Mineiros isolados no Chile: empatia, claustrofobia e solidariedade!

Há assuntos que parece ficar esperando pelos escritos da gente. Ele fica ali, teimando em desaparecer dos pensamentos. Por mais que a gente tente se livrar, ali está como um obstáculo, como um desafio a ser resolvido, como uma pedra a ser removida do nosso cotidiano. Como escreveu o poeta Drummond,

“Havia uma pedra no meio do caminho....”

Digo isto para confessar, aos caros colegas do recanto, que o drama dos mineiros no Chile, há tempos vem merecendo minha atenção e intenção de manifestar-me a respeito do problema ocorrido com os mineiros que ficaram isolados no interior da terra.

No meio do caminho havia uma pedra...”

Mas eu não queria simplesmente falar a respeito do problema ou ecoar as notícias dos meios de comunicação. Queria falar de uma maneira que deixasse bastante claro meus sentimentos empáticos e de solidariedade com os homens que sobrevivem há dois meses sobre o manto que pisamos, pois

"Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti." (John Done)

Assim, de uma certa maneira, que é difícil explicar, me parece que um pouco de todos nós permaneceu/permanece, ainda debaixo da terra, ao lado dos mineiros isolados. A intenção de revelar tais sentimentos é comungar com outras pessoas as sensações que me inundam, me carregando para o mar da humanidade.

A esse sentimento que me leva sopesar o sofrimento dos homens isolados, na demora longa dos dias enquanto o resgate não vem, numa vida tecida dia a dia sem a fulgurante luz do sol, nos momentos de angústia pensando se o resgate dará certo, na saudade desmedida dos filhos, esposas, amigos e parentes, dá-se o nome de empatia (." Na psicologia e nas neurociências contemporâneas a empatia é uma "espécie de inteligência emocional" e pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva - relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva - relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.)

Essa capacidade empática, de minha parte foi tão forte, que pude também, experimentar reações emocionais por meio da observação alheia, no caso em questão, a claustrofobia ( a fobia que se caracteriza pela aversão ao confinamento ou a lugares fechados, ex. elevadores, trens, comboios, aviões, túneis fechados eo outros, sem que se esteja passando por um perigo real.)

Então minha empatia me levou á claustrofobia. Um assombro, um certo medo de imaginar as condições nas quais, os trinta e três mineiros ficaram isolados de tudo e de todos. Como é estar naquele lugar? Como seria estar no lugar deles? O que eu pensaria? Como seriam minhas reações? O que mais me afligiria estando isolado da forma como os mineiros estavam? Pensar na situação, no local totalmente fechado, sem poder sair, sem poder ler, sem poder ver o sol, sem isto e sem aquilo mais, pensar no tempo estimado de três meses para levar a cabo o salvamento deles, os familiares acampados nas imediações acompanhando o trabalho do resgate, me fez sentir uma dor imensa, uma compaixão tamanha que algumas vezes me tirou o sono na madrugada. Não sendo o homem uma ilha, o sofrimento deles também me afetou. A notícia de que um pequeno orifício feito através da terra permitia fazer chegar até aos mineiros isolados, ar, água, alimento e remédios, me fez pensar num útero e no cordão umbilical. Mensagens de esperança, escritas por seus familiares, foram postadas aos mineiros através deste cordão.

Mensagens de esperança, também, foram dirigidas através de novenas e orações de pessoas do mundo inteiro. Esse drama ecoou de tal maneira que os governos se solidarizaram para salvar os homens isolados. Os Estados Unidos da América, através da NASA (Agência Espacial Americana) mandou especialistas em manutenção da saúde física e psicológica, com experiência adquirida no treinamento dos astronautas americanos, para ajudar na orientação dos mineiros isolados; a JAXA (Agência de Exploração Aero- Espacial do Japão), encaminhou roupas especiais que absorvem odores e combate bactérias; a Marinha Chilena foi encarregada de confeccionar as cápsulas de aço que serão utilizadas para retirar os mineiros debaixo da terra; o governo do Chile, juntamente com a empresa mineradora providenciaram especialistas para promover a operação de resgate. E as últimas novas dão conta de que, a operação, tem sido um sucesso e os mineiros poderão ser resgatados dentro de poucos dias.

Felizmente, este drama que suscitou em mim e em tantas outras pessoas sentimentos empáticos e claustrofóbicos parece estar chegando ao fim.

O alvissareiro de tudo isto é que apesar de todas catástrofes, todos os problemas mundiais (guerras, fome, destruição e outros) ao menos neste episódio, homens e nações foram capazes de se dar as mãos para promover o bem.

Como um alento para todos nós, a humanidade agoniza, porém reluta em morrer!