Retratos do Brasil
O Bicho
Manuel Bandeira
VI ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Com este poema, escrito em dezembro de 1947, Manuel Bandeira alertava e denunciava uma situação indigna daquela época. O que mudou? A sua mensagem, em forma de poesia, ainda é atual e reveladora de uma realidade onde convivemos com as desigualdades sociais, escravizando milhões de brasileiros, que vivem à mercê da miséria e da fome.
Um dos grandes nomes da luta pela busca da igualdade, o geógrafo pernambucano Josué de Castro alertava: ´´Precisamos vencer a fome, a miséria e a exclusão social. Fome e guerra não obedecem a qualquer lei natural, são criações humanas´´. Comungando do mesmo pensamento e ideais, o sociólogo Herbet de Souza, o Betinho, afirmava que ´´ A fome é exclusão. Quando uma pessoa chega a não ter o que comer, é porque tudo o mais já lhe foi negado´´. Também o cineasta Jorge Furtado deu a sua contribuição para a reflexão do tema através do seu filme Ilha das Flores, um curta-metragem do gênero documentário.
E nós, qual é a nossa contribuição para a diminuição das diferenças? De que maneira estamos contribuindo para a construção de uma sociedade mais fraterna, com a promoção da justiça social e da equidade?