QUEM É JESUS?
"Minha carne (pão) é verdadeira comida...
Quem de mim se alimenta, por mim viverá"
(Jo 6, 55.57).
Seguramente não devo ser o único a formular está pergunta: "quem é Jesus?", ou ainda: "qual a Sua missão?", "como entendê-Lo?", "o que sei a Seu respeito?". São jorros de vozes vindas do passado, se unido as nossas e ecoando no futuro desconhecido. Somos muitos, na mesma voz, na mesma procura.
Durante estes dois mil anos de Cristianismo muito se produziu na tentativa de responder tais indagações. O catecismo, a dogmática e a teologia, respaldadas pela tradição, montaram um arsenal de postulações, de esclarecimentos conceituais chamado de Cristologia.
Num mergulho as águas profundas da Cristologia, encontramos um dado básico e indiscutível: "Jesus Cristo é verdadeiramente homem e Deus". É Deus, pois é Ele da mesma natureza do Pai, participante da essência divina, consubstancial ao Pai, é o próprio Deus. O Cristo que caminhou pela Palestina e bebeu do conhecimento judaico é o mesmo que ressuscitou. Eis o campo da fé, eis o exercício do crer.
Fiquemos atentos: Jesus Cristo reforça a nossa caminhada pincelando com a história a fé que habita em nós. Sabemos que os seguidores do Salvador (I Ts 5,9) O conheceram, viu-O morto, pregado numa cruz condenado pela maldade do Império Romano e sob a pressão dos fariseus, saduceus, dos maiores do povo de Israel e, por fim, do mesmo povo. E quando tudo parecia terminado, eis que o experimentam vivo. E todos gritavam uníssono que Ele ressuscitou. Portanto, a fé em Jesus Cristo nos alcançou pelos relatos da comunidade de discípulos, pelas experiências dos 'com Jesus'.
Nossa geração, a exemplo das anteriores, busca aprofundar-se em Jesus, buscando refletir Suas representações, construindo quatro definições necessárias de Jesus Cristo: o Jesus Real, o Jesus Histórico, o Jesus Teológico e o Jesus da Fé.
Embora os Evangelhos não contenham cunho biográfico e não tenham sido escritos com o intuito de ser um tratado científico, eles revelam um Jesus Real, um Jesus tal qual existiu. Encontramos pequenos registros de historiadores da antiguidade que mencionavam o Jesus que vemos desenhados nos quatro livros sinópticos, tudo o que realmente Ele pensou, fez e disse. Contudo, Cristo realizou outras ações, mencionou outras palavras que são desconhecidas, pois nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seriam precisos para escrevê-Las.
Observando o Jesus Real encontraremos embutido o Jesus Histórico, ou seja, historicamente existente, respirando os ares do Seu tempo, comungando de princípios com seus contemporâneos. Portanto, plena humanidade. O Jesus histórico tem realmente rosto humano, consciência humana, coração e sentimentos humanos, tem uma fé que gera e movimenta os seus discípulos e discípulas. Reconhecer a humanidade de Cristo não é colaborar com tantas heresias que negam a Sua divindade, mas, combater a heresia dominante em toda a Igreja atual que fecha os olhos para a Sua humanidade.
A trajetória da Igreja com os concílios, principalmente nos quatro primeiros: Nicéia (325 d.C.), Constantinopla (381 d.C.), Éfeso (431 d.C.) e Calcedônia (451 d.C.), foram determinantes para a edificação do Jesus Teológico. Diante das heresias que ameaçavam o elo entre a Igreja e o Império Romano, tornou-se necessário definir dogmas cristológicos que surgiram dos quatros concílios, já mencionados, que eram comparados aos quatro evangelhos. O problema é que de fato eles substituíram os evangelhos e desbotaram o Cristo histórico.
Os primeiros discípulos encontrando-se com o Jesus histórico, saboreando pessoalmente de Seus ensinamentos, passam a correspondê-Lo com a fé. Logo, o Jesus da fé é a aceitação do Jesus histórico na prática de fé das primeiras comunidades, presente nos Evangelhos e nos Escritos posteriores.
Agora resta-nos descobrir em qual Jesus cremos; qual Bíblia lemos e como a interpretamos; a qual Igreja estamos em comunhão; quais são os nossos princípios éticos e espirituais, porque muitas vezes caímos na idolatria da perversão da imagem de Jesus Cristo. Relacionamos-nos com esse Jesus espetaculoso, mirabolante, magnificente que habita os céus e está elevado, para alienar a consciência e retirar a responsabilidade social e a execução da justiça, afinal 'Cristo tudo pode!'.
No sistema de globalização do mercado, inspirado na ideologia neoliberal, criadora do capitalismo selvagem, assistimos retratada não só uma realidade de empobrecimento, mas também a da exclusão. Hoje, os pobres são majoritariamente excluídos: como mão-de-obra, como consumidores, como assalariados; os pobres simplesmente não existem, vivem no silêncio e na obscuridade; sua morte não afeta o sistema e, portanto, não faz sentido investir em saúde e educação.
Fazer uma experiência com o Jesus histórico em união com o Jesus da fé, pois não há como desconectá-Los, é trazer Jesus para atualidade, na opção preferencial pelos os pobres; é contemplá-Lo na imagem do Bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas e parte em busca da perdida (Lc 15,4-7); é questionar a "racional ideologia" do sistema truculento, propondo uma conjuntura fundamentada na vida, sem pobres e sem pobreza, uma sociedade onde caibam todos e todas em harmonia com a natureza.
Como idealizar Jesus? Como percebê-Lo? Seria como o ‘coração puro’ o ‘sagrado coração’? Seria infantilizado em uma imagem estática de menino ou um Jesus exaltado como rei? Todos esses questionamentos tornam-se difíceis mediante tanto ranger de dentes, tantos brados de dor e tanta fome arrasando os miseráveis do mudo. O Jesus histórico é fonte de esperança e libertação.
Ser cristão na época dos Atos dos Apóstolos significava seguir Jesus, fazer parte do Seu movimento. Ser cristão, na modernidade exige enorme mudança, supõe escolha, liberdade. Implica nova navegação, uma forte decisão pelos enfraquecidos, emudecidos, fragilizados e açoitados da pós-modernidade. Isso é ser cristão: imitadores do Cristo, dando continuidade à história.
Ano de 2008
Imagem - Fonte: Google
"Minha carne (pão) é verdadeira comida...
Quem de mim se alimenta, por mim viverá"
(Jo 6, 55.57).
Seguramente não devo ser o único a formular está pergunta: "quem é Jesus?", ou ainda: "qual a Sua missão?", "como entendê-Lo?", "o que sei a Seu respeito?". São jorros de vozes vindas do passado, se unido as nossas e ecoando no futuro desconhecido. Somos muitos, na mesma voz, na mesma procura.
Durante estes dois mil anos de Cristianismo muito se produziu na tentativa de responder tais indagações. O catecismo, a dogmática e a teologia, respaldadas pela tradição, montaram um arsenal de postulações, de esclarecimentos conceituais chamado de Cristologia.
Num mergulho as águas profundas da Cristologia, encontramos um dado básico e indiscutível: "Jesus Cristo é verdadeiramente homem e Deus". É Deus, pois é Ele da mesma natureza do Pai, participante da essência divina, consubstancial ao Pai, é o próprio Deus. O Cristo que caminhou pela Palestina e bebeu do conhecimento judaico é o mesmo que ressuscitou. Eis o campo da fé, eis o exercício do crer.
Fiquemos atentos: Jesus Cristo reforça a nossa caminhada pincelando com a história a fé que habita em nós. Sabemos que os seguidores do Salvador (I Ts 5,9) O conheceram, viu-O morto, pregado numa cruz condenado pela maldade do Império Romano e sob a pressão dos fariseus, saduceus, dos maiores do povo de Israel e, por fim, do mesmo povo. E quando tudo parecia terminado, eis que o experimentam vivo. E todos gritavam uníssono que Ele ressuscitou. Portanto, a fé em Jesus Cristo nos alcançou pelos relatos da comunidade de discípulos, pelas experiências dos 'com Jesus'.
Nossa geração, a exemplo das anteriores, busca aprofundar-se em Jesus, buscando refletir Suas representações, construindo quatro definições necessárias de Jesus Cristo: o Jesus Real, o Jesus Histórico, o Jesus Teológico e o Jesus da Fé.
Embora os Evangelhos não contenham cunho biográfico e não tenham sido escritos com o intuito de ser um tratado científico, eles revelam um Jesus Real, um Jesus tal qual existiu. Encontramos pequenos registros de historiadores da antiguidade que mencionavam o Jesus que vemos desenhados nos quatro livros sinópticos, tudo o que realmente Ele pensou, fez e disse. Contudo, Cristo realizou outras ações, mencionou outras palavras que são desconhecidas, pois nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seriam precisos para escrevê-Las.
Observando o Jesus Real encontraremos embutido o Jesus Histórico, ou seja, historicamente existente, respirando os ares do Seu tempo, comungando de princípios com seus contemporâneos. Portanto, plena humanidade. O Jesus histórico tem realmente rosto humano, consciência humana, coração e sentimentos humanos, tem uma fé que gera e movimenta os seus discípulos e discípulas. Reconhecer a humanidade de Cristo não é colaborar com tantas heresias que negam a Sua divindade, mas, combater a heresia dominante em toda a Igreja atual que fecha os olhos para a Sua humanidade.
A trajetória da Igreja com os concílios, principalmente nos quatro primeiros: Nicéia (325 d.C.), Constantinopla (381 d.C.), Éfeso (431 d.C.) e Calcedônia (451 d.C.), foram determinantes para a edificação do Jesus Teológico. Diante das heresias que ameaçavam o elo entre a Igreja e o Império Romano, tornou-se necessário definir dogmas cristológicos que surgiram dos quatros concílios, já mencionados, que eram comparados aos quatro evangelhos. O problema é que de fato eles substituíram os evangelhos e desbotaram o Cristo histórico.
Os primeiros discípulos encontrando-se com o Jesus histórico, saboreando pessoalmente de Seus ensinamentos, passam a correspondê-Lo com a fé. Logo, o Jesus da fé é a aceitação do Jesus histórico na prática de fé das primeiras comunidades, presente nos Evangelhos e nos Escritos posteriores.
Agora resta-nos descobrir em qual Jesus cremos; qual Bíblia lemos e como a interpretamos; a qual Igreja estamos em comunhão; quais são os nossos princípios éticos e espirituais, porque muitas vezes caímos na idolatria da perversão da imagem de Jesus Cristo. Relacionamos-nos com esse Jesus espetaculoso, mirabolante, magnificente que habita os céus e está elevado, para alienar a consciência e retirar a responsabilidade social e a execução da justiça, afinal 'Cristo tudo pode!'.
No sistema de globalização do mercado, inspirado na ideologia neoliberal, criadora do capitalismo selvagem, assistimos retratada não só uma realidade de empobrecimento, mas também a da exclusão. Hoje, os pobres são majoritariamente excluídos: como mão-de-obra, como consumidores, como assalariados; os pobres simplesmente não existem, vivem no silêncio e na obscuridade; sua morte não afeta o sistema e, portanto, não faz sentido investir em saúde e educação.
Fazer uma experiência com o Jesus histórico em união com o Jesus da fé, pois não há como desconectá-Los, é trazer Jesus para atualidade, na opção preferencial pelos os pobres; é contemplá-Lo na imagem do Bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas e parte em busca da perdida (Lc 15,4-7); é questionar a "racional ideologia" do sistema truculento, propondo uma conjuntura fundamentada na vida, sem pobres e sem pobreza, uma sociedade onde caibam todos e todas em harmonia com a natureza.
Como idealizar Jesus? Como percebê-Lo? Seria como o ‘coração puro’ o ‘sagrado coração’? Seria infantilizado em uma imagem estática de menino ou um Jesus exaltado como rei? Todos esses questionamentos tornam-se difíceis mediante tanto ranger de dentes, tantos brados de dor e tanta fome arrasando os miseráveis do mudo. O Jesus histórico é fonte de esperança e libertação.
Ser cristão na época dos Atos dos Apóstolos significava seguir Jesus, fazer parte do Seu movimento. Ser cristão, na modernidade exige enorme mudança, supõe escolha, liberdade. Implica nova navegação, uma forte decisão pelos enfraquecidos, emudecidos, fragilizados e açoitados da pós-modernidade. Isso é ser cristão: imitadores do Cristo, dando continuidade à história.
Ano de 2008
Imagem - Fonte: Google