A FELICIDADE
Sempre dizem que sou egocêntrico. Tanto mais: faço pose de artista-gênio incompreendido. Artista? Gênio? Sei não. Mas o egocêntrico é aquele que pensa que é o centro de tudo, que tudo gira em torno de sua existência. Eu tenho consciência que nada gira ao meu redor nem por causa da minha existência. Mas eu gostaria que fosse, gostaria que o mundo girasse ao meu redor. Infelizmente não é assim. Outra coisa: o sujeito não pode expressar opiniões, defender idéias, debater de forma democrática um assunto e tudo ficar numa boa, de forma sadia. Geralmente quando defendo uma idéia as pessoas tomam como uma facada no peito, uma ofensa pessoal. Daí eu termino como egocêntrico, arrogante, metido, frio, calculista, metódico, passivo-agressivo e tantos outros adjetivos nada simpáticos. Quer um conselho? Seja como o homem da cabeça de papelão, do João do Rio, cuja verdade era a dos outros, nunca a dele próprio. Cérebros eletrônicos. Alienari. Seja como todo mundo. Não diga nada, cale-se, bajule. A pudicícia agrada a todos. Seja mais cristão, no mal sentido, digo, no sentido que agrada a todos: hipócrita, sepulcro caiado, cristão de datas comemorativas, de Natal e Páscoa. Nada de assuntos extravagantes. Não há nada mais terrível hoje em dia do que expressar sua opinião sobre assuntos polêmicos como aborto, união civil de pessoas do mesmo sexo, eutanásia, liberação da maconha e tantos outros. Isso é um insulto, até porque as pessoas não possuem informação suficiente para debater esses temas, nem coragem e distanciamento. Admita o mundo como ele é, veja sempre o lado positivo, trabalhe para que todos se enquadrem nesse perfil de mundo e seja feliz. Como todo mundo.