Os dois lados do pânico
Em Niterói, as pessoas já andam com medo de si mesmas. Em um momento de caos total e mortes acontecendo em áreas mais carentes, alguns cidadãos tentaram relevar um suposto arrastão pela cidade como um perigo extremo, num boato que se espalhou rapidamente. Alguns chegaram a afirmar também que, de início, era apenas uma manifestação de protesto de alguns cidadãos que moravam em áreas de risco. Os cidadãos que se encontravam fora das áreas de risco pareciam também querer ser vítimas, talvez como uma desculpa para a situação da cidade.
É o grande espetáculo que ronda o sensacionalismo, numa tentativa ferrenha de manter segura a classe social que menos precisa, quando os problemas sociais se expõem. Segundo parte da mídia, há também quem diga agora que as autoridades de Niterói poderiam ter evitado as últimas tragédias. Embora a questão seja mais complexa, a impressão é a de que o medo ao suposto arrastão paralisou a cidade, mudando o foco social em Niterói. Enquanto isso, a cidade se dividia entre o medo do desespero de quem sofre com o caos e o medo da “elite” de sofrer alguma conseqüência.