A TRINCHEIRA QUE NÃO SE RENDEU

Acaso pensais que podeis golpear uma mãe atacando covardemente seus filhos? Pensastes corretamente. Entretanto, o que não imagináveis é que uma mãe, mesmo ferida, combalida pelo golpe lancinante no âmago de seu peito reúne forças, depositadas sabe Deus onde, e parte em defesa de seu amado filho.

Dotada de uma gana, de uma garra e dessa força que só a mulher tem, fenômeno inexplicável no reino da razão, onde habita o medo,mas, explicável no mundo dos instintos , onde habitam sentimentos como sobrevivência e perpetuação da espécie, essa agonizante criatura vai à luta.

Ao sentir-se golpeada por celerados sedentos de sangue que ceifam a vida de seus amados filhos, essa humilde senhora, cuja única aspiração é SERVIR E PROTEGER, não pode se dar à possibilidade do quietismo e da inação ao ver sua criação ser dizimada.

Na longevidade de seus 175 anos muito bem vividos, respira fundo, abandona o sentimento de vingança, reúne os filhos mais velhos e expõe o grave risco que está ameaçando toda a prole. Pesadas baixas são infligidas a toda a família.

A situação não permite que o tempo se desfaça pelos dedos. Corpos caem. Estampidos são sentidos na calada da noite e friamente ouve-se a queda surda de uma vida. Jovens sonhadores como crianças fenecem na infinita busca do ideal. Interrompe-se abruptamente o sonho de criança embalado em intermináveis horas de vigília sob o zelo de tão estimada senhora que agora, atônita, busca forças nos próprios filhos para salva-los da procela cheia de furor. Por isso, semelhante a uma velha mãe agonizante lendo seu testamento, passa a cada um dos filhos presentes a orientação de como enfrentar as dificuldades que se avolumam.

Reunidos em família, permeados por sentimentos humanos, aqueles invencíveis próceres sentem o peso da responsabilidade e decidem empreender ações para que mais nenhum dos seus sejam vitimados por tão nefastos algozes. A certeza é que jamais podem esquecer-se de que suas ações devem ser isentas de sentimentos e sempre pautadas pelo ordenamento jurídico pregado pela Sábia Senhora.

Esqueceram-se apenas de que eram humanos. A emoção foi mais forte e, por um momento, se dão ao luxo de, na excelsa magnitude da firmeza, verterem lágrimas e abraçarem-se em um amplexo silencioso rompido apenas pelo langor monótono de uma gota solitária que teima em sair-lhes daqueles olhos marejados por uma fina lâmina d’água e marcados pela ação inexorável do tempo.A emoção forte de ver seus irmãos, às dezenas, inertes no solo frio da madrugada por ruas desertas desse imenso chão paulista retinto de sangue quase não lhes permite erguerem os olhos.

Aquela mãe, com o peito em chagas, mas com a candura e a serenidade de quem vive maternalmente os chama à razão. É hora de levantar a cabeça e ir à luta, afinal, “NÃO SE MANTÊM POSIÇÕES, CONQUISTAM-SE POSIÇÕES”. É preciso ousar para que nenhum outro se perca no longo caminho de sonhos.

Se pudésseis sentir a dor da perda e o vazio reinante naquelas almas, poderíeis compreender que a motivação para o serviço desses valorosos homens e mulheres transcende qualquer possibilidade de recompensa material para mergulhar no insondável mundo do sacerdócio que define como prova de amor maior a doação da vida pelo irmão.

Esses valorosos homens e mulheres são os bravos Legionários Paulistas que ostentam com galhardia o garboso uniforme outrora cáqui até o cinza-bandeirante. São homens e mulheres com endereço, família, fortaleza e fraqueza por serem humanos. E lutando incessantemente contra esse lado humano para que sobressaia apenas o sobre-humano, são apanhados sub-repticiamente pelos sentimentos próprios de humanos e sentem, equivocadamente, que falharam porque a emoção não pertence aos fortes. Esses bravos guerreiros choram, amam, sentem frio, fome e, por incrível que possa parecer, lamentam a perda de um ente querido.

São jovens sonhadores que zelam pela tranqüilidade de todos para que tantos sonhos se realizem e é na realização desses anônimos sonhos que se concretizam seus sonhos mais secretos.

Vede que essa HUMILDE SENHORA, aproximando-se dos dois séculos de existência e que atende pelo nome de POLÍCIA MILITAR, em momento algum da História se furtou nem se furtará ao compromisso de defesa da vida e das Instituições legalmente constituídas.

Essa briosa Corporação lamenta a perda de seus filhos, mas reconhece que é preciso continuar a missão e seguir adiante pelo curso da História. E quando pensardes que nada mais existe, quando imaginardes que todas as Instituições desapareceram, vereis, então, uma bandeira tremulando na imensidão do horizonte e nela a inscrição: POLÍCIA MILITAR, LEALDADE E CONSTÂNCIA.

Nesse preito de gratidão, rendo-me às palavras de Guilherme de Almeida para assegurar-vos de que a Polícia Militar do Estado de São Paulo é a trincheira que não se rendeu porque é maior do que qualquer crise, porque é eterna como é eterna a humanidade e continuará a missão até seu último integrante.

Neste momento cruciante da História só lhe resta um sentimento de posse, um único patrimônio: “NADA... A NÃO SER SÃO PAULO”.