Os exemplos são inúmeros e tristonhos.
Não é privilégio do Brasil ,acontece no mundo todo.Mas,aqui,em muito maior número.
Refiro-me ao esquecimento em que caem nossos poetas ,escritores,historiadores,quando a morte os leva ou,o que é pior,ainda em vida.
A diretora de uma conceituada biblioteca pública de Salvador ,ciosa das nossas tradições,queria fazer uma homenagem ao 2 de julho,nossa data maior,relatando a história dos nossos heróis,hoje no limbo do esquecimento.
Seria muito oportuno ,pensou,que alguém,um poeta,quiçá,recitasse o belo poema de Castro Alves ,”Ode ao 2 de Julho”,uma das mais belas poesias do renomado vate baiano.Pois é,lutou,lutou,mas,não encontrou.
Pediu ajuda a uma poetisa (continuo chamando poetisa às mulheres da poesia ,não como palavra depreciativa,mas,porque acho verdadeiramente ridículo,chamar uma mulher de poeta,uma palavra nitidamente masculina.Para mim,poetisa soa mais doce e pronto!) que conhece e é conhecida nos meios poéticos,mas,não teve muito sucesso.
A poetisa enviou um e-mail” comunitário” ,pedindo ajuda.
Recebi e telefonei imediatamente para a diretora oferecendo-me para declamar.
Seu suspiro de alívio me aliviou,também.
Desde adolescente,sempre fui convidada para recitar esses versos em praça pública,durante os festejos da nossa Independência.
Houve uma época em que ,adolescente rebelde e pouco afeita à exposições,cheguei a mudar o nome dos versos:transformei-os em “Ódio ao Dois de Julho”,revoltada com essa tarefa repetida todos os anos.Que me perdoe o poeta,ele,também um revolucionário e transgressor.
Mas,voltando ao tema inicial;é terrível perceber como esquecemos dos nossos maiores literatos.
Augusto dos Anjos ,Bastos Tigre,Bilac,Cyro dos Anjos,Adonias Filho, Menotti Del Picchia,quem os lê!?
Artur e Aloísio Azevedo,Tobias Barreto,onde estarão?Que foi feito de Dionélio Machado?
Guimarães Rosa dizia que um poeta não morre ,fica encantado.
Mas , o desencanto persiste.Um livro só tem serventia se for aberto e lido.Um escritor conquista a imortalidade pelas suas obras.
Se Deus necessita de homens , o escritor precisa do leitor.
Não qualquer,mas, leitor inteligente e consciente que leia e entenda as sutilezas do texto,que absorva o simbolismo da linguagem,que perceba as abstrações e capte as diferenças de estilo,os meandros e claro – escuro dos versos,as entrelinhas do texto impresso.
Muitos jovens que conheço confessam que não gostam de ler.Querem apenas o “canudo”,pois,num pais de bacharéis,que nunca deixamos de ser,exige-se diploma de curso superior para tudo.Mesmo que o diplomado escreva cachorro com x e macaco com k.
Como alguém que não lê nada pode chegar ao ensino superior? Mistérios!
Como escritora desejo ser preservada; pretendo que meus livros falem por mim , depois que eu virar pó.
Do contrário, as minhas se transformarão em letras mortas, sem ninguém que abra meus livros e eles acabem como calço para mesas desequilibradas.Como acontece nos países de mentes desequilibradas.
Por precaução, enviei meu livro “A Bahia de Outrora” para a Biblioteca da Universidade de Harvard;foi aceito,com muita honra,segundo o responsável.
Lá ,pelo menos,tenho certeza que não acabará calçando cabeceiras de cama mal ajambradas.