A conjuntura sócio-política brasileira e os processos ideológicos que a legitimam
A conjuntura sócio-econômica e política se destaca na atualidade, pelo domínio da globalização que traz para a realidade de nosso país muitos problemas e dificuldades, tais como: precarização do trabalho, cuja maior expressão não é apenas o trabalho informal, mas também o trabalho em condições desumanas; desemprego estrutural, moradia precária e, muitas vezes a ausência desta (por exemplo, os moradores de rua); alimentação irrisória e muitas vezes insuficiente, situação de miséria, perda de laços afetivos, entre muitas outras carências.
Todas essas dificuldades são produzidas e reproduzidas no contexto da sociedade capitalista, ou seja, o modo de produção capitalista, ao mesmo tempo em que promove a extrema acumulação de capitais, promove a concentração desses capitais nas mãos de uma minoria privilegiada (a qual a ideologia dominante gentilmente chama de maioria). Na contramão dessa concentração de capitais ocorre a exploração do trabalhador (aqueles que têm apenas sua força de trabalho).
É o sangue e o suor da classe subalterna que alimenta a fome de lucros e de poder do capitalista (dono dos meios de produção). No centro da exploração promovida pelo sistema está a alienação do trabalho, mas essa alienação só é possível por causa do aspecto classista da sociedade burguesa. Isso porque, ao dividir a sociedade em classes ocorre a fragmentação do humano, ou seja, divide-se o mundo em dois tipos de seres humanos: os que vivem da exploração não só do trabalho, mas também de toda essência de outros seres humanos e aqueles que subvivem carregando nas costas o peso da injustiça, da miséria, da vida roubada e alienada.
Sabemos que o Capital precisa de um bem para continuar se reproduzindo e se multiplicando. Esse bem é a propriedade privada; sem ela, não existe sociedade de classes e, consequentemente, não há exploração. Desta forma, não há desigualdade.
Para continuar seu ciclo de produção e reprodução, o capital faz uso das ideologias, que são totalmente funcionais ao sistema na medida em que promovem:
- A naturalização da desigualdade;
- A normalização da exploração;
- A ratificação da injustiça;
- A desmobilização e fragmentação da classe popular;
- A culpabilização do sujeito pela sua situação social;
- A disseminação de preconceitos, que tem por finalidade fragmentar ainda mais a classe popular;
- A extrema valorização do individualismo;
- O incentivo à exploração expressa no endeusamento do explorador: quem explora mais, produz desigualdade para os demais e lucro para si mesmo; o Capital o eleva à categoria de Deus e o coloca acima dos outros, num lugar tão alto que a justiça não os alcança e quando alcança esta (a justiça) é manipulada;
- O rebaixamento do pobre expresso na sua desqualificação política, cultural, econômica e, principalmente, social;
- A criminalização da pobreza e da miséria;
- A Produção e a manutenção da ingenuidade da classe trabalhadora;
- A desfiliação: processo em que o capital retira dos sujeitos todas as suas referências sociais; o produto desse processo são sujeitos que não conseguem se reconhecer no meio em que vivem, não conseguindo se reconhecerem nem mesmo como seres humanos;
- A apropriação do sentido da vida pelo Capital: para acumular lucro, o Capital não retira do trabalhador só sua força de trabalho, mas toda sua essência: sua sensibilidade, suas emoções, seu potencial criador, suas habilidades e capacidades. Toda essência humana vira mercadoria, até mesmo o corpo humano.
Para terminar, poderíamos perguntar: será possível caminharmos à contramão de todos esses processos que legitimam a desigualdade e a injustiça não só no nosso país, mais também no mundo como um todo? Será possível caminharmos rumo a uma sociedade que seja realmente justa, democrática e igualitária?
A resposta para essa pergunta está na força e união dos que ainda acreditam num mundo melhor. A chave para a transformação de nosso país está em duas palavrinhas: organização e mobilização. Com a organização e mobilização de todas as classes e subclasses marginalizadas de nosso Brasil, poderemos, talvez quem sabe, chegar a uma nação que realmente tenha o direito de se dizer ética, democrática e igualitária.