FÉ E AUSÊNCIA DE FÉ (A partir de Henhippe, sob autorização)
Segundo o Aurélio, fé, no sentido religioso é a "crença religiosa; conjunto de dogmas e doutrinas que constitui um culto; a primeira das virtudes teologais; adesão e anuência pessoal a Deus". No Priberam, "adesão absoluta do espírito àquilo que se considera vedadeiro".
No senso comum, no que se refere ao debate sobre se o ateísmo é uma forma de fé, a fé é definida como a crença em Deus sem a necessidade de provas outras que não a própria existência do mundo, dos seres e do Universo em geral.
Dentro desta lógica, convencionou-se afirmar que Deus criou o mundo e a existência do mundo é a prova de sua existência.
A força desta argumentação baseia-se na fé em Deus; isto é, a fé justifica-se a si mesma:
E a discussão
de fé. fecha-se
inquebrável num
círculo
Bem, nenhuma argumentação, em qualquer outra área do conhecimento, sustenta-se a si mesma. É um beco sem saída:
Crê-se em Deus.
Crê-se que Deus criou o mundo.
O mundo existe, logo, Deus existe.
Ponto final.
Não é uma argumentação,
mas fé.
Fé,
apenas.
E não adianta querer argumentar com a fé.
A ausência de provas é exatamente o que justifica o ateísmo. Assim, a descrença em algo intangível, que não é provado, não pode ser definida como fé.
É uma questão semântica. E não apenas religiosa.
Além disto, a quem proclama uma verdade cabe o ônus da prova, se este alguém quer provar algo.
Optar por uma das explicações sobre a origem de um fenômeno, e basear-se no próprio fenômeno para corroborá-la não é argumentação.
Se não se quer porvar nada, basta que se creia e opte-se por divulgar ou não esta fé.
Ao que não crê, não é necessário que apresente prova alguma da não existência da coisa negada, pois a falta de provas, por si só, é o seu argumento, uma vez que não crê na premissa.
Há de se ter em mente que o ateísmo é a impossiblidade pessoal de crença em Deus, seja por opção ou não.
E, em si, não é um movimento contra a fé de outrem, embora alguns ateístas (o mais famoso sendo Richard Dawkins) tomem esta missão como objetivo.
Ao passo que os fiéis em Deus se unem na crença neste, mas dividem-se nos dogmas e doutrinas, os ateus, por outro lado, não possuem um código de conduta moral ou intelctual específicos, não se reunem em estratégias de divulgação nem possuem nada mais em comum entre si que não o materialismo filósofico.
Desta forma, afirmar que o ateísmo é uma forma de fé não é um argumento válido que se contraponha ao argumento ateu de que a existência de Deus carece de provas.
A partir da frase: TER FÉ, de Henhippe.
Indico a leitura do GLOSSÁRIO CIÊNCIA X RELIGIÃO, e de FÉ, DEMOCRACIA e INTOLERÂNCIA, e convido à participação e colaboração com novos vocábulos e/ou argumentações.