O Kit de Detecção de Fantasias Mediunicas.
Kardec em toda sua obra apresenta um kit para desmascarar qualquer espírito mal intencionado. Todavia nos dias atuais, a analise critica de certas obras ou de alguns médiuns não é bem vista por muitos que se dizem espíritas, esquecendo que a duvida é um dos elementos básicos da doutrina.
O pensamento Espírita se resume no meio de construir e compreender um argumento racional e o que é especialmente importante de reconhecer um argumento falacioso ou fraudulento.
A questão não é se gostamos da conclusão que emerge de uma cadeia de raciocínio, mas se a conclusão deriva da premissa ou do ponto de partida e se essa premissa é verdadeira.
Segundo afirma a filósofa *Marilena Chauí:
Normalmente se imagina que a crítica permite opor um PENSAMENTO VERDADEIRO a um PENSAMENTO FALSO. Na verdade, a CRÍTICA não é isso. Não é um conjunto de conteúdos verdadeiros que se oporia a um conjunto de conteúdos falsos.
A CRÍTICA É UM TRABALHO INTELECTUAL com a finalidade de EXPLICITAR o conteúdo de um pensamento qualquer, de um DISCURSO QUALQUER, para encontrar o que está sendo silenciado por um pensamento ou por esse discurso.
“O que interessa para a crítica não é o que está EXPLICITAMENTE PENSADO ou EXPLICITAMENTE DITO e, que muitas vezes, nem sequer está sendo PENSADO DE MANEIRA CONSCIENTE. Ou seja, a tarefa da CRÍTICA é fazer falar o que está em silêncio, colocar em movimento um pensamento que possa DESVENDAR todo o silêncio contido em outros pensamentos, em outros discursos.
* Chauí, Marilena – Convite à Filosofia. 4ª edição – 1999. Editora Ática
Eis o Kit de Detecção de Fantasias Mediunicas
1º Procurai, na palavra, a sobriedade e a concisão; poucas palavras, muitas coisas.
(Revista Espírita 1862)
2º A doutrina espírita em vez de dizer: “Creia em primeiro lugar e se puder compreenda em seguida”, ele diz: “Compreenda em primeiro lugar, e creia em seguida se você quiser.
(Revista Espírita 1867)
3º “Saibam, pois que tomamos toda opinião exprimida por um Espírito por uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de havê-la submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência Espírita nos forneceu.”. ”
(Revista Espírita 1859)
4º Eu não aceito jamais nada sem exame e sem controle; não adoto uma idéia a não ser que ela me pareça racional, lógica, se está de acordo com os fatos e as observações, se nada de sério a vem contradizer.
(Revista Espírita 1859)
5º Em resumo, é um grave erro o se crer obrigado a publicar tudo que dizem os Espíritos, porque se os há bons e iluminados, os há maus e ignorantes; é importante fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e de descartar tudo que é inútil, insignificante, falso ou de natureza a produzir uma má impressão.
(Revista Espírita 1863)
6º A linguagem dos Espíritos é, portanto, o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los; sendo a linguagem a expressão do pensamento, tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más do indivíduo. Não é sempre pela linguagem que nós julgamos os homens que não conhecemos?
Revista Espírita 1859)
Além de nos ensinar o que fazer na hora de avaliar os livros ditos espíritas, um bom Kit de Detecção de Fantasias Mediunicas deve também nos ensinar o que não fazer.
Ele nos ajuda a reconhecer as falácias mais comuns e mais perigosas da lógica e da retórica. Muitos bons exemplos podem ser encontrados na religião e na política, porque seus profissionais são freqüentemente obrigados a justificar duas proposições contraditórias. Entre essas falácias estão:
Argumentos “ad hominem”, expressão latina que significa “ao homem”. Acontece quando atacamos a pessoa que fala e não o argumento. Exemplo: “Você não vai acreditar na palavra de um negro, não é?!” ou “Fernando Henrique é um péssimo presidente. Também, o que você queria de um sociólogo?!”
Argumento de autoridade, tipo de argumento que se baseia na autoridade de quem fala e não na lógica. Exemplo: “Quem me disse que beber água faz mal foi o Sr.Luís, deputado federal, então só pode ser verdade.” ou “Se o pajé mandou não dar remédios às crianças e esperar os espíritos curarem elas, então é certo. O pajé não erra.”
Argumento das conseqüências adversas, tipo de argumento que tenta validar uma afirmação dizendo que seria impossível se ela não existisse. Exemplo: “Se não existisse um Deus tomando conta de tudo, isso aqui viraria uma bagunça!” ou “Se não matarmos esse bandido, os outros terão certeza da impunidade e a criminalidade vai aumentar muito!”
Apelo à ignorância, a afirmação de que qualquer coisa que não se provou ser falsa é verdadeira, e vice-versa. Exemplo: “Ele não provou que é homem, então ele é homossexual.” ou “Ninguém conseguiu provar que não existe imortalidade, então, na verdade, somos todos imortais.”
Alegação especial, afirmação que recorre a conceitos que seriam inatingíveis para as pessoas comuns (freqüentemente usado para salvar um argumento em profundas dificuldades teóricas). Exemplo: “- Não consigo entender a reencarnação, porque há muito mais gente viva hoje, do que há 10.000 anos. / – Isso é porque você não entende a doutrina dos espíritos.” ou “Você não compreende a magia porque não é um iluminado.”
Petição de princípio (também chamada de Supor a Resposta) é quando se faz uma pergunta direcionada para obter determinada resposta específica. Exemplo: “Você não acha que essa estória é falsa?” ou “No meu lugar você não faria a mesma coisa?”
Seleção das observações (também chamada de enumeração das circunstâncias favoráveis), Francis Bacon definiu essa falácia como “Contar os acertos e esquecer os fracassos.” Exemplo: “O brasileiro é bom de plano econômico, veja quanto tempo o Real deu certo.” (Esqueceu de mencionar os casos em que não durou nem uma semana, como cruzado, cruzado II, cruzeiro real etc.)
Estatística dos números pequenos, falácia parecida com a anterior, mas só que usa números estatísticos de forma errônea. Exemplo: “Dizem que no planeta Terra, em cada cinco habitantes, um é chinês. Que estupidez! Conheço mais de cem pessoas e nenhuma delas é chinesa!”
Compreensão errônea da natureza estatística é quando se pega uma estatística e se interpreta livremente, sem compromisso com a realidade. 10. Incoerência tomar certa atitude para certos casos, e outra para outros.
“Non Sequitur” expressão latina que significa “não se segue”. Dizer uma coisa que não tem nada a ver com outra. Exemplo: “O América vai ganhar esse jogo por que Deus é grande!” ou “Nosso país é muito rico, por isso temos inflação.”
“Post Hoc, Ergo Propter Hoc” expressão latina que significa “se aconteceu depois de um fato, foi causado por ele”. Exemplo: “Você notou que o El Niño só fez aquele estrago todo depois que o Fernando Henrique se elegeu. Esse cara causa todos os males.” ou “Depois que você disse que estava tudo errado, tudo começou a dar errado na minha vida.”
Pergunta sem sentido, pergunta que traz em si uma incoerência. Exemplo: “O que aconteceria se uma força irresistível atuasse sobre um corpo imóvel?” (Se uma força é irresistível, nenhum corpo está imóvel) ou “Você entende que Deus criou o demônio para exercer mais controle sobre os humanos?”
Exclusão do meio-termo ou dicotomia falsa, argumento que só considera os dois extremos entre várias possibilidades. Exemplo: “Se você não está do meu lado, está contra mim!” ou “ou você acredita em Deus, Jesus Cristo, em todos os santos, na infalibilidade do Papa ou você é um ateu!”
Curto Prazo versus Longo Prazo subconjunto da falácia anterior, mas muito comum. Exemplo: “Não podemos investir mais em educação porque o problema da violência precisa de solução mais imediata.”
Declive escorregadio, caso em que se aceitamos um meio termo, ele necessariamente conduzirá a algum extremo. Exemplo: “Se você deixar o aluno ir fazer xixi uma vez, ele vai acabar querendo ir toda hora e aí vai virar bagunça.” ou “Na hora em que começarem a permitir o uso de armas pequenas, logo todos terão armas enormes.”
Confusão de correlação e causa argumento em que uma coincidência estatística, é entendida como causa. Exemplo: “Mais de 50% dos homossexuais têm curso superior, conclui-se que estudar transforma a pessoa em homossexual.”
Espantalho, argumento que ridiculariza uma posição intelectual para facilitar o ataque. Exemplo: “Não posso apoiar alguém que se diz filho de macacos!” (para ridicularizar o Darwinismo).
Evidência suprimida ou meia verdade, o mesmo que apresentar uma evidência escondendo alguns detalhes que a invalidariam. Exemplo: “Este bairro está muito violento, só ontem morreram duas pessoas.” (ele só não disse que as duas morreram de causas naturais).
Palavras equívocas utilizar eufemismos, ou seja, outras palavras “enfeitadas” para designar conceitos desagradáveis cujas verdadeiras palavras tenham conotação negativa. Exemplo: Ela é minha ajudante (Em lugar de empregada doméstica) Ele vivia de caridade pública" (em vez de "esmolas")
Conhecer a existência dessas falácias lógicas e retóricas completa O Kit de Detecção de Fantasias Mediunicas.
Agora cabe a você, aplicar isto aos livros ditos espíritas, para detectar se realmente são espíritas ou espiritualistas.
Francisco Amado