A HORA E A VEZ DA VIDA (A UTOPIA DA UTOPIA).

A HORA E A VEZ DA VIDA (A UTOPIA DA UTOPIA).

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA

Estamos num momento crucial da Sociedade Humana, onde todas as preocupações relacionam-se ao Poder Econômico que alguns países exercem sobre outros. Nós, Terceiro-mundistas, fazemos parte dessa esmagadora maioria de humanos que está sendo massacrada pela minoria, apenas e tão somente, porque passamos a acreditar, como querem os países ricos, que dinheiro é fundamental e tem grande valor. Como estamos enganados! Aliás, todo mundo está muito enganado. Dinheiro não vale e não serve para nada, ou melhor, dinheiro é algo fictício e que, por isso mesmo, nem deveria existir. O que existem são as coisas (recursos naturais) e somente elas é que podem e devem ter valor.

Entendemos tudo errado, pois tiramos o valor das coisas e atribuímos valor ao dinheiro. O valor de cada coisa é intrínseco e vale exatamente o quanto tem que valer. Não é barato e nem é caro, é apenas e tão somente o “valor real”, aquele que representa a coisa em si. Esse valor só deve estar relacionado a uma única característica, que é a necessidade maior ou menor da coisa em questão, independente da sua raridade ou de qualquer dificuldade de encontrá-la. Isto é, o grau de utilidade e a importância fundamental da coisa é que dizem sobre o seu “valor real”. Quanto mais necessária, mais premente e mais vital for a coisa em questão, consequentemente mais importante ela será e assim seu “valor real” e intrínseco será maior.

Não é necessário rotular essas coisas com preços impressos, pois na verdade elas não têm preços, elas têm que ter valor, porque são vitais, mas não podem custar absolutamente nada, pois estão aí no planeta, são frutos da natureza e a natureza não tem dono, ela é de todos os organismos vivos, humanos ou não. Parece incrível, mas em dado momento, cada uma das coisas que existem e é possível pensar no que se quiser, ou seja, todas as coisas, sem nenhuma exceção, são efetivamente vitais e fundamentais e, por isso mesmo, não podem ter preço estabelecido em hipótese nenhuma e também não podem ser propriedade de ninguém.

Entretanto, como fazer toda a Sociedade Humana Moderna perceber esse fato, se historicamente quase sempre vivemos em função do poder econômico e do dinheiro? Não podemos simplesmente acabar com o dinheiro e com as nossas regras de compra e venda (comércio) das coisas. Precisamos, efetivamente, do dinheiro como modelo que simboliza as compras, ou melhor, os objetos de troca. No entanto, eu pergunto: por que "dinheiros", sejam eles quais forem, devem ser diferentes, ou melhor, devem ter valores diferentes, se o valor das coisas é sempre o mesmo?

Em minha maneira de entender, se a Sociedade Humana Moderna quisesse realmente viver em paz, bastaria existir uma só moeda, o "UNIVERSAL", que valeria a mesma coisa e que teria o mesmo poder de compra em qualquer lugar do mundo. O enriquecimento, isto é, o acúmulo de "UNIVERSAIS" seria maior ou menor em função exclusiva dos valores das coisas mais importantes e mais essenciais (vitais) que se possuísse. Não se pode, por exemplo, comparar a necessidade genérica de comer, mas certamente é possível comparar o quê ou o quanto comer. Nesse momento, nós acabamos de passar do essencial ao supérfluo e apenas esses últimos, os supérfluos (não vitais) devem ser fontes de gastos de "UNIVERSAIS", pois não são essenciais.

Nesse caso, estaríamos valorizando o dinheiro pelo dinheiro, isto é, o supérfluo pelo supérfluo e o essencial pelo essencial. Em suma a coisa pela coisa e o valor pelo valor. Sendo assim, o custo do dinheiro em si não existiria e as coisas só teriam de fato o valor que elas têm que ter, isto é, o “valor real”.

Mas, alguém perguntaria: Como resolver operacionalmente essa questão? Ou melhor, como operar um mundo sem dinheiro?

Essa questão é muito fácil de ser respondida, basta voltarmos ao modelo antigo dos mercados de trocas. Vamos reinventar o escambo, trocando as necessidades, que obviamente seriam bastante baratas, pois só poderiam ser trocadas por outras necessidades e os supérfluos, que têm que ser muito caros, pois seriam estritamente trocados por outros supérfluos. Duvido muito, que nesse tipo de Sociedade alguém fizesse questão de guardar supérfluos e muito menos de negociá-los a troco de pesadas quantidades de "UNIVERSAIS".

É claro que esta minha utopia passa também por outras questões. Por exemplo, como ficariam os países e suas respectivas balanças comerciais? Como ficariam as invidualidades políticas dos países? O que aconteceria com a atual divisão econômica do mundo? Palavras como pobreza e riqueza precisariam ser redefinidas e reconceituadas e o resultado dessas novas definições, certamente, traria novos conceitos e mudaria significativamente a feição econômica do mundo. Possivelmente, alguns países hoje tidos como pobres passassem a ser considerados ricos e vice-versa. Na verdade, o próprio conceito de país, de unidade geo-política, deveria ser mudado para unidade "geo-cultural" ou "geo-climática" ou ainda, mais precisamente, "geo-ambiental", pois as necessidades que existem estão principalmente relacionadas ao ambiente em que se vive.

Por outro lado, teríamos na realidade uma grande nação chamada Terra, onde todos nós, de alguma maneira, estaríamos sendo realmente importantes para todos os demais. Todos nós estaríamos utilizando recursos e elaborando produtos (necessidades) quaisquer em dado momento, os quais seriam úteis para toda população humana do planeta, ainda que possa não ser necessariamente utilizado por todos. Desta forma, haveria pouco tempo para nos preocuparmos com os supérfluos, ou talvez, se a nossa Sociedade se estabilizasse dentro de suas necessidades, pudéssemos a partir de certo instante, até cuidar mais dos supérfluos. Mas, essa é outra história e isso fica para outra discussão.

O planeta Terra e todas as demais criaturas que nele habitam, por sua vez, passariam a ser tratados como merecem, com um pouco mais de respeito. As extrações desmedidas e descabidas de recursos biológicos e minerais, que visam, exclusivamente, o lucro financeiro, bem como a destruição e a degradação, advindas das explorações desses recursos diminuiriam gradativamente. Os recursos naturais seriam utilizados dentro dos limites da necessidade das populações, com isso não haveria mais explorações desnecessárias e degradações sem sentido. Assim, a sustentabilidade tão sonhada seria um fato natural e as populações vindouras teriam suas respectivas sobrevivências garantidas.

Por outro lado, novas tecnologias, talvez pudessem propiciar mecanismos que permitissem a recuperação das áreas anteriormente degradadas no interesse de todos. Além disso, a reciclagem e o reaproveitamento de todos os materiais possíveis levariam o planeta a poder se manter vivo por muito mais tempo do que hoje se pode imaginar.

Meus amigos, essa é minha utopia, mas eu gostaria de poder acreditar que ela fosse possível. Quem sabe não era só isso que estava faltando: "alguém muito louco para dar o pontapé inicial". Agora é só os poderosos também acreditarem e acharem que essa utopia pode ser viável para que possamos começar a partida o mais rápido possível, haja vista que o planeta precisa e espera que façamos algo.

Então, vamos ao jogo?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (53) é Biólogo, Professor, Escritor e Ambientalista;

Membro Efetivo da Academia Caçapavense de Letras; foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.

(Artigo escrito em junho de 2001 e anteriormente publicado no site www.fatea.br, modificado e atualizado pelo autor para esta publicação.)