UMA EXPLICAÇÃO VÁLIDA PARA O ESTADO DAS COISAS
Sempre fui simpatizante do marxismo sem mesmo conhecê-lo.
Ora, se alguém fala em socialismo ou em comunismo não deverá ser uma coisa boa?
Não será bom sermos todos iguais?
Por que a distinção seria o melhor?
A palavra comunismo vem de comum, e eu sempre quis crer que o outro é igual a mim, somos os mesmos, possuímos o mesmo valor, somos, portanto, comuns.
Sou um comunista nato.
Um professor que tem mais ou menos a mesma idade que eu, explicou o marxismo de uma forma muito boa. E eu acabei entendendo que muitas das coisas das quais vivemos podem ser explicadas por meio de um viés marxista.
Vamos lá!
Para Marx, a infra-estrutura da sociedade é a economia. Ou seja, o alicerce que DETERMINA todos os outros aspectos do que esta sociedade é, é a economia.
A economia como infra-estrutura da sociedade determinaria como seria a superestrutura.
Nesta estariam contidas a política e a ideologia, esta última o professor resolver chamar de mentalidades, que segundo ele caracterizariam melhor a questão ideológica das sociedades de nosso século.
Para Marx, existe apenas a matéria. Ou seja, não há metafísica em Marx, não há o supra-sensível, mas apenas aquilo que é captado pelos sentidos.
E mesmo aquilo que não é captado diretamente pelos sentidos, como as partes ínfimas da matéria (átomos, moléculas, células), sabemos cientificamente sobre sua existência, ou seja, tudo é matéria.
Segundo Marx, que era antes de tudo filósofo, que se baseou nas reflexões do pré-socrático Heráclito para chegar às suas, tudo está em movimento constante. Tudo está em mutação e não há nada que permaneça sempre no mesmo estado, simplesmente nada permanece igual a si mesmo.
Há uma contradição na própria matéria que faz com que ela não permaneça, mas que acabe se transformando devido a ação dos seus contrários existentes no mundo que a circunda.
“Tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Diz a célebre frase do filósofo alemão Karl Marx.
Pela observação do nosso cotidiano, é muito fácil perceber ser verdadeira a constatação de Marx. A começar por nós mesmos que nos transformamos o tempo todo e chegamos finalmente à morte.
Os objetos se desgastam, os relacionamentos interpessoais se dissolvem, impérios mundiais chegam ao fim, e até mesmo nosso planetinha parece que está bem próximo de uma hecatombe.
Marx quis transpor a mutação constante da matéria para a mutação constante da sociedade e de tudo quanto estiver relacionado a esta.
Nisso, a infra-estrutura, o sistema econômico no qual vivemos atualmente, o capitalismo, penetra em todas as relações sociais, em toda a política e em todas as mentalidades. Tudo é passível de virar produto, tudo pode ser comercializado e tudo também possui um preço.
Qual será o nosso preço?
Vamos mais a fundo no marxismo, não um marxismo imaginado e distorcido, mas à profundidade de alguém que pensou muito fundo sobre as relações de toda a sociedade humana.
Sempre pensei comigo sobre qual seria o problema em se ter uma propriedade privada. Não é muito bom cada um ter sua casa, seu canto?
Sim, claro que sim!
Para nós, em nosso tempo, é totalmente aceitável esse tipo de pensamento, mas num tempo remoto a coisa não era bem assim.
As primeiras aglomerações humanas tinham a terra como um bem comum.
Não existia um dono para os terrenos, que são necessários para a produção da alimentação e para a construção das habitações, mas a propriedade, o domínio e usufruto da terra eram de todos.
Mas num belo dia, alguém que era mais forte resolveu dizer que aquela terra que era de todos doravante seria apenas dele. Que confusão esse cara deverá ter arranjado, mas como era mais forte, suportou os ataques e venceu.
Estava instituída a propriedade privada e mais, estava germinando entre os humanos a desigualdade entre os até então iguais.
Ora, a terra agora sendo de um só, o meio de produção necessário para que todos sobrevivam sendo de uma só pessoa traria desdobramentos enormes para todo o resto da história da humanidade.
O agora dono da terra deve ter assim pensado:
Isso agora é meu. E todos precisam do que me pertence. Como levar vantagem nisso?
Estava também instituída a Lei de Gérson.
Ora, se todo mundo precisa de terra para produzir e para morar, os outros agora vão trabalhar na terra para mim. Dou a eles um pouco para que não morram tão depressa e o resto é meu. E, melhor ainda, não vou precisar mais trabalhar!
Isso não é um golpe de gênio?
A divisão do trabalho social nascia então. Nascia a classe dos proprietários dos meios de produção e a classe daqueles que possuem apenas a sua força de trabalho.
Vamos em frente no marxismo. Já ouvi dizer que a maior virtude do marxismo é fazer o sujeito pensar. Acredito que essa frase é para desqualificar o pensamento de Marx.
Marxismo é muito mais que isso e explica muita coisa, é muito mais do que simplesmente pensar aleatoriamente como quer o autor da frase.
O sistema econômico vigente sobre nós, o capitalismo, sem dúvida, depois de ter entendido a explicação marxista da sociedade, determina todas as outras relações sociais.
TODAS!
A política é determinada pelo capitalismo, as mentalidades são determinadas pelo capitalismo, a religião é capitalista ao extremo, as relações familiares são determinadas pelo capitalismo, enfim, tudo que pudermos observar está eivado de capitalismo por todos os lados.
O que é a política hoje senão o lugar daqueles que detém poder econômico?
Haverá uma bancada parlamentar dos catadores de papelão?
Claro que não!
Mas haverá parlamentares que defendem os interesses dos banqueiros, que são financiados por grandes construtoras; há uma bancada dos grandes produtores rurais e dos mega-empresários, dos fabricantes de armas.
Quem são estes atores senão os possuidores do grande capital?
Suas decisões políticas, legislativas, serão em que sentido?
Tenho certeza, e quero também ter a certeza de que o meu leitor não acredita que esses seguimentos sociais estarão defendendo o interesse das mães que não têm creche para colocar os seus filhos.
Posso pensar assim? Vocês deixam?
Conseguirá alguém contrariar o argumento de que a política é totalmente determinada pelo sistema econômico vigente, o capitalismo?
Ora, Marx tinha razão aqui! Será que no caso da ideologia, das mentalidades, ele estaria enganado?
Qual será hoje o sonho dourado de todo homem e mulher?
Ter uma bela casa, um ou mais ótimos belos e caros carros, ter uma bela e rechonchuda conta bancária, um emprego em que fosse chefe, de preferência; uma casa na praia, uma no campo, os bens de consumo que todos querem como celulares, computadores, notebooks, MP3s players...
Qual é um dos requisitos básicos nos dias de hoje para que uma mulher aceite casamento com alguém? Que seja bem sucedido financeiramente, oras!
O que é a religião hoje?
A vontade é de rir, pois de religião não sobrou nada.
Hoje o que há são agrupamentos de pessoas com a finalidade de conseguir todos aqueles sonhos de consumo elencados no parágrafo anterior. Os frustrados que não estão conseguindo o que querem, ou que querem mais do que estão conseguindo resolvem apelar para esse ‘deus’ que colaborará com o seu enriquecimento.
É claro, o sacerdote, o bispo, o apóstolo, o padre, o pastor, o lama, e todos os representantes do divino merecem também o seu quinhão.
A religião hoje é outro QG do capitalismo.
É uma reunião de capitalistas que se esqueceram que o deus que eles pretendem louvar está morto. Há apenas uma sombra dele, alguma coisa dele que paira no ar, mas não conseguimos nos livrar completamente de seu cadáver, tão crianças como somos, estamos ainda fadados a continuar a orar frente ao seu sepulcro.
Enfim, depois de tudo isso, Marx não explica e muito bem a sociedade em que vivemos? Não está ele completo de razão quando diz que o capitalismo, ou melhor, qualquer sistema econômico vigente, está totalmente entranhado em tudo quanto há de relações sociais?
Nunca houve um socialismo ou comunismo de fato, mas tentativas frustradas. Não se pode confundir as experiências muito mal baseadas no marxismo como experiências marxistas.
O pensamento de Marx continua vivo, atual e quase totalizante.
Conhece pouco de civilização, de seu tempo e de sua história aquele que se refere ao marxismo com desprezo, ou sem ao menos fazer com ele uma análise mais demorada.
O marxismo faz mais do que apenas fazer pensar, este responde muitas das questões atuais e continuará a responder por ainda muito tempo.
Isso se a estupidez de nossos contemporâneos permitir. Morro de medo de fogueira feita com livros.
Cruz credo!