Reflexões acerca do que sabemos sobre a história de Sepetiba
Reflexões acerca do que sabemos sobre a história de Sepetiba
Até então uma das únicas referências bibliográficas acerca da história de nosso querido bairro de Sepetiba era o livro do escritor e morador de Sepetiba Alcebíades Rosa “A história de Sepetiba” porém, ao “revisitarmos” documentos, ouvirmos relatos etc. percebemos que muito do que sabemos e do que lemos é um tanto quanto contraditório.
A obra de Alcebídes é importantíssima para nós, moradores do bairro de Sepetiba, e merece o status de precursora, entretanto não possuí rigor científico, no que concerne a história e memória do bairro pouco ,ou quase nada foi escrito e divulgado a respeito, inclusive até mesmo órgãos públicos precisaram consultar textos publicados por nós em diversos sites para possuírem referencias quanto a história do bairro e, agora com a continuidade de nossas pesquisas também serão textos com alguns equívocos, pois não estamos livres de erros e contradições.
Eis o motivo : ao investigarmos alguns documentos notamos um dos primeiros erros:
“Essa praia tem sua história , como todos os lugares, (...) nos últimos dias do século passado (XIX) havia em Sepetiba uma linha regular de navegação para os portos do estado do Rio de Janeiro e São Paulo, essa linha dispunha de dois vapores confortáveis, embora pequenos, eram o Angra dos Reis e o Sepetiba, uma ponte de quase duzentos metros de boa argamassa, ligava a ilha da pescaria (hoje ilha dos marinheiros) a terra firme e um bonde de tração animal, partia diariamente da estação de Santa Cruz para Sepetiba repleto de passageiros (...)
Trecho retirado de documento sobre o fuzilamento de 1893.
Acreditávamos que os vapores que circulavam em nossa baía eram o Eco, Lamego e Uranus, de origem militar, transformados em transporte de passageiros, porém vemos que a história é diferente, possuíamos apenas dois vapores o Angra dos Reis e o Sepetiba, pequenos porém de acordo com o texto funcionais e úteis a população.
Aqui outros trechos do referido documento:
“(...)Embora a Ferro Carril fizesse trafegar seus bondes diariamente, pela manhã e a tarde, os passageiros que se destinavam aos estados situados, vinham no próprio dia da viagem, tal era portanto a confiança que tinham na regularidade das viagens, que estavam em correspondência com o horário da navegação.
Um sobrado bem construído cujos vestígios ainda se conservam na praia de Sepetiba era o centro das operações da companhia.(...)”
Esse fato, da credibilidade e freqüência dos bondes e a correspondência com os horários dos vapores não nos foi contado, do sobrado onde localizava-se o centro de operações da companhia não existem mais vestígios, ou será que o prédio ao lado da colônia Z-15/ que já foi Z-9 e hoje não sei exatamente qual é , se situa é remanescente deste sobrado? Por que tantos fatos e tantas histórias nos foram omitidos, negados?
Mais um trecho:
“O Senhor Caldas, engenheiro chefe do tráfego, que com a extinção da companhia fez-se funcionário público até que mais tarde veio a falecer,seu nome se liga hoje a um recanto da praia (praia do Caldas). Nos dias dos vapores, as famílias praieiras vêm as manhãs divertidas a espera dos bondinhos que não tardam a chegar.”
Outro questão controversa a respeito de nossa história: o nome praia do Cardo. Alguns se referem a este recanto como denominado praia do Cardo devido a abundância de uma planta que existia por ali, o cardo pertence à família das Asteraceae e cresce em locais rochosos, sobretudo em terrenos barrentos, podendo ser encontrado na forma selvagem ou cultivada, o que pode reforçar esta tese, pois ali era um local barrento de acordo com alguns documentos e relatos. Outra versão diz que a localidade foi assim denominada devido ao nome de um morador Chamado Ricardo, apelidado “Cardo”, qual seria a verdadeira? E a praia do Caldas? Qual a versão? Por que essas histórias não foram divulgadas e contadas nas escolas locais ? Por que essa falta de valorização até bem pouco tempo atrás?
Outro trecho:
“(...)Em 6 de Setembro de 1893, estalou no Rio de Janeiro a revolta da armada com o almirante José Custódio de Melo a sua frente. Todos os navios (...) no porto fosse de guerra ou mercante, hastearam a bandeira da revolução, sendo que alguns haviam saído barra a fora, rumo ao sul. Depois mais outros.Era então boato corrente, veiculado pelos passageiros ou curiosos que chegavam do Rio, que Sepetiba seria ocupada militarmente. Ora, o corpo do exercito estacionado em Santa Cruz, estava sendo movimentado a toda pressa para descer, a fim de ocupar os pontos estratégicos indicados por Floriano Peixoto.Por outro lado, esses militares mesmos, transmitiam aos pescadores e suas famílias a notícia da segunda ordem recebida no quartel de Santa Cruz, a qual dizia que uma parte do corpo ficaria em Santa Cruz para defender um desembarque que estaria iminente em Sepetiba.(...)”
“(...)Agora os bondinhos, os vagões e outros transportes usados nos serviços da companhia não tinham mais horários.Sepetiba, como Santa Cruz em alvoroço experimentou, pela primeira vez, a sensação que o medo da guerra cria.mas tudo isso ficou pela metade, nenhum navio apareceu em Sepetiba. E dessa localidade mesmo, viam os sepetibanos a passagem de vasos revoltados para o sul.De noite, a luz forte de possantes holofotes tudo iluminava e eles acautelavam-se da melhor maneira possível. Passados os primeiros dias de inquietação, os pescadores retomaram o seu serviço de pesca e se acostumaram, pouco a pouco, paisanos e soldados, na vida de precauções que os acontecimentos impunham.(...)”
“(...)Foi ocupado o morro da faxina como os outros, onde antigamente os coloniais haviam deixado vestígios de fortificações e velhos morteiros de bronze, o que se vê até hoje em alguns recantos da praia.
Decretada a criação da guarda nacional com bons ordenados, Sepetiba foi contemplada e muitos receberam a notícia com bastante prazer, sentindo-se honrados com as suas divisas amarelas de cabos e sargentos.Também conhecemos ali alguns oficiais do primeiro posto nomeados nos primeiros decretos. Dissemos que a pacata Sepetiba tinha mudado seu modo de viver com os acontecimentos decorrentes da Revolta da armada,tendo mesmo alguns naturais sido recrutados para a guarda nacional.Agora podemos acrescentar que este estado de coisas prolongou-se por alguns meses, porque de toda parte um grande número de cidadãos foi chamado ao serviço das armadas de Sepetiba, porém, preferia a guarda - nacional, (...)era de mais fácil acesso, as divisas amarelas da Guarda – Nacional convidava-os e um com número de filhos de pescadores apareceram logo nas suas fileiras(...)”
Se vê hoje resquícios deste período? Não! Nada remete os moradores atuais a esses tempos, inclusive diz-se que o “Morro do Ipiranga” hoje tombado como patrimônio natural e cultural juntamente com o Coreto e a praia do Recôncavo e do Cardo possuía também esses resquícios. Outra questão: por que não tombar a praia de Sepetiba e a Igreja de são Pedro?
Podemos verificar neste trecho outros equívocos existentes nas obras e textos sobre Sepetiba: “(...)na Marambaia e na Ilha grande, uma vez outra, havia troca de tiros, com os canhões dos revoltosos e os pequenos fortes do litoral, até que num dia de janeiro de 1894, pela tardinha, surgiu na praia de Sepetiba o pequeno vapor Lamego, forçado que foi para entregar-se,pois, suspeitava-se que o navio iria incorporar-se aos revoltosos.Isso proporcionou aos moradores de Sepetiba e Santa Cruz dias de grandes sustos e surpresas.A todo momento os boatos surgiam na boca daquele povo,sempre desacostumado aos fatos belicosos da revolução.
E tinham razão para isso, porque com o Lamego, foram capturados muitos marinheiros, e a justiça marcial não se fez esperar, o comandante (...) um major bastante impulsivo, Florianista ao extremo, fez levar vinte e um (21) deles para a Ilha da Pescaria, onde até então havia o porto da companhia Rio – São Paulo, e mandou fuzila-los sem mais delongas. E tudo só caiu muito mal no animo daquela gente.Durante muitos anos, ali (...) eram vistas cruzes, indicando as suas sepulturas.Míseros brasileiros que não eram culpados e sim obedientes às ordens de seus comandantes no mar!(...)”
“(...)E com esse caso ocorrido, que nunca ficou bem apurado, surgiram os boatos que após a chegada do Lamego, que ali estava ancorado chegariam para vir busca-lo outros navios de guerra.E, um dia, por causa disso,noticiou-se a presença do Aquidabã, que já estaria em Sepetiba e forçara a barra do Rio Ita para entrar em Santa Cruz, onde tinha sede o 5º regimento de artilharia.
Isso produziu quase um pânico, sendo que o próprio diretor do Matadouro público, o coronel reformado, Florambel da Conceição, chegou a preocupar-se tanto, que fez a secretária, sua filha, transmitir despachos telégrafos para Sepetiba e outros pontos, pedindo informações.(...)Entre Sepetiba e a praça Santa Cruz, que tudo isso era considerado zona de guerra, transitavam constantemente coronéis com seu estado maior. Eram eles: o Dr. Fernando Continentino, Teixeira da Mota, Avô do Almirante, tão conhecido hoje, Álvaro Alberto, e ainda o coronel Jorge Pinho, depois escrivão de Campo-grande ,visto que também Campo-Grande era subordinado ao comando de santa Cruz.(...)”
O Aquidabã esteve realmente em “águas Sepetibanas”? Por que estes momentos cruciais e importantes para a formação de nosso país ,de nossa “identidade nacional” não foram transmitidos?
Esses e outros equívocos estão sendo apurados pelo grupo de estudos do Movimento Ecomuseu de Sepetiba, por que como diz o lema do NOPH Santa Cruz/ Ecomuseu: Um povo só preserva aquilo ama. Um povo só ama aquilo que conhece.”
E como dizemos: Sepetiba está viva! Tem história! E vontade de transformação: Somos “Espelho onde nos revemos e descobrimos a nossa própria imagem”.