Seletividade

Sou seletivo em minhas leituras, leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas, comporto-me como diante de uma mesa de bufê: Provo, rejeito, analiso, meu apetite se abre quando sou convidado para comer na casa de um amigo, ele tem nome de um escriba famoso do livro sagrado, do contrário sou como Zaratustra disse: “Mastigar e digerir tudo, essa é uma maneira de suíno”.

Assim cada escolha precisa ter seletividade, esses dias eu doei cerca de uns 100 livros, estavam ocupando espaço desnecessário na estante, pois eu jamais iria lê-los, não fazem meu gênero, não tenho neles prazeres, quando estou lendo gosto de algo apimentado que arrebata minha alma, que entra em minhas entranhas. “No que se refere à leitura a arte de não ler é sumamente importante, pior do que não ler, é ler qualquer coisa (Schopenhauer)”. Essa arte de não ler consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público, para ler o bom uma condição é não ler o ruim. A vida é curta e o tempo e a energia escassos...

Temos que ter a acuidade, e agudeza de saber saborear uma boa leitura, ultimamente parei de ler jornais, não por não gostar de ler, mas precisamente por que gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos sou como a vaca gosto de ler, ruminando. Precisa-se criar o hábito de pensar, e para pensar não se pode engolir ligeiramente aquele material que já vem prontinho, embaladinho, com fitinha em uma bela caixa de embrulho, mas o conteúdo é vazio.

O indivíduo não precisa somente de informação, ele precisa saber o que fazer com a informação, ou seja: esse indivíduo que assim procede é o comilão, que senta enquanto uma pessoa está tomando a primeira refeição ele já está na terceira, se enche de qualquer comida, sem seletividade. Li um artigo de um físico educador da Universidade de São Paulo chamado: Luís Carlos De Menezes, que encaixa perfeito nessa fala, ele diz: “Mais do que selecionar assuntos, é preciso motivar quem vai aprender sem o que a educação se frustra porque não dará o aprendizado.” Quem lê qualquer coisa, sabe qualquer coisa, quem come qualquer coisa é suíno, temos que ter seletividade nesse mundo de tantas besteiras encadernadas, publicadas, faladas, escritas, cantadas. Seja seletivo.

J.F.ALVAREZ 29/06/2010