AS NUVENS DO PRECONCEITO...

Como um certo Vulcão que tem obstruído o trânsito aéreo no continente Europeu, o preconceito também tem obstruído a mentalidade humana para a abertura universal da igualdade entre os homens de forma que todos possam enxergar os seres como filhos de um mesmo Pai. A discriminação e o racismo ainda andam como as nuves desse vulcão, impedindo que o mundo seja melhor e que os seres humanos valorizem o outrem com igualdade de condições.

Na semana passada vivenciamos a mídia divulgar que a Fifa, há menos de três meses para a Copa do Mundo, finalmente abriu as bilheterias para o povo Sul Africano comprar os ingressos para o maior evento esportivo do mundo que será realizado no seu próprio país. Alguns creditam essa faceta à questões meramente comerciais, até por razão de interesse do próprio povo do país sede da Copa do Mundo, eis que é a presença de estrangeiros durante os jogos que causará o efeito positivo na área econômica do país, já que a moeda estrangeira presente na economia local é que causará profundas mudanças nas relações internas da África do Sul lhe trazendo divisas e crescimento. Entretanto, para mim, transpareceu um fenômeno que, sinceramente, não achava que poderia acontecer, pois a falta de procura de ingressos pelos estrangeiros demonstra a máscara disfarçada do preconceito racial, já que os organismos de articulação da área comercial não conseguiram atrair os torcedores. Alguém se arriscaria a dizer que essa falta de interesse deve ser creditado à recente crise mundial? Eu não ficaria apenas com essa hipótese, já que é visível que o mundo ainda fecha os olhos para o problema do racismo e não passa desapercebido que muita gente não acredita na logística da África do Sul.

O triste dessa realidade é que captamos o problema de uma forma tão genérica que deixa a entender que os corações humanos ainda são maioria no problema da discriminação racial. Só um evento de tamanha grandeza, que se constitui numa avalanche de interesses financeiros, poderiam anunciar com tamanha precisão o quão as pessoas ainda estão fechadas para esse problema do racismo, que todos sabemos que evoluiu muito desde os primórdios da escravatura, mas continua sendo um divisor de águas no mundo globalizado, pois não vejo sentido nenhum deixar de ir à Copa do Mundo, apenas porque no país sede habita uma maioria de negros.

Não me parece também que essa constatação tenha ingredientes que denotem rejeição da América do Sul, pois aqui entre nós há uma grande miscigenação de raças, de tal forma que aprendemos a conviver amistosamente (e com respeito), com todos os seres de raças distintas, como negros, índios, brancos, mestiços, orientais etc. A mim parece que são os conhecidos "gringos" e europeus que estão fazendo 'vistas grossas' para a Copa do Mundo da África do Sul, até porque ainda são nesses continentes que existem certos ranços que ainda não se dissiparam completamente, já que ali ainda persistem uma população expressiva de "brancos leite" (de olhos azuis) que ainda 'curtem' a era em que o sangue não era vermelho. São os chamados 'sangues azuis' das épocas das aristocracias e dos senhores feudais, que ainda existem em grande escala nas sociedades dita de evoluídas no Terceiro Mundo. Não devemos olvidar, contudo, que tal 'encanto' de elites também foi idolatrado no Brasil em épocas remotas, graças a herança européia trazida com as Caravelas. Creio que conseguimos nos livrar dessa herança pouco produtiva como ingrediente humano, conquanto o boicote aos jogos da Copa do Mundo, levam-nos a descrer que essa evolução tenha sido significativa nos irmãos que estão do outro lado do Oceano.

Penso que tantas catástrofes que tem assolado o mundo e feito milhares de vítimas, causando holocaustos em algumas regiões sejam breves sinais de que o homem está marchando (na evolução humana) em 'passos de tartaruga' na seara das desigualdades humanas. Ouçamos o conselho filosófico que vem dos livros sagrados, de que quem não enxerga pelo amor, há de enxergar pela dor. É hora de fazermos grandes reflexões sobres as máscaras que se escondem dentro das nossas sociedades. Evitando que jogadores se sintam no direito de concluir um conflito dentro das quatro linhas fazendo seus desabafos com base em ranços de desigualdade racial, xingando seres humanos com a denominação de bichos irracionais. Isso, leva-me a pensar, até pouco tempo, que eram apenas alguns resquícios de mente racistas que ainda persistiam em perambular pelo mundo civilizado. Mas, infelizmente, vejo que aquilo que julguei ser exceção, não era uma estatística correta. O boicote à Copa do Mundo por ser realizada num país de maioria negra, é para mim um marco significativo na demonstração de que o mundo ainda é de maioria racista.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 19/04/2010
Reeditado em 19/04/2010
Código do texto: T2206116