AS OUTRAS FACES DAS TRÊS MOEDAS

Li, recentemente, na coluna OPINIÃO, do Diário de Pernambuco, o excelente artigo “As três moedas”, de autoria do empresário Antenor Lino. Ele narrou com detalhes uma cena bastante curiosa que aconteceu no Shopping Center Recife, onde uma senhora lhe deu três moedas, simplesmente por vê-lo em uma cadeira de rodas. Antenor, um empresário e executivo bem sucedido, ao ver as três moedas em sua mão direita, olhou para aquela mulher e lhe disse: “a senhora não está entendendo, eu não preciso destas moedas”.

Mas a mulher apertou a sua mão e lhe respondeu: “aceite-as, é pouco, mas é de coração”, e foi embora.

Com esse fato, como ele mesmo narrou, Antenor compreendeu que “a sociedade tem o seu mundo, os seus hábitos, os seus paradigmas, a sua cultura” e que “aquela senhora foi muito mais generosa do que caridosa”.

Tanto quanto Antenor, sua esposa e seus amigos, eu fiquei surpreso ao saber daquele fato e concordei com ele a respeito da nossa sociedade, mas é preciso lembrar que existem as outras faces das moedas, pois enquanto aquela senhora se compadeceu dele, acreditando que só os pobres têm “problemas” e tentou amenizar o “sofrimento” de um deles, outros utilizam a miséria do povo para levar vantagem.

Devido às catástrofes ocorridas em Pernambuco e Alagoas com as chuvas da semana passada, onde milhares de pessoas perderam tudo o que tinham, nós pudemos constatar as outras faces dessas moedas. Enquanto milhões de brasileiros, de todos os recantos do país, agiram com generosidade enviando roupas, comidas, dinheiro e até prestando serviços voluntários, para ajudar os desabrigados da cheia, outros elementos dessa dita sociedade, passaram a tirar proveito da situação com o intuito de ganhar dinheiro fácil.

Um garrafão de água mineral, que custa em torno de três reais, passou a ser vendido pelos aproveitadores da miséria do povo, por até quinze reais. São esses “cidadãos” que se encontram nas esquinas e bares da vida para falar mal dos políticos e dizer que todos são corruptos. Que todos calçam quarenta. São esses mesmos “cidadãos” que dizem querer ver os políticos corruptos na cadeia e que nas eleições votam nas piores espécies de políticos em troca de cargos comissionados para eles ou para alguns de seus parentes.

São esses mesmos “cidadãos” que jogam lixo nas ruas, compram e vendem sem notas fiscais para não pagar impostos, oferecem propinas aos policiais rodoviários quando são pegos com os documentos do carro atrasados ou dirigindo embriagados. Esse tipo de “cidadão” participa da mesma sociedade descrita pelo empresário Antenor Lino e representa as “outras faces” das moedas daquela senhora generosa que o ajudou no Shopping.

Nas “três moedas” descritas por Antenor, ele acredita que “a sociedade vai evoluir” e que, “em ambos os mundos, o melhor mesmo é sorrir e nunca chorar”, porém nas outras faces dessas moedas, que vimos nas atitudes de quem explorou a miséria dos flagelados da cheia, chorar, talvez seja a melhor opção.