REENCARNAÇÃO E ESPIRITISMO

Entender os princípios da reencarnação não é tarefa fácil. A doutrina espírita não compreende seus ensinamentos em função dela, mas no contexto holístico do processo. Viver e morrer são a coisa mais natural do mundo, haja vista que ninguém até hoje, ficou na terra como "semente".
Com o sucesso do filme de Chico Xavier, a questão espírita virou assunto dominante nas rodas e na imprensa. Talvez a REENCARNAÇÃO seja a que mais provoque uma ruptura na percepção RACIONAL de grande parte das pessoas. A lógica e a razão se constituem fundamentais elementos dificultadores do entendimento sobre "morrer" e retornar em outro corpo. O homem moderno é movido pela racionalidade, até porque o capitalismo não acredita em Deus e o dinheiro é a mola que move o mundo. Inserir os princípios doutrinários do espiritismo neste contexto corre sérios riscos de fracasso. Por outro lado, a comunicação do homem com outros seres falecidos está cada vez mais ganhando notoriedade, mesmo diante da falta de maiores elementos conceituais acerca da psicografia, mediunidade, vidência, etc.
Entendemos a REENCARNAÇÃO de uma forma objetiva: o homem nasce e, em função de vidas passadas pouco evoluídas, incorpora seu "chip" em uma nova pessoa a quem competirá prosseguir. Podemos ilustrar isto, considerando que nós não poderíamos aprender tudo que sabemos na escola formal. Muitas vezes, diante de crianças extremamente inteligentes, temos a impressão de que elas já nasceram sabidas demais. Certamente esse "chip" da existência anterior colocado nelas, proporciona a grande parte das crianças de hoje essa capacidade invejável de interagir em questões tão complexas do mundo moderno.
Deste modo, encarnar não seria voltar em outra pessoa, mas acoplar uma inteligência de vida passada. A espiritualidade utiliza da nossa linguagem porque senão ficaria difícil a comunicação social. Quando se diz que na espiritualidade maior existem "hospitais" para recuperar pessoas e prepará-las para retornar, utiliza-se do substantivo "hospital", posto que não temos condições de alcançar outra realidade diferente da nossa noutro plano espiritual.
A idéia da morte, para os cristãos católicos, é o fim da vida terrena. Quem morre, segundo o catolicismo, não volta. Aguarda a vinda de Jesus para julgar os vivos e os mortos, no conhecido juízo final. Para os espíritas, há uma passagem, não uma morte. Sendo todos caminheiros (a própria igreja católica se expressa assim), o "fim" da caminhada é como se fosse a passagem da vida material para a espiritual no cumprimento das "penas" que cada um for merecedor. Essa expressão "pagar débitos de vidas passadas" trava muito a compreensão. Mas o grande norte talvez seja na "injustiça" que é ver alguém sofrendo e termos que compreender a questão cármica disto. Contraditoriamente, a gente sabe que nossa evolução espiritual não se dá na calmaria, na paz sem custo. A expressão "valeu a pena" que tanto utilizamos é uma prova de que "tudo vale a pena se a alma não for pequena". O simples ato de viver é, por si só, um princípio composto de causas e efeitos extremamente purificadores da nossa "moral". A maturidade nos dá uma compreensão melhor da vida, do amor, das pessoas, exatamente porque muita vivência foi por nós transposta a custa de muitas dificuldades. De prazer e de felicidade também.
Temos a impressão de que, quanto mais evoluímos espiritualmente, menos ficamos ligados aos bens materiais. Não seria isto uma prévia da evolução? Os materialistas aguerridos têm sérias dificuldades, após a morte, de seguir o novo caminho e, não raro, "perambulam" um bom temp entre nós. Segundo os espíritas, carecem de doutrinação na terra, por centros espíritas sérios, no sentido de os ajudarem no desligamento terreno.
A REENCARNAÇÃO parece englobar vários níveis de conhecimento. Com certeza, compreender que a terra é um planeta de expiação e provas; que somos todos videntes; que sempre avocamos a intuição; que sempre queremos interpretar nossos sonhos; que há pessoas com mais brilho que outras; que há dias que nosso coração "aperta" como que nos dando "recados"; que há espíritos de luz, lei do retorno, etc., são fagulhas de luz em direção a nosa aceitação menos duvidosa da reencarnação.
A doutrina espírita não resvala idéias nem revida provocações. Ela tem evoluído aos poucos na mente de inúmeras pessoas no mundo todo. Talvez seu maior aliado seja mesmo o homem em sua dimensão de tormenta, insegurança, violência, ódio, inveja, dor, egoísmo e falta e amor. A grande maioria dos adeptos do espiritismo assim se constituiu em função da dor, da angústia, da solidão. Lá, nos centros espíritas,  buscam explicações para os dramas existenciais e, se não conseguirem em sua totalidade, pelo menos contaram com a LUZ no início do túnel.
Dificilmente alguém, na bonança, procura algum refúgio espiritual. Mas está muito claro que a gente não se livra de problemas e agruras da vida por si mesma. Neste contexto, elaboramos um conceito de felicidade calcado na "capacidade que temos que ter para administrar nossos problemas". Porque há um equívoco na compreensão das fases da vida, na medida em que se debita à velhice o ápice das dificuldades; como se jovem não morresse, nem tivesse problemas. As ilusões são mais perenes em algumas fases da vida, mas em todas elas há formas de cultivar essa "ilusão", posto que sem ela fica muito mais difícil a existência. Segundo Dom Hélder, "há pessoas que são como a cana: quanto mais moídas, trucidadas, só sabem dar doçura"... (Princípio espírita por um padre?)
Certamente que nosso Bispo alcançava os princípios da doutrina espírita, mesmo ficando no seu canto. Obediente ao Papa como sempre foi, jamais provocaria uma cisão em sua igreja, até mesmo porque sabia que "TUDO TEM SEU TEMPO"... 
A reencarnação está aí na boca do povo, porque o terceiro milênio enquanto ERA DO CONHECIMENTO não pode sublevar isto. Mas muita água terá que passar debaixo dessa ponte espiritual. Como a própria bíblia diz, há tempo pra tudo: "de colher e de plantar". Acrescento: entre colher e plantar existe o "SABER" e este, nem sempre nos é concedido como dádiva a não ser em função dos nossos merecimentos.