Os Pássaros Também Nascem Pequenos
Os métodos não mudaram com o passar das épocas. O tempo atual repete os mesmos trechos clássicos. Ontem eram os barões da Corte, hoje são os barões da burguesia. A substituição dos cortesãos palacianos do Império pelos cortesãos palacianos da República. A única mudança de comportamento são as aparências de vestuário da moda.
As filhas da burguesia têm no emprego público a mais alta realização: as atuações íntimas nos "Psychos Motéis". Antes a estirpe palaciana feminina tinha os vestidos largos, combinações, anáguas, sapatões com saltos de 18 cm. Diz o folclore da época que o salto não poderia ser maior do que o biláo do exemplar masculino da nobreza com quem trocavam intimidades.
Drácula, o Conde vampiro dos filmes de ficção, por influência da própria classe, sempre foi um exemplo de chupa-chupa que as suas afáveis cortesãs não dispensavam. Elas tinham fixação hipnótica por doação de sangue para ele. Os textos secretos de sua história real, estão nos livros biográficos de escritores europeus e de pesquisadores da vida do Conde.
Um dos mais importantes cineasta da década de 20 do século passado, o alemão F. W. Murnau, filmou Nosferatu (1922) a partir do Drácula de Bram Stoker. Após filmar Tabu, em 1931, encerra a fase do cinema mudo, ao mesmo tempo que Charles Chaplin, com seu filme Luzes da Cidade. Murnau, após editar o filme, morreu num desastre de automóvel em Hollywood.
Na história real do vampiro Drácula, muitas de suas cortesãs eram chegadas a uma xuxação excessiva do sangue que transita pelas artérias capilares. O vampiro, criação supostamente ficcional de Bran Stock, foi uma personagem importante, existiu de fato, era mais temido do que o da ficção. O rigoroso, cruel e excessivamente severo Drácula real, era um cavaleiro Cruzado, defensor intransigente de seus latifúndios, invadidos periodicamente por contingentes árabes.
Em seu feudo, os castigos instituídos eram cruéis, considerados indispensáveis para manter o rigor das leis econômicas da Corte. Era um herói cristão. Lutou pelas Cruzadas contra os mouros. No Vaticano era considerado um bravo guerreiro exemplar da cristandade.
Seu prazer mais conhecido era mandar empalar os prisioneiros muçulmanos capturados nos combates e escaramuças, em varas que lhes adentravam o ânus. Enquanto o sangue escorria, o Conde mandava servir o jantar, ao ar livre, numa grande mesa, na qual os nobres eram obrigados a jantar sob o odor do sumo vermelho, que escorria pelas varas pingando, na qual estavam empalados os mouros, inimigos da cristandade.
Algumas crônicas históricas dizem que alguns nobres de sua corte engoliam o vômito para não fazer desfeita aos jantares servidos pelo Conde para comemorar o aprisionamento dos inimigos muçulmanos capturados com vida. Se vomitassem na mesa, seriam, eles também, empalados, pela desfeita do nobre Conde.
Barões, viscondes, condes, marqueses, duques e arquiduques, sabiam exigir o melhor de suas protegidas nas cortes européias, assim como os sultões nos palacetes islâmicos. E davam a cada uma delas o que cada uma delas supostamente merecia: um mausoléu de mármore de Carraca ou um palácio.
O Taj Mahal, construção financiada na Índia pelo soberano mongol Shah Jahan, em homenagem a uma de suas concubinas, é um exemplo. Ela deveria fazer por onde merecer. Vivia no harém, lugar onde não podia pensar, exceto obedecer e dançar a dança do ventre. Como a obediência traz consigo a sujeição, a dependência e a vassalagem, o encantado deslumbrou-se com o umbigo da moça, e seus trejeitos para cima e para baixo, para um lado e o outro. Conta uma suposta lenda, que o mouro estava vidrado era no umbigo. O resto do corpo da moça era para os espertos nobres, os que pagavam os eunucos para substitui-los na guarda das mulheres do paxá Shah Jahan.
Talvez seja mais divertido para o leitor lembrar dos filmes de Hitchcock. No clássico "Os Pássaros" do diretor inglês, as aves não permitiam que os humanos vivessem em paz. De vez em quando atacavam os habitantes da ilha. Comiam seus olhos, bicavam a carne apodrecida de seus corpos.
O pânico era o companheiro inseparável da personagem principal do filme. A empatia dos Pássaros com a proximidade dos moradores, gerou uma atitude de repulsa. Aquela ilha fora propriedade deles, pássaros, por séculos, talvez milênios, e agora era habitada por aqueles estranhos com seus fios perpassando os lugares que eram das árvores, ou simplesmente do ar livre. Das frondosas árvores, ou simplesmente da atmosfera. Com a chegada dos humanos, não mais havia a quietude, a bem aventurança dos pássaros e seus vôos nos espaços abertos, sem o ruído ameaçador dos bípedes invasores.
Agora os pássaros do filme sentiam um desprezo vingativo pelos agressor. Pássaros também sabem discernir. Toda molécula sabe discernir. Os Pássaros também. Não poderiam mais voar com suavidade, alegria, satisfação, não tinham a retribuição das folhas, dos galhos, das benesses do farfalhar do verde das plantas, dos galhos, dos frutos, os simplesmente do espaço que era deles há séculos.
Com a chegada dos humanos lhes foi roubada a escultura irresistível dos ventos fazendo ondas nas folhagens, a memória da paisagem fazendo falta. Pássaros também têm memória. A emoção de tê-las vivido fazia as aves carentes de perceções de júbilo e exaltação com a companhia das ondas quebrando nos rochedos, nas pedras, na areia límpida das praias deles. Pássaros. Até as limas-da-pérsia (que lugar original o rochedo hitchcockiano): agora não podiam mais bicar, eram colhidas pelos humanos (se é que havia mesmo limas-da-pérsia por lá).
As aves deviam matutar mais ou menos isto: Que direitos tinham esses alienígenas de colonizar a ilha deles? Tirar-lhes as sensações de felicidade e a festa de viver? Anteriormente a esse bando de bípedes, com suas estratégias de invasão, os pássaros voavam livres de uma cultura que lhes roubava seus tesouros naturais mais apreciados. E ainda lhes impunha a presença, a convivência indesejável. Os humanos não poderiam permanecer impunes, segundo a ótica dos Pássaros hitchcockinos.
Ao fazer suas vítimas, as aves talvez estivessem a lembrar que natureza de voar em lugares aprazíveis, sem a presença indesejável dos estranhos, com seus ruídos de motores, suas cachaças, seus locais de comer e divertir-se, e a coisa impura de suas intenções e substância. Para os Pássaros de Hitchcock a presença cada vez mais intensa de humanos era uma tortura indizível. Eles estavam no antigo rochedo, um tanto deserto, mas podiam sonhar seus sonhos sem serem perturbados. Voar, consideravam as aves, um ato tão mais estético do que caminhar.
Os bípedes alados de Hitchcock pareciam estar sempre muito apressados. Seus sentimentos contagiados de agitação tinham para com eles uma convivência difícil. Suas asas ganhavam vôo, seus olhos eram perturbados pela visão dos dípodes que agora traziam perigosos quadrúpedes que atacavam agressivos, com latidos ferozes, muitos deles. Sim, muitos pássaros foram sacrificados a seus animais de estimação.
Agora, estavam em conflito contra aqueles seres chamados homens.
Sim, aqueles pássaros talvez fossem um tanto quanto magalomaníacos: julgavam-se descendentes daquele outro de mesma espécie, que a Igreja da Ilha tinha desenhado num vitral, como se para enganá-los: talvez imaginassem ter alguma espécie de parentesco com o Espírito Santo.
Eles eram, antes da povoação da Ilha por exemplares do gênero humano, os espíritos livres do ermo lugar. Agora não se julgavam mais livres. O ritmo tresloucado dos invasores tinham-nos tornado impuros e infectados pelo odor de suas roupas lavadas (quem sabe os Pássaros tivessem um incrível e justificável olfato?) A secreção abominável da sudorese axilar desses seres infestava as praias, vindas através do escorrimento de seus esgotos.
Afinal, tinham direito aos lugares de onde desapareceram a beatitude de uma larga sombra. Das sombras de árvores. Árvores difíceis de crescer na superfície dura, implacável do rochedo. Em breve seria habitação de mais humanos, que preparavam o caminho para outros, denominados turistas. Os Pássaros estavam mesmo em apuros.
Agora não podiam contemplar mais com a mesma vivacidade, os contornos das superfícies da ilha, abrigados pelo foco luminoso dos raios solares. Inexistia isolamento, solidão, mistério, enigma. Algumas aves abrigavam-se nas sombras das pedras, para morrer de nostalgia. Outras, inconformadas, as que tinham opinião formada sobre aqueles seres com seus vassalos criminosos de quatro patas, lutavam para reaver seu habitat às características ecológicas originais. Inutilmente. Elas eram muito frágeis diante dos que invadiam seu espaço solar, telúrico e marítimo.
Os Pássaros lutavam para manter uma "Resistência Popular", entre os de população de asas, anteriormente angelicais, agora, tão ou mais ansiosas que os homens e seus passos de quem estão sempre muito apressados. Aprenderam a observar e até absorver, através de uma incômoda empatia, a situação de proximidade com pessoas bípedes, o contato com seus níveis psicológicos mais profundos e inconscientes, levaram-nos a agir como se deles tivessem aprendido as estratégias covardes de ataque, àqueles que consideravam seus inimigos.
O clássico do cineasta inglês funciona como uma prodigiosa metáfora da crueldade daquelas personagens cheias de "boas" intenções escusas, que as passavam aos seres passeriformes. Eles organizaram uma resistência de pássaros que voavam em bando, contra bípedes humanos que se movimentam em grupo. Era uma luta desigual. E eles voaram em busca de outra ilha, ainda não invadida pelas personagens dipsomaníacas à Hitchcock. A história dos filmes de suspense, tem nesse, talvez, seu melhor e mais enigmático acontecimento cinematográfico.
Com certeza aquelas aves tiveram mais iniciativa, lutaram mais pelos seus direitos de sobrevivência, do que os políticos do suposto “Conselho de Ética” (Etitica) que na Casa Grande Senado livrou a cara de José Romão Sarney de uma série de acusações que o destituiriam da presidência da Casa Grande. A vontade dos eleitores brasileiros não prevaleceu. E seus representantes só representaram a decadência política de que são vergonhosos paradigmas.