Qual o Preço Do Amor?
Quem já não se perguntou algo parecido ou quem já não se perguntou “qual o problema comigo”?
A primeira coisa que devemos fazer é pensar o que é amor e porque queremos achar um, porque queremos amar e principalmente ser amados. Aprendemos a falar porque estamos rodeados de pessoas que falam. Aprendemos a pensar porque ao longo de nossas vidas vemos pessoas que pensam serem consideradas inteligentes e por isso são admiradas de algum modo. Queremos vencer porque vemos desde criança que só os heróis são reconhecidos e recompensados. Queremos um amor porque vemos diariamente pessoas suspirando dizendo que estão amando e afirmando ser algo maravilhoso, assistimos aos filmes e novelas os relacionamentos sempre darem certo. Quando crianças, escutamos contos de fada cujo término é sempre o final feliz para sempre, porque a vida é dura, complicada de mais, bastantes problemas para ficar sem recompensas, o que seria injusto para todos nós. Ensinaram-nos e ainda nos ensinam por meio de músicas, textos, vídeos que a maior recompensa é o amor e se alguém disser que não acredita nele ou que não quer amar, é excluída do grupo e discriminada por passar a imagem de insensível ou de má. Com todos esses exemplos que ainda são poucos, ou melhor, dizermos fracos, podemos chegar a uma primeira conclusão: Todos nós aprendemos a querer um amor e todos nós queremos amar em troca de algo.
Pode parecer simples, porém, é mais complicado porque não basta saber que aprendemos isso ou queremos aquilo. Isso é um primeiro passo para refletirmos sobre nós mesmos.
Como disse Bakhtin, um dos maiores filósofos russos da linguagem, nenhum ato de fala é inocente. Então porque continuar ouvindo e acreditando cegamente em tudo o que a mídia vende?
Outro ponto importante que precisamos levar em conta é a imagem do amor. Todos nós queremos amar, mas não pode ser qualquer amado. Há uma imagem já pré-estabelecida, dita como a verdadeira beleza. Ninguém quer ser feio, isso seria a condenação à exclusão e em alguns casos, viver de pena. Todos querem ser belos, ora todas as histórias de amor que ouvimos nos contos de fada, nas novelas e nos filmes, os protagonistas são sempre o príncipe e a princesa. Eles possuem traços delicados, corpos definidos, força e quase sempre excelentes condições financeiras.
Não podemos ser hipócritas, é claro que beleza é fundamental, entretanto é preciso ver o “jogo” como se fosse xadrez. Beleza sempre acaba, às vezes cedo, às vezes tarde. Ao acompanhar outros blogs (principalmente de cunho sexual), sites de relacionamento, ora namoro, ora sexo casual, os casais, tanto heterossexuais quanto homossexuais, são extremamente bonitos: malhados com músculos saltados com veias pulsando, traços finos, pele sem nenhuma imperfeição, dentes branquíssimos e todos no seu devido lugar, até os modelos magros são malhados. (Chamamos atenção para uma palavra usada: modelo)
E porque essas imagens são usadas sem exceção? Porque a princesa sempre é delicada e o príncipe tem que ser forte para dar segurança e idéia de proteção e se houvesse fotos de pessoas normais significaria que quem usa o site são pessoas normais e isso seria a falência dos produtores do site, quase todos sonham com o príncipe. Queremos nos sentir seguros e dar segurança a quem está ao nosso lado.
Com mais um clichê vamos chegar ao nosso segundo degrau: o que seria do verde se todos gostassem do azul? O mesmo acontece com os homens, felizmente há pessoas para todos os gostos. Há pessoas que gostam dos gordinhos, dos magros, dos sarados, dos peludos, dos carecas, dos grandes, dos pequenos, dos grossos, dos finos, dos mais inteligentes, dos menos pensadores, dos brancos, dos negros, dos orientais, dos asiáticos, dos novos, dos mais experientes, dos mais recatados, dos mais liberais, dos inocentes, dos mais “bizarros”, etc.
Com isso parece que podemos resolver o problema, mas não nos deixemos enganar pelo caminho mais curto e fácil. Se há pessoas para todos os gostos, porque parece que eu não agrado a ninguém? Vamos ao outro problema. Seria muito fácil saber quem gosta da gente, porém há sempre aqueles que gostam, mas o fazem secretamente, e não basta alguém gostar de mim, é preciso que eu goste dele (a) (o meu físico pode agradar o outro, mas o físico do outro pode não me agradar), portanto, ficamos no mesmo lugar, esperando o príncipe encantado. Com o tempo, muitas pessoas vão aprendendo a lidar com isso e passam a valorizar o ser humano em si, porque as decepções com os príncipes são aprendizados.
Depois de entendermos melhor como algumas coisas acontecem, ou parecem ser programadas a acontecer, vamos levantar, neste parágrafo, os relacionamentos gays que ainda são violentamente discriminados com argumentos que são usados e copiados daqueles que visam um número maior de contribuições. Fator importantíssimo a ser exposto é o preconceito. Devido a ele muitos, muitos, muitos homossexuais não assumem sua posição e muitos deles não conseguem se assumir gerando profundos conflitos individuais e construir casamentos de fachada enganando-se e a todos ao redor. Por causa do medo do preconceito, da não aceitação ou incompreensão da família, amigos e tudo o que isso pode acarretar como falta de emprego, discriminação em atendimentos públicos, humilhações, etc muitos gays procuram a internet como instrumento para conhecer pessoas, uma vez que é quase impossível o fazer no dia-a-dia, na rua, ônibus, trem, metro. O cuidado para não desconfiarem é tanto que é perigoso arriscar insinuar qualquer coisa para alguém do mesmo sexo que te olha ou que parece não parar de te olhar, justamente por não saber se há alguma coisa acontecendo e causar um desconforto, um bate boca ou uma briga e claro acabar se expondo. Aqueles que já assumiram publicamente sofrem preconceitos da sociedade e chegam a sofrer de alguns outros homossexuais por serem mais afeminados ou mais corajosos.
Na internet, é fácil encontrar pessoas dizendo querer namorar sério, comunidades no Orkut, sites de relacionamento, e contraditoriamente é fácil encontrar pessoas que ainda continuam sozinhas. É tão comum conhecer pessoas, marcar encontros, conversar e quando parece que está tudo dando certo, o final é anunciado e quase nunca o motivo é falado verdadeiramente, tirando a chance do outro de saber e poder mudar aquilo que talvez possa estar errado. Também há pessoas que se aproximam alegando querer algo sério, mas na primeira oportunidade dizem querer ficar mais a vontade e depois do orgasmo, o sumiço. Há outras que querem mesmo tentar algo, mas não conseguem se dedicar ao um único tentar e junto a essa tentativa há outras três ou quarto. Algumas pessoas alegam não querer algo sério, ou alegam querer (nesse grupo podemos incluir boa parte daqueles citados anteriormente, que se aproximam dizendo coisas belas e somem depois do “objeto” conquistado), mas não tentam por medo do final do relacionamento, sofrem antecipadamente, antes mesmo de haver uma relação, isso é resultado de mentiras ditas. É muita responsabilidade mexer com os sentimentos alheios e claro todos nós sabemos que sempre haverá um início e um fim para todas as coisas e para todos.
Ressalto que nem todos aqueles que não querem se dedicar a uma relação séria e duradoura precisam de ajuda, talvez eles estejam mesmo certos com pensamentos tão maduros e à frente de sua geração que aos ouvidos dos alienados podem soar promíscuos, sem vergonha e vários outros adjetivos negativos relacionados a caráter.
Daqui do nosso terceiro degrau, podemos dizer que é preciso saber exatamente o que querer. Aqueles que dizem não querer nada sabem o que não querem ou não sabem nada, aqueles que querem tudo, definitivamente não sabem o que querem. A vida é feita de escolhas, e para cada uma há conseqüências, podemos escolher todos os sabores de sorvete para comer de uma vez só, mas teremos dor de barriga além de não podermos degustar, minuciosamente, o sabor de cada um. Podemos também escolher um de cada vez, mas é importante saber que não pode repetir os sabores, e uma hora você chegará ao último sabor, portanto, o melhor é tentar fazer o seu sorvete durar o maior tempo possível se você não quiser ter dor de barriga ou ficar sem nenhum sorvete.
Agora podemos ir ao que interessa no tema proposto, qual é o preço do amor. Com tantas descrições podemos afirmar que o amor tem seu preço, mas não é mais ou menos caro do que todos os preços que pagamos por cada escolha que fazemos. Cada um sabe de suas condições e esses preços serão mais altos aos olhos de alguns do que de outros.
O primeiro preço é quebrar suas próprias correntes e estar aberto para novas opiniões e saber que as suas mudarão com o tempo e que você ajudará a mudar as de outros. A palavra amor na pergunta poderia ser substituída por relacionamento (amor é muito abstrato).
O segundo preço é aceitar as pessoas como pessoas e não como objetos de desejo. Há pessoas que são lindas e, no entanto, são vazias, há pessoas que ao primeiro ver não nos chamam atenção, mas depois de algum tempo passam a ser belas. É preciso aceitar que a beleza vendida pela mídia é um produto que visa lucrar de alguma forma. Se estiver disposto a fazer sacrifícios para se enquadrar a essa beleza, sinta-se a vontade e não tem porque se envergonhar ou ter culpa e como resultado você será desejado e melhorará sua estima e com isso sua saúde, mas lembre-se que a escolha é sua e não tem o direito de exigir o mesmo dos outros.
O terceiro é importantíssimo, a fidelidade o que é muito diferente de liberdade e nada tem a ver com ela. Ser fiel não é perder a liberdade, porém, cada um enxerga a liberdade de modos diferentes. Aqueles que não sabem como usar sua liberdade são os menos afortunados. Continuar fazendo coisas que gostamos como jogar bola, sair com amigos não é deixar de ser fiel. Tentar controlar e proibir o parceiro (a) é ignorância, baixa-estima, carência é ser uma pessoa cheia de conflitos e complexos. Uma relação é composta por duas pessoas, cada uma com sua história, sua trajetória, suas opiniões, seus sonhos e para que haja relação as duas precisam se doar e se conter e se ajudarem a realizar seus sonhos. Nenhum sonho é melhor do que outro ou mais importante, quem assim achar terminará frustrado, para realizá-los precisamos de ajuda.
O quarto preço é ter coragem de investir em uma relação, sem o medo do final e saber que para tal os outros relacionamentos casuais terão que ser terminados e deixados de lado, mas para isso é necessário honestidade. Ficar com uma pessoa durante um mês e depois terminar alegando que mudou a forma de gostar, que passou a gostar como amigo ou irmão é escolher outro sorvete achando que dessa forma sua honestidade não será afetada.
Querer um terceiro elemento na relação não é falta de caráter e nem falta de fidelidade, apenas nas relações ultra-maduras isso talvez possa dar certo, porque relações maduras são sustentadas em companheirismo, lealdade, fidelidade, honestidade. Realizar fantasias é normal e junto ao parceiro (a) entrarão em acordos e juntos saberão dos riscos que algumas fantasias podem trazer e aceitar o “não” caso o companheiro não queira realizá-la é fundamental. E para haver uma relação liberal todos os outros elementos precisam estar de acordo (lembramos que nesse tipo relacionamento a tendência é os elementos formarem duplas e se desligarem da relação liberal).
Alguns de nossos atos, não passam de vícios e todos os vícios podem ser vencidos, desde que tenhamos força e metas.
São necessários sacrifícios de ambas as partes para manter um relacionamento. Sacrificar-se demais não é saudável e é sinal de algo está errado. Nós, quase sempre, sabemos se alguém gosta mesmo da gente ou não e não vale à pena fingir que não estamos vendo.
Construir e manter um relacionamento são tarefas simples, porém não são fáceis. Todos os casais sejam eles quais forem, entram em conflitos e se desentendem sem interferir no amor que um tem pelo outro – desde que as brigas não sejam constantes e que ninguém seja cruel no momento de raiva. Gostar de alguém não é motivo de vergonha e se não gostarmos nem devemos tentar relacionamento algum. Se quisermos apenas relacionamentos casuais que joguemos limpo e estejamos preparados para enfrentar os “nãos”. Dependendo dos argumentos até os mais “santinhos” aceitarão.
Lembrem-se, toda e qualquer ação tem uma reação e tudo o que damos recebemos de volta.