentes. De vivências e experiências opostas. E de realidades idem.
Luísa não conseguia imaginar como seria a sua vida sem todo o luxo e conforto que tinha acesso. Viver do luxo era o seu prazer, a sua glória. Gostava de ostentar suas roupas de grife, suas jóias que lhe rendiam fama, prestígio e disputa com suas amigas. Era presença garantida em eventos da alta sociedade, ocasião em que se orgulhava de impressionar pelo seu figurino e relatar das suas últimas viagens ao estrangeiro, fatos que contribuíam para ter o seu nome nas páginas das colunas sociais. Acreditava que os que não podiam desfrutar do mesmo padrão de vida não foram favorecidos pela sorte. Era culpa do destino.
Joana sabia que dependia do lixo para sobreviver. Dali saía o alimento para o seu sustento e de sua família. Viver do lixo era mais do que uma alternativa, era uma necessidade. Era ali o lugar de encontro com outros semelhantes, companheiros no sofrimento e na disputa da luta pela sobrevivência. Eram adversários, mas mesmo na adversidade, entre eles ainda imperava o espírito da solidariedade. Não sabiam quem era Luísa, mas eram das sobras dela e de tantos outros que muitas Joanas, Joaquins, Marias e Josés dependiam. Conviviam com o esquecimento e com o desprezo. Para eles tudo era uma questão de injustiças.
Luísa e Joana não se conheciam, mesmo não sendo longe a distância geográfica entre elas. Eram personagens de capítulos que a vida encarregou de escrever, que não tiveram os mesmos direitos e as mesmas oportunidades.
E entre luxos e lixos muitos personagens constroem as suas histórias, seguindo suas trajetórias. E de luxo e lixo vive uma nação com uma realidade que revela privações, disparidades e muitas desigualdades.
Até quando a história será a mesma?