A Luz está nas trevas!

     Passando, um dia desses, pela região da Luz, em São Paulo, deparei-me com uma visão trevosa, antes vista apenas pele tela colorida de um aparelho de TV: A Cracolândia, com seus menores abandonados, como outros vários locais no solo descoberto do mundo, é diversamente complicada no seu estudo, na definição de suas causas, e na resolução do seu problema. Lá também existem os maiores abandonados, em condições não menos subumanas do que as crianças, lançados ao desprezo e à miséria.
     Vagueiam de noite, como zumbis desorientados, à procura da droga fácil ou dividida, fruto dos pequenos furtos ocorridos durante o dia, ou das míseras esmolas adquiridas dos passantes que por ali fazem caminho. Em sua maioria, amontoam-se nas calçadas durante o dia, vencidos pela fraqueza e pelo torpor das drogas que consomem quase que ininterruptamente. Drogas baratas, quase sem valor, talvez não menos valiosas do que suas próprias vidas desgraçadas e destruídas pelos narcóticos.
     Tenta-se conter essa desgraça humana e não se consegue, porque a Cidade não possui centros de reabilitação eficientes e gratuitos suficientes, capazes de conter tal demanda de suicídio coletivo. Tenta-se, a despeito da Revitalização do Centro Velho, transferir esse pólo para regiões diversas da Cidade, para desfavorecer e desmontar a efetiva ação do tráfico concentrado e lucrativo, no entanto, como desmanchar laços de amargura, dor, fome e desilusão compartilhados e divididos diariamente? E para onde levá-los, já que fazem desse local sua pseudo-Fortaleza?
     Os prédios comerciais e residenciais estão numa precariedade terrível, sinal claro do sentimento de batalha vencida, vivenciada pelos proprietários da região.
Uma providência efetiva e humana deve vir a cavalo, se queremos que nossa Cidade seja um dos cartões postais do Brasil nas grandes competições mundiais que estão por vir. Aliás, esqueçamos a idéia de cartão postal, que não alimenta ninguém, e tratemos de alimentar a alma e o espírito destes desgraçados abandonados neste solo do mundo que se chama “Estação da Luz”. Aliás, quão triste paradoxo este!
     Cabe o Estado intensificar a construção e o investimento em Centros especializados para internação involuntária de indivíduos inconscientemente incapazes de viver em sociedade, e de, principalmente, nadar contra a correnteza de infortúnios que a droga traz às suas mentes.
     Investimentos em albergues, dotados de atendimento psicológico constante, de programas de apoio à cidadania, e voltados para contenção de riscos eminentes devem ser feitos mais amiúde pela Prefeitura.
     E por último, não menos importante, que a população vire seus olhos para a “Luz” para enxergar, e não para ficar com os olhos turvos, mediante as cenas horríveis de degradação humana que ali se desenrolam. Exijam, cobrem, delatem, critiquem e ajudem! Não permitam que o purgatório se construa cada vez mais, no coração da nossa Cidade! Porque o Julgamento Final ainda não chegou!
     A Cracolândia carece de uma ação ecumênica de amor ao próximo, tanto quanto, de amor a Deus!
Antonio Marques de O Santos
Enviado por Antonio Marques de O Santos em 02/07/2010
Reeditado em 13/04/2011
Código do texto: T2353133
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