LIXÃO É O MORRO OU O PAÍS
Vamos tomar fôlego e começar então. O morro veio abaixo em Niterói. Poderíamos culpar São Pedro, o que seria uma boa opção para as autoridades, já que ele não é passível de cobranças terrenas e ninguém encontra o gajo para que ele dê explicações públicas. Também poderíamos culpar os pobres coitados que invadiram áreas de risco, que construíram sobre um lixão, que não têm instrução, que não têm para onde ir e que não recebem ajuda. Poderíamos. Mas eles, realmente não têm culpa. A culpa é, sim, total, absoluta e incontestavelmente das autoridades, dos governos – federal, estadual e municipal -, das secretarias responsáveis pela gestão urbana e pela canalha que gere este país.
A Rede Globo apurou alguns fatos que, meus deus!, me deixaram maluco (a tal ponto de escrever este artigo – coisa que não é muito do meu feitio). Para começar, a maldita roubalheira e abuso, e uso, indevido do erário público. O ex-Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, repassou apenas 0,9% de todo o valor destinado pelo Governo Federal a ações de prevenções a desastres no país para o Rio de Janeiro. Eu disse 0,9%. Enquanto a Bahia, pasme!, recebeu quase 65% desse valor. Por que a Bahia? Ora, adivinhe... Porque é a terra natal do ilustríssimo Geddel, ex-Ministro e futuro candidato ao governo baiano.
Ah!, e o presidente Lula ainda chama de “leviandade” o pedido da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para que o Ministério Público investigue o caso. E ainda completou dizendo que quem ergueu essa lebre está fazendo “politicagem”. Quer dizer que não podemos achar mais nada agora? Que presumir que tem alguma coisa errada em 0,9% contra 65% é “leviandade” e “politicagem”? É de vomitar, ou não é?
Outra coisa: todo mundo sabia que aquela birosca daquele morro era um antigo lixão. Nem de aterro sanitário – desses que se dizem dentro das normas – podia se chamar aquilo. Era um simples amontoado de lixo onde casas foram construídas sobre. Daí vem alguém e fala: “É, mas foi o pessoal que invadiu.” O pessoal que invadiu? A meleca do morro tinha rua asfaltada, minha gente! Vai me dizer agora que um dos moradores da comunidade chegou lá com seus tratores, preparou o piche, desenhou o traçado e sapecou asfalto para melhor as condições de seus vizinhos? Mas que cara gente-boa, não é mesmo? Balela! A prefeitura ratificou o processo todo. Meteu asfalto, luz, água (se bobear até cobrava IPTU) e assinou o atestado de óbito daquele povo com antecedência.
Daí perguntam (também a Globo) ao atual prefeito de Niterói, que está em seu terceiro mandato (ou seja, já comandava a cidade quando as pessoas começaram a ir para aquele local), quanto custaria hoje para a prefeitura transferir as famílias que se encontram em área de risco. E ele responde: R$ 14 milhões. Acha muito? É uma ninharia. Para salvar vidas? Uma ninharia. Ainda mais quando se descobre que só uma torre, desenhada pelo Oscar Niemeyer – e que fará parte de um centro de cultura e lazer em Niterói – custará R$ 19 milhões aos cofres da cidade.
Eu podia elencar mais um monte de outras fraudes, roubos, desvios, descasos, disparidades, imprecauções, “politicagens”, “leviandades”, maracutaias, improbidades, desonestidades, incompetências, mas estou de saco cheio.