TIVE UMA COISA
Gente, a passeata do dia 19 de setembro vai ficar marcada para sempre em mim. Pode até soar falso aos ouvidos de quem está acostumado a comícios e encontros daquele tipo, mas eu quase perdi minha flecha junto da tribo que eu resolvi “adotar" ou ser "adotada” por ela.
A princípio estava tudo marcado para eu me encontrar com Márcia Garcês neste evento. Eu ia publicar outro artigo sobre os deficientes e ia falar do livro de minha amiga, mas parecia que as coisas davam contra...
Primeiro eu acordei cansada, pois na noite anterior eu trabalhei muito e acabei dormindo sentada numa cadeira, Pela manhã a única coisa que me veio à idéia foi ligar para o celular de Márcia dizendo que eu estava inválida para qualquer cobertura de qualquer evento social. Ela me disse: “Toma banho, coloca qualquer roupa e venha aqui agora! Faça isso por mim!”
Eu não queria ouvir aquilo, mas fui, mesmo sem a menor condição para isso.
Falavam de um palanque, num trio elétrico que caminhava devagar, apesar de todos os cadeirantes andarem mais rápido que o tal carro e eu mesma. Mas outras pessoas, com necessidades mais do que especiais estavam no grupo, portanto a coisa tinha que ser democrática e acessível a todos. Uma moça (que ainda não sei o nome) traduzia tudo para os sinais dos surdos, uma vez que devia existir muitos por perto.
Eu ouvia músicas muito legais, inclusive de compositores sobre quem falarei em breve, Só que o que chamou a minha atenção - e de todos ali - foi uma adolescente com centímetros de altura e sem olhos. Ela tinha uma voz de criança e muito afinada. A música que ela cantava era linda, mas eu esqueci a letra e só lembro da palavra MEL.
Eu pensei que eu era a única a me emocionar, mas ao olhar para a turma que seguia o carro, eu me vi diante de para uma moça com síndrome de Down. Ela chorava muito. Eu fui à Copa para fotografar e fazer a cobertura de um evento, enquanto escondia a minhas lágrimas, pois uma pretensa repórter não pode perder a pose, não é?...
Pois bem... Aquilo me dava um certo nervoso, pois eu queria sentar na calçada e deixar diluir meu pancake, então resolvi sair do grupo e fotografar bêbados, políticos, o hotel Copacaba Palace, um artesão e o mar, mas a música e a voz da menina me acompanhavam. Eu não podia deixar de extravasar alguns mililitros de líquido das glândulas lacrimais...
Eu me perdi de Márcia e acabei sentada num banquinho bem de frente ao mar naquele frio horroroso. Eu pensava com os botões de minha calça jeans “Que foi que eu vim fazer aqui, po?!”.
Eu não fui lá pra nada... Nada do que eu fiz teve importância, mas o que eu vi e o que eu senti fez muito efeito em mim e em minha vida.
Artigo e Fotografia
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com
Gente, a passeata do dia 19 de setembro vai ficar marcada para sempre em mim. Pode até soar falso aos ouvidos de quem está acostumado a comícios e encontros daquele tipo, mas eu quase perdi minha flecha junto da tribo que eu resolvi “adotar" ou ser "adotada” por ela.
A princípio estava tudo marcado para eu me encontrar com Márcia Garcês neste evento. Eu ia publicar outro artigo sobre os deficientes e ia falar do livro de minha amiga, mas parecia que as coisas davam contra...
Primeiro eu acordei cansada, pois na noite anterior eu trabalhei muito e acabei dormindo sentada numa cadeira, Pela manhã a única coisa que me veio à idéia foi ligar para o celular de Márcia dizendo que eu estava inválida para qualquer cobertura de qualquer evento social. Ela me disse: “Toma banho, coloca qualquer roupa e venha aqui agora! Faça isso por mim!”
Eu não queria ouvir aquilo, mas fui, mesmo sem a menor condição para isso.
Falavam de um palanque, num trio elétrico que caminhava devagar, apesar de todos os cadeirantes andarem mais rápido que o tal carro e eu mesma. Mas outras pessoas, com necessidades mais do que especiais estavam no grupo, portanto a coisa tinha que ser democrática e acessível a todos. Uma moça (que ainda não sei o nome) traduzia tudo para os sinais dos surdos, uma vez que devia existir muitos por perto.
Eu ouvia músicas muito legais, inclusive de compositores sobre quem falarei em breve, Só que o que chamou a minha atenção - e de todos ali - foi uma adolescente com centímetros de altura e sem olhos. Ela tinha uma voz de criança e muito afinada. A música que ela cantava era linda, mas eu esqueci a letra e só lembro da palavra MEL.
Eu pensei que eu era a única a me emocionar, mas ao olhar para a turma que seguia o carro, eu me vi diante de para uma moça com síndrome de Down. Ela chorava muito. Eu fui à Copa para fotografar e fazer a cobertura de um evento, enquanto escondia a minhas lágrimas, pois uma pretensa repórter não pode perder a pose, não é?...
Pois bem... Aquilo me dava um certo nervoso, pois eu queria sentar na calçada e deixar diluir meu pancake, então resolvi sair do grupo e fotografar bêbados, políticos, o hotel Copacaba Palace, um artesão e o mar, mas a música e a voz da menina me acompanhavam. Eu não podia deixar de extravasar alguns mililitros de líquido das glândulas lacrimais...
Eu me perdi de Márcia e acabei sentada num banquinho bem de frente ao mar naquele frio horroroso. Eu pensava com os botões de minha calça jeans “Que foi que eu vim fazer aqui, po?!”.
Eu não fui lá pra nada... Nada do que eu fiz teve importância, mas o que eu vi e o que eu senti fez muito efeito em mim e em minha vida.
Artigo e Fotografia
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com
Poderão entender melhor este texto quando lerem os artigos sobre o tema, em ordem alfabética, nos capítulos sobre "ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO SOCIAL", "MÁRCIA GARCES" e "NA PASSEATA", no Espaço Cultural de Dona Menô:
http://www.clubedadonameno.com/devaneios/menu_novo5.asp
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