Educação, Sustentabilidade e Política
Educação, Sustentabilidade e Política
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular de Biologia/ FATEA/Lorena/SP)
Sustentabilidade é um termo que já pode ser considerado relativamente velho, criado a partir da idéia de Desenvolvimento Sustentável definida por Ignacy Sachs, na década de 1980. Segundo o citado autor, o desenvolvimento sustentável é aquele que garante o crescimento econômico, a equiparação social e o equilíbrio ambiental. Isto é, a sustentabilidade é aquela característica que mantêm equalizados três aspectos fundamentais o meio ambiente, a sociedade e a economia. De acordo com o próprio Sachs, referendado por vários outros autores, não é possível pensar em outra forma de desenvolvimento, porque essa é a única maneira de garantir a manutenção da qualidade de vida do planeta. Bem, essa é a fala dos homens da Ciência.
Por outro lado, fica muito difícil falar sobre qualquer assunto quando a população não o conhece e consequentemente não está devidamente preparada para entendê-lo, aceitá-lo e assim, de alguma maneira, tentar colocá-lo em prática. Está é exatamente a situação em que se encontra a tão badalada, porém muito pouco entendida, sustentabilidade. A palavra sustentabilidade está na moda aqui no Brasil e no mundo, mas ao que parece é só isso, porque as coisas, pelo menos aqui no nosso país, continuam acontecendo da mesma maneira, sem nenhuma preocupação efetiva com as idéias estabelecidas pelo conceito de sustentabilidade. Quer dizer emprega-se um termo, mas não se pratica, nem de longe, os conceitos abrangidos por esse mesmo termo.
A palavra sustentabilidade agora está inserida no contexto de tal forma que virou linguagem comum, ou melhor, linguagem viciada, de tanto que se repete. Isso deveria ser um bom negócio, mas infelizmente essa não é a verdade. O conceito de sustentabilidade não está sendo, de maneira absolutamente nenhuma, assumido pela sociedade de forma clara e abrangente como deveria, pois as premissas em que se usa o termo não são nada sustentáveis. Ao invés de se popularizar um conceito, na realidade apenas se vulgarizou mais uma palavra, a qual se relacionou erroneamente com a o crescimento econômico. Infelizmente, a sustentabilidade que é extremamente necessária ao planeta e ao ser humano, virou lugar comum, mera citação, que não demonstra absolutamente nada a ninguém, daquilo que pretendia como filosofia, pois suas vertentes ambientais e sociais são mascaradas pela idéia econômica imperante.
Em suma fala-se em sustentabilidade por simples modismo e isso lamentavelmente é bem pior do que se não se falasse nada sobre o assunto, porque assim não se poderia iludir tanto as pessoas e as organizações como até aqui se tem feito. Pior do que o não entendimento de um conceito é o seu entendimento errôneo. No que diz respeito à sustentabilidade, é exatamente isso que está acontecendo, pois se continua colocando o econômico antes de tudo, o que não se traduz como sustentabilidade. Atualmente quase todo projeto a ser desenvolvido traz a citação da palavra sustentabilidade no seu escopo. Entretanto, a maioria desses projetos não exerce nenhuma ação metodológica que sustente a aplicabilidade efetiva da sustentabilidade em si, a preocupação continua sendo única e estritamente econômica, as outras duas componentes do conceito continuam sendo deixadas de lado ou, quando muito, estão relegadas ao segundo plano.
Quer dizer a humanidade, mesmo sem saber, tem mais um grande problema para resolver, ou seja, entender efetiva e corretamente o que é a sustentabilidade. Porém, os “poderosos” estão trabalhando direitinho para manter esse “status quo" de desconhecimento coletivo, pois isso lhes garante a manutenção do poder. A maioria dos “poderosos” ainda não entende que todo e qualquer poder é provisório e transitório e que as coisas sempre mudam, embora algumas vezes demorem um pouco. Entretanto, no que diz respeito à sustentabilidade a demora das mudanças pode ser tão significativas que talvez levem a inviabilidade total da vida no planeta. Quer dizer, enquanto os “poderosos” mantêm o poder, os recursos naturais vão se extinguindo e a vida no planeta vai ficando cada vez mais ameaçada, mas eles não percebem ou não querem perceber.
Isso posto, fica claro que vivemos um problema real, pois a sustentabilidade é algo vital ao planeta e à humanidade. Porém, a partir disso, fica aqui uma primeira questão: o que deve ser feito para promover as mudanças necessárias que promovam a sustentabilidade e para suplantar os interesses dos “poderosos”?
Certamente aqui, como em quase tudo na vida humana, mais uma vez, entra a necessidade da Educação das pessoas para que a sustentabilidade tenha a sua devida importância estabelecida e o seu entendimento clarificado. Nesse momento surge uma segunda questão: como fazer para demonstrar essa importância, definir o conceito de sustentabilidade corretamente e popularizar esse conceito dentro das escolas para depois estendê-lo às populações? Para responder essa duas questões iniciais é relativamente fácil, como está apresentado a seguir.
Primeiramente é preciso formar professores capazes de entender e transmitir as idéias conceituais da sustentabilidade a partir do tripé em que ele está embasado: ambiental, social e econômico, sempre nesta ordem prioritária, que infelizmente há muitos que insistem em modificar, mesmo dentro dos que defendem a sustentabilidade. Depois devem ser criados mecanismos para contextualizar situações reais em que o conceito de sustentabilidade possa ser empregado amplamente, dando exemplos claros de sua aplicabilidade nas diferentes situações que envolvem o cotidiano das populações nas diferentes regiões. Posteriormente, deve-se promover a popularização dessas idéias a fim de que haja efetiva absorção das mesmas pelas diferentes comunidades.
Quer dizer não dá para falar em sustentabilidade sem que haja uma preparação específica para esse fim. Tem que haver uma educação para sustentabilidade, na qual seja possível distinguir toda abrangência e importância do termo. Mas, é nesse momento, que surgem duas novas questões, as quais são mais complicadas e consequentemente difíceis de serem respondidas. As escolas brasileiras estão preparadas para cumprir mais essa missão relacionada à sustentabilidade? Existem professores devidamente habilitados na questão para atuar como orientadores e multiplicadores do conceito?
Sinto dizer, mas me perece que estamos numa situação nada sustentável em relação ao problema da sustentabilidade, porque não podemos responder positivamente a nenhuma das duas últimas questões propostas. Estamos caminhando para o caos, continuamos explorando os recursos naturais de maneira indevida e degradando os ambientes, desintegrando grupos sociais locais e perdendo recursos econômicos por conta de nossa incapacidade de pensar de maneira verdadeira sustentável e não temos estrutura e nem gente capacitada para trabalhar na mudança desse quadro lamentável.
Como sempre a solução para todos os problemas é apenas e tão somente uma questão de estabelecimento de políticas públicas que priorizem aquilo que se pretende fazer, no caso em questão, a sustentabilidade. Nesse sentido, a boa notícia é que temos uma eleição aí na frente, na qual vamos escolher os novos dirigentes políticos e administrativos do país e dos estados brasileiros. Temos que pensar bem e escolher as melhores propostas, aquelas que envolvam as idéias de sustentabilidade. Mas, é fundamental que essas idéias integrem a educação dentro do contexto, porque da mesma forma que não existe mágica na natureza, também não existe mágica no comportamento humano. Assim, só é possível realizar direito aquilo que se aprende direito e a educação é a única base que pode garantir que os ensinamentos sobre a questão sejam ministrados de maneira eficiente.
As escolas são os agentes sociais efetivos para educar as populações também nesse sentido. Desta maneira, as idéias de sustentabilidade têm que passar a integrar diretamente os currículos escolares em todos os níveis e as escolas devem estar prontas para atuar nessa nova necessidade o mais rápido possível. O tempo urge e não podemos nos dar ao luxo de continuar imaginando que Deus vai dar um jeito naquilo que é atributo exclusivo e obrigatório da ação humana. Nesse contexto, a nossa responsabilidade tem que ser posta a prova e devemos ser capazes de resolver os problemas que são cruciais para a continuidade de nossa existência planetária.
Por fim, quero deixar claro que, com relação à sustentabilidade em si, aqui também, como acontece em outras áreas, o improviso e o empirismo têm se mostrado como maus exemplos. Sendo assim, insisto em que há necessidade de formar e habilitar pessoas nessa questão dentro das escolas. Por outro lado, para que se consiga atingir esse intento, é preciso que dentro dos postos de governança sejam colocados administradores preocupados e imbuídos em melhorar a qualidade de vida das pessoas social e economicamente. Porém, esses administradores, para atuarem efetivamente nesse sentido, têm que ser cônscios das responsabilidades com a manutenção ambiental do planeta e com o uso devido dos recursos naturais, porque é somente a partir dessa base ecologicamente correta que se garantirá a sustentabilidade do planeta e a continuidade da humanidade.
O planeta sustentável que todos queremos e merecemos passa pela nossa educação e esta, por sua vez, passa por nossas escolhas políticas. Está na hora de pararmos de “brincar de fazer de contas” sobre a sustentabilidade e assumirmos uma postura objetiva que possa propiciar um desenvolvimento sustentável dos diferentes grupos sociais nas diferentes regiões de nosso país. O compromisso com o Meio Ambiente e com os problemas ambientais têm que ser a preocupação primária de qualquer administrador público e a educação deve ser o esteio que dará a devida condição para o entendimento e o envolvimento das pessoas na resolução desse, que é certamente um dos maiores problemas de nosso país e do mundo na atualidade.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (54) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista;
Membro Fundador e atual Vice-Presidente da Academia Caçapavense de Letras;
foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.