O bullying nosso de cada dia
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acaba de lançar (dia 20) uma cartilha (capa em destaque) para a prevenção do bullying nas escolas. O trabalho é informativo e tem por objetivo, pelo menos na teoria, aproximar os juízes das instituições escolares. Também visa alertar os pais e aos alunos para o fenômeno. Apesar das relações de conflito e violência nas escolas não terem nada de novo a iniciativa tem os seus méritos. A maioria dos alunos e alunas sequer sabe da existência do bullying e, quando tentam explicá-lo a coisa sai mais feia que uma prova de matemática.
A cartilha, em sua primeira edição, tem 14 páginas e, naquela de perguntas e respostas, foi escrita pela psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. O texto é bastante didático e de fácil compreensão. É possível acessá-lo pela internet (www.cnj.jus.br) e, dificilmente não será um atrativo para as vítimas e para os agressores. Todavia, creio que dois cuidados merecem ser tomados:
(1) O famigerado bullying é uma relação entre pares, geralmente alunos/alunas, mas alunos/alunos também o configuram por meio de humilhações e relações de força desiguais. É recomendável não confundir a paixão de um estudante que apelida a colega para chamar atenção com uma violência pura e simples com o objetivo de destruição. Tudo tem suas peculiaridades, conteúdos, sentidos e limites.
(2) O judiciário deve se manter por aí no campo das instituições de ensino as quais tem os seus próprios regulamentos e normas. Não que deve ele se ausentar. Chamo atenção para o risco da "judicialização" das relações nas escolas, que podem resultar em uma avalanche de processos por bullying e, nesse meio, o crescimento forte de um mercado de "danos morais" levados a efeito por um mercado repleto de advogados em busca de notoriedade e ganhos monetários. É imprescindível a manutenção da autoridade do professor nesse processo, sob pena de estarmos construindo escolas do medo, da ansiedade e da insegurança.
Portanto, cumpre às instituições de ensino fazer valer suas normas e regras e que as crianças, adolescentes e jovens não sejam vítimas do próprio processo de aprendizado que, por natureza, é permeado por relações de desconforto, conflito e insegurança. Tomados os devidos cuidados a cartilha é mais do que louvável e a iniciativa mais do que oportuna.