Moda: uma realidade ética e estética
Joacir Soares d’Abadia*
A moda é sempre ditada pelos criadores, os estilistas. Mas isto não cabe dizer que a moda não tenha limites. Neste caso, o limite da moda perpassa toda cultura, não só por ser variante, mas sobretudo, pelo limite mesmo da moda. Segundo o filósofo Saussure, “a moda, que fixa nosso modo de vestir, não é inteiramente arbitrária: não se pode ir além de certos limites das condições ditadas pelo corpo humano”.
Qual é, então, os limites da moda? Os limites da moda são as condições ditadas pelo corpo e a ética. Deste modo, se o limite da moda é o corpo humano _ no seu modo de vestir _, porque modelos desfilam nuas nalgumas passarelas? O nu, por acaso, não ultrapassa os limites da moda? O que é, pois a moda?
A moda é uma arte de cobrir o nu. Ela como arte “conseguiu estabelecer uma ponte entre a beleza e a vida. A moda é uma arte que se usa, que se leva para a rua; é uma arte de consumo a que todos têm acesso” diz o filósofo Manuel Fontán de Junco.
Esta função de vestir para cobrir o nu leva-me a questionar sobre até que ponto algumas aberrações nas passarelas são realmente moda ou se são algo imoral que se convertem em redutos nos quais continua a considerar a mulher como uma “coisa” sexual.
Esta coisificação da mulher presente no “mundo fashion” elimina completamente, não só a sua dimensão transcendental, como os valores que as constituem como pessoa. Esta coisificação pode ser visualizada em diversos contextos, como nos desfiles de moda nos quais as “top models” são “obrigadas” a se adequarem à roupa proposta pelo estilista, enquanto deveria ser o contrário, a roupa é que deveria adequar-se ao seu corpo. Com isso, as “top models” se igualam ou se rebaixam à coisa, na sua consciência e no seu espírito deixando de lado sua dignidade enquanto pessoa.
Segundo a filósofa Ana Sánchez de la Neita, “o desenhista não pode esquecer a dignidade da pessoa ao concretizar as suas criações. A roupa tem que servir para salientar essa dignidade; por isso têm sentido as críticas que se fazem a um tipo de moda que mostra a mulher como um objeto”, ou seja, como uma coisa.
As implicações éticas e estéticas que a moda deve suscitar na sociedade são: primeiramente um respeito à dignidade da pessoa e depois educar estas pessoas em relação à fealdade, ao gosto pelo exagero, pela extravagância, pelo disforme e o agressivo... E, por fim, considerar as palavras do estilista Ted Lapidus sobre a elegância: “saber se olhar com os olhos dos outros”. Ou seja, vestir bem consiste levar em conta não somente o gosto particular, mas antes de tudo, é necessário considerar o outro e, consequentemente, a sociedade a qual se está inserido.
*Joacir Soares d’Abadia, diácono
Fez Filosofia no SMAB
Autor dos livros: “Opúsculo do conhecer” (Agbook) e
“A Igreja do ressuscitado” (Virtual Books)
E-mail: joacirsoares@hotmail.com