FAST-FOOD É FODA!

As indústrias alimentícias, estejam elas dedicadas aos chamados fast- foods – hambúrgueres, cachorros-quentes, pizzas e outras “guloseimas” - ou não, têm agora um forte adversário pela frente: a regulamentação. Vem dos EUA o exemplo de um documentário em vídeo produzido pelo cineasta Morgan Spurlock em 2004: “Super Size Me” – no qual Spurlock segue uma sofrível dieta à base de alimentos da rede McDonald’s, ao consumir seus produtos em todas as refeições diárias. Ao iniciar a empreitada, o cineasta contava com uma rotina alimentar saudável e não apresentava problemas de saúde. Contudo, tudo mudou ao final da dieta: Spurlock ganhou mais de 10 kg, sofreu grandes aumentos de massa corporal, variações de humor, danos ao fígado e ao desempenho sexual. O cineasta precisou de mais de um ano para recuperar sua saúde.

A iniciativa “suicida” de Morgan Spurlock, além de ter sido motivada pela crescente obesidade inerente à sociedade estadunidense, provocou abalos na publicidade do McDonald’s. Após a veiculação do documentário, a lanchonete criou pratos aparentemente saudáveis, como sucos naturais e saladas. Mas atualmente, nos EUA, somente o condado de Santa Clara restringiu a publicidade à rede já citada e também ao Burger King.

As crianças são tidas como principais vítimas da publicidade, tanto nos EUA, em alguns locais da Europa Ocidental e no Brasil. Com os níveis de obesidade infantil crescendo a olhos vistos - um salto de 8,3% para 18% entre 1989 e 2003 não são dados desprezíveis – A ANVISA cogita impor restrições à publicidade dos fast-foods, o que obviamente não agrada aos fabricantes. Estes alegam que os consumidores têm livre-arbítrio no que tange à alimentação e que a quantidade de calorias é o que deveria apenas ser levada em conta, pouco importando se estão contidas em um pastel ou em folhas de agrião – todavia, ponderemos que é preciso muito agrião para empatar em calorias com um simples pastel frito.

No caso de a ANVISA vir a utilizar sua hipotética medida, isto evidentemente provocará uma verdadeira revolução na publicidade alimentar. As crianças são um importante filão da propaganda. Seus pueris olhos brilham diante da batata frita dourada, do hambúrguer vermelho-escuro, do pão repleto de gergelim e até da alface verde-clara, frequentemente desprezada no prato de comida. As cores empregadas nas logomarcas e símbolos das redes não deixam por menos, ao recorrerem a cores quentes e apetitosas como vermelho e amarelo, mascotes animados e um ambiente aconchegante. Além dos brindes e “combos”, como brinquedos de uma determinada série animada ou conjuntos constituídos por sanduíche, fritas e um copo de refrigerante de meio litro. Poderiam os profissionais da publicidade empregarem todos os encantos da comida rápida e pouco nutritiva sem recorrer ao apelo infantil, responsável também por empurrar muitos pais, irmãos, tios e primos à lanchonete?

Fazer refeições em lanchonetes de grife está presente no aspecto da identidade social. Locais como Habib’s, Bob’s, Subway, Pizza Hut e outros são colocados em pontos privilegiados da rede urbana. Reunir os amigos ou convidar uma pessoa especial para comer em lugares desse porte é socialmente estimulante, contém ares de novidade, descontração e otimismo. No senso comum, não se trata apenas de entupir-se de uma iguaria cheia de açúcar, gordura e sal e saciar o desejo da gula. É o bem-estar contido no que uma simples marca representa. Então, que a ANVISA faça como bem entender. Os publicitários já contam com outro caminho de promoção de marcas.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 10/09/2010
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