Jocax : A terapia Psicogênica

Terapia Psicogênica

Por: João Carlos Holland de Barcellos ( Fevereiro, 2002. Revisão: Janeiro, 2005 )

Fevereiro, 2002. Revisão: Janeiro, 2005. Este ensaio define a Terapia Psicogênica, ou Psicogenista, como um método de tratamento psicológico visando à redução de conflitos do tipo meme-gene utilizando-se um enfoque genista.

Embora parte de nossa felicidade seja de origem genética, isto é, hereditária, ainda resta uma boa parcela que depende das escolhas que fazemos durante a nossa vida, e estas escolhas são influenciadas por muitos fatores. Uma importante classe de fatores, que pode determinar as opções que fazemos na vida, está em nosso conjunto de crenças. Muitas destas crenças foram nos passadas ainda em nossa infância onde nossa capacidade de julgar e criticar não eram suficientemente desenvolvidas. Deste modo acabamos por assimilar, passivamente, uma grande quantidade de informações e também de valores de ordem moral que nem sempre são auto consistentes ou mesmo compatíveis com os que adquirimos ao longo da vida.

Além disso, nossas crenças, novas ou antigas, podem entrar em conflito com nossos instintos - A palavra “Instinto” deve ser entendida como sendo algoritmos mentais que são ativados inconscientemente e que provocam reações, desejos, medos, e vontades de acordo com o ambiente que o indivíduo esteja inserido - Embora muitos de nossos instintos apresentem um alto grau de flexibilidade, e conseguem se moldar às mais variadas culturas existentes no globo, eles têm suas raízes alicerçadas nos genes, por isso são também chamados de regras epigenéticas . Este grau de flexibilidade nem sempre é suficiente para se ajustar ao nosso conjunto de crenças. Algumas destas crenças podem entrar em atrito com nossas regras epigenéticas.

Sempre que ocorre algum tipo de conflito entre instintos e crença, também chamados de conflitos ‘meme-gene', surge algum tipo de sofrimento. Estes conflitos são travados internamente, no âmbito do cérebro, numa espécie de batalha pelo controle de nosso arbítrio. Provavelmente muitas formas de neuroses tem suas raízes nestas disputas internas. Se, por exemplo, a cultura (meme) vence a disputa em detrimento dos instintos (genes) estes últimos são reprimidos. Tal repressão pode ser breve ou não se o conflito persistir e perdurar por anos trazendo sofrimento e tristeza. O que pode levar o indivíduo à depressão ou até mesmo à loucura. A loucura seria, portanto, uma forma desesperada dos instintos (genes) se libertarem da prisão virtual que os memes lhes impuseram. Por outro lado, se os memes perdem a batalha para os instintos (genes) pode sobrevir a culpa, o remorso. Em geral a vitória dos instintos sobre as crenças pode trazer mais problemas de ordem social do que de ordem interna e, como estes problemas dependem do contexto em que eles acontecem é impossível, sem uma análise específica do caso, avaliar para qual lado deveríamos verter.

Outrossim, como não podemos direta e conscientemente controlar nossos instintos, posto que nos sejam transmitidos hereditariamente, codificados nos genes, para formar os circuitos neurais, o melhor que podemos fazer é tentarmos adequar nossa cultura aos nossos instintos. Esta adequação, entre memes e genes, deveria ser feita através de uma avaliação do nosso conjunto de crenças e valores de forma a tentarmos excluir os memes que menos se adequam aos nossos genes e ficarmos com um conjunto memético menos conflitante.

Mas como o paciente poderia saber quais memes são conflitantes e quais não são adequados aos nossos instintos? Este é o objetivo do que eu chamei de “Terapia Psicogênica”. O terapeuta deveria saber que o conjunto dos instintos, desejos, vontades de um ser vivo tem como meta final, mesmo inconscientemente, a gene-perpetuação. A gene-perpetuação é o caminho que leva os seres vivos a manterem seus genes no ‘pool-genético' da espécie e isso, como veremos a seguir, também depende de nossa adequação ao meio social.

Numa sociedade complexa como a nossa, onde somos constantemente avaliados e qualificados em relação ao nosso comportamento interpessoal, mantermos nosso padrão de adequação social nem sempre é tarefa fácil já que requer uma vigilância, instintiva ou consciente, em relação aos limites do socialmente tolerável. Em nossa sociedade não há espaço para o egoísmo exacerbado. Comportamentos ou atos excessivamente egoístas podem gerar uma reação social que pode ser tanto formal, como os instituídos nos códigos penais, como informais: reprimendas em que pessoas do nosso círculo de relações pessoais podem tomar como reação às nossas atitudes. De qualquer forma, a penalidade é quase sempre a exclusão do grupo ou do circulo de amizade. Esta exclusão pode ser tanto física como moral. Para nossos genes, sermos excluídos do grupo social pode ser tão prejudicial quanto a própria morte.

Existe, portanto, uma pressão social no sentido da adequação às normas sociais, e não apenas as normas formais, como as leis, mas também aos costumes e moral locais. Esta pressão seletiva faz favorecer indivíduos que são propensos a seguirem as normas, os contratos, as leis e, principalmente a moral local já que desta forma a vigilância seria instintiva. Indivíduos portadores de genes que os tornem incapazes a esta adaptação social, e nem possuírem outros genes que os faça compensar, tendem a desaparecer do pool genético. Devemos, portanto, esperar que a grande maioria dos indivíduos, dentro da curva normal de variabilidade, é instintivamente apta a se adequar às normas sociais vigentes. Em suma, adotar uma postura antiética perante a vida também pode gerar conflitos do tipo ‘meme-gene‘.

Além desta possível fuga ética como uma das fontes geradora de conflitos, podemos esperar um segundo tipo de conflito: Os causados pelo forte apego a algum fator gene-perpetuativo em detrimento dos demais. Este desbalanceamento em relação aos demais fatores instintivos que servem à nossa perpetuação genética pode nos desviar da melhor rota gene-perpetuativa e nos causar sofrimento. Assim, por exemplo, o apego excessivo à riqueza ou a bens materiais pode ter desviado o paciente da sua necessidade de ter ou então de cuidar de seus filhos; À vontade de adquirir conhecimento, numa série infindável de cursos e congressos, pode adiar a maternidade para uma idade onde a gravidez fica quase impossível ou de alto risco; Outros, justamente pela falta de conhecimento têm filhos demais e sofrem por vê-los passar fome ou outras necessidades básicas; Muitos cultuam apenas o próprio corpo como a saúde ou a beleza, e dão pouco valor ao restante. Todos devem conhecer pessoas que reservam grande parte de seu tempo e empenho na busca de apenas alguns poucos fatores gene-perpetuativos desprezando o restante e causando sofrimento a si próprio e, às vezes, aos que estão ao seu redor.

Assim, a tarefa principal do terapeuta psicogênico seria identificar estas anomalias e alertar seu paciente sobre a necessidade de uma nova abordagem em relação a sua vida.