Influencia dos Meios de Comunicação na Sociedade Atual Ou Panis et Circenses
É de conhecimento de todos, fatos de nossa nem tão ‘Antiga’ História, que remontam uma sociedade corrupta, cheia de problemas, diferenças em classes sociais, elites dominantes e outros aspectos. Numa sociedade com tais problemas, como manter o povo, que é sempre a maioria, é sempre a base da pirâmide social, contente e não preocupado com a realidade que sempre lhe oprime e acaba o deixando de lado? A resposta é fácil: mantendo-os ocupados com outras coisas que não os problemas sociais. É de conhecimento de qualquer governo, de que a maior parte da população pode, potencialmente, representar certo perigo para eles, com seus defeitos, mentiras, etc. Para que isso não aconteça, o povo deve estar preocupado com outra coisa, com algo que os faça sentir bem, sentir que o governo lhes dá o que precisam. Se estão com fome, lhes dão alguns pedaços de pão e as barrigas se calam, um circo bizarro também é bastante eficiente para manter a população focada em outra coisa. Essa ‘fórmula’ é conhecida como Política do Pão e Circo, onde o governo entrega à população carente alimento e diversão. Enquanto eles estiverem ocupados com algo e com a barriga cheia, não irão criar revolta alguma.
Essa expressão surgiu do livro “Satire” (As Sátiras) do escritor Juvenal, que viveu nos séculos I e II. Esta é a tradução do trecho em que ele cita a expressão “Panem et Circenses”:
“Já há muito tempo, desde quando vendemos o nosso voto para ninguém, as pessoas têm abdicado nossos deveres,
Para as pessoas que uma vez entregaram ao comando militar, alto escritório civil, legiões - tudo, agora se limita e esperar ansiosamente por apenas duas coisas: pão e circo”
Agora você deve pensar, “Felizmente isto é coisa do passado, a sociedade evoluiu e não existe mais este tipo de política, seria totalmente intolerável...”, mas você não está certo.
A televisão se tornou uma arma capaz de potencializar esta política, porém, é de outra forma, muito mais velada do que antigamente. Nos entra pelos poros esta forma de política, de modo que acabamos não percebendo e acreditando que isso é coisa de outro mundo. Mas, obviamente não é apenas a televisão que ajuda a manter o povo “na linha”, jornais, revistas, outdoors nas ruas, a própria moda que se expressa nas roupas das pessoas que enxergamos a toda hora, tudo isso serve para nos manter-mos calados, tirarmos de foco os problemas, ou, nos contentarmos com pouco. É quando os políticos adotam uma posição, uma lei, fazem alguns pequenos ajustes e todos se sentem agraciados por aquela ação, enquanto verdadeiros problemas são deixados de lado, esquecidos.
Além de cumprir o papel da Política do Pão e Circo, a mídia, ou os meios de comunicação, ainda nos induz ao consumismo, fazendo com que nós nos sintamos necessitados de algo, de algum produto que é meramente usual, ou então algum modelo novo, alguma nova tendência. Sempre o “novo”, sempre esta ideia de novidade, de que estamos a frente, somos a vanguarda. Na verdade, não há nada de novo, apenas uma nova roupagem ao produto, apenas uma nova cor aquela roupa, um novo jeito. O que acontece, o que a mídia sugere é uma padronização universal. O paraíso consumista é um planeta onde todos tem os mesmos gostos e desejos, assim ao lançar um produto, ele irá agradar a todos, todos sentiram desejo de comprar e estará garantido o sucesso do mesmo.
Essa padronização, mais do que isso, é uma doença, um problema social criado pela mídia. Estipulam um padrão que jamais pode ser alcançado por ‘reles’ mortais como nós. A magreza da modelo, o estilo do artista, o cabelo da atriz; são todas coisas que só existem nas fotos de revistas, nas telas hi-tech dos televisores das salas de estares. Isso sugere uma imobilidade, tanto fisicamente, quanto mentalmente. Pois usar raciocínio lógico neste meio, é quase como um pecado, porque ameaça as próprias estruturas do sistema, que tende a excluir aqueles que são diferentes.
Para terminar a discussão, deixo alguns versos da música “Panis et Circenses” de autoria de Caetano Veloso e Gilberto Gil, interpretada por Os Mutantes. A canção fala diretamente do tema discutido acima, sobre a padronização e a cultura de massas, além disso, outro ponto importante para a música é que foi escrita durante ditadura militar, por tanto, um exemplo extremo da política do pão e circo na sociedade atual.
“Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer”
Afinal, quantas pessoas são ocupadas em “nascer e morrer”?
Jonathan Rocha